10 de fevereiro de 2013

9. NÃO DIRÁS FALSO TESTEMUNHO CONTRA O TEU PRÓXIMO

DOS DEZ MANDAMENTOS, o mais fácil de ser violado é o nono: "Não dirás falso testemunho contra o teu próximo."

1) Uma razão para isto é que o que mais fazemos em nossas conversas é falar sobre as outras pessoas.
Quem tem a mente avançada fala de idéias; quem a tem num nível mediano fala sobre fatos e os de mente mesquinha falam dos outros. A maioria das pessoas nunca desenvolve muito a mente.
2) Outra razão que nos leva à maledicência é que ela alimenta nosso orgulho. Parece que, se conseguirmos tirar um pouco da "glória" de outrem, isso diminui um pouco o deslustre de nossas próprias falhas. Uma pessoa que vive sempre mencionando as faltas dos outros dá demonstrações de possuir complexo de inferioridade. Grande parte das intrigas também é causada por ciúmes.
Apesar de tudo isso, quase ninguém se sente culpado de transgredir este mandamento. Já falei com pessoas que me confessaram terem quebrado todos os mandamentos, menos este. Nunca ouvi ninguém reconhecer que haja cometido o pecado da maledicência.
Dizemos: "Eu não queria falar mal dele, mas..." e vamos por aí. Assumimos uma presunçosa atitude de justiceiros que julgamos nos dar o direito de condenar o pecado. Nós gostamos de ficar falando dos pecados de outrem, e, ao mesmo tempo, indiretamente, estamos nos gabando de não ter cometido aquele pecado.
Às vezes, a crítica toma uma forma de falsa solicitude. "Não é horrível o modo como o Sr. João bate na mulher? Sinto tanta pena dela."
Ou, às vezes, vem na forma de uma pergunta sutil. "É verdade mesmo que o casal X está às portas da separação?" Este é o método do diabo. Ele não acusou Jó de nada; ele apenas indaga: "Porventura Jó debalde teme a Deus?" (Jó 1:6) A pergunta em si já faz uma insinuação acerca da sinceridade de Jó.
3) Outra maneira de alimentarmos a maledicência é ouvi-la. Não é possível haver um ruído a não ser que haja um ouvido para escutá-lo. O som é produzido pelas vibrações do nosso tímpano. Do mesmo jeito, nem uma só palavra de boato poderá ser passada adiante se não houver um ouvido pronto para recebê-la.
A lei do país prescreve que o receptador de mercadoria roubada é tão culpado quanto o ladrão. Quem ouve o relato dos erros de outrem, na realidade, está sendo grandemente insultado, pois o caluniador está julgando, não apenas o caluniado, mas o que ouve também. Se alguém nos conta uma anedota picante, isto por si só já indica que a pessoa julga que nós estamos interessados em pornografia. Se alguém nos relata os pecados de outrem, a opinião dessa pessoa é que nós estamos interessados em saber tal coisa. Na verdade, isto é um insulto.
Geralmente, ninguém tem intenção de prejudicar aqueles de quem fala mal. Pensamos nisto mais como um passatempo inofensivo. Lembremo-nos, porém, das palavras do Senhor: "Não julgueis, para que não sejais julgados. Pois com o critério com que julgardes, sereis julgados; e com a medida com que tiverdes medido vos medirão também." (Mat. 7:1, 2.) Esta afirmação me assusta um pouco. Compele-me a orar. Eu desejo que Deus seja mais magnânimo comigo do que tenho sido para com os outros. E você?
Disse Will Rogers: "Viva de tal maneira que não tema vender o papagaio da família para o maior boateiro da cidade." Este conselho é muito sábio mas receio que a maioria das pessoas não viva deste modo. Por isso, seria bom recordar-nos da sabedoria de um verso antigo que diz:
Há tanto de bom no pior dos homens
E tão grande parcela de mal no melhor deles,
Que não fica bem para os melhores
falar qualquer coisa dos piores.
Uma tradução moderna das palavras de Cristo em Mateus 7:5, seria assim: "Hipócrita, tira primeiro este caibro de diante de teus olhos, e depois poderás enxergar direito para retirar a farpa do olho de teu irmão."
Sempre que penso no nono mandamento, recordo-me de uma história que Pierre Van Paassen narra em seu livro The Days of Our Years (Os dias de nossos anos). Já vi esta história registrada muitas vezes, mas gostaria de revivê-la aqui rapidamente.
Num certo lugar vivia um corcunda de nome Ugolin. Certa vez ele caiu muito doente. Não tinha pai e sua mãe era alcoólatra. Mas possuía uma irmã de rara beleza, chamada Solange. Como esta gostasse muito do irmão e não conseguisse dinheiro para comprar-lhe medicamentos, decidiu prostituir-se.
Mas o povo do lugar tanto falou, que Ugolin se atirou ao rio e afogou-se. A infeliz moça também suicidou-se com um tiro. Ao culto fúnebre dos dois irmãos, compareceram inúmeras pessoas. O pastor subiu ao púlpito e disse o seguinte:
"Cristãos, (e essa palavra soou como uma chicotada), quando o Senhor da vida e da morte, no dia do julgamento, me perguntar: 'Onde estão tuas ovelhas?' eu me calarei. Quando ele perguntar pela segunda vez: 'Onde estão tuas ovelhas?' ainda continuarei mudo. Quando indagar pela terceira vez: "Onde estão tuas ovelhas?" deixarei pender a cabeça e responderei envergonhado: 'Não eram ovelhas, Senhor. Era uma matilha de lobos'."
Recentemente, eu disse num sermão que o homem que fala do pecado de outrem é pior do que o que cometeu o pecado. Foi uma afirmação um tanto extremada, feita num momento impensado. Não estou certo de que seja verdadeira. Todavia, não tenho muita certeza de que esteja totalmente errada.
Que acha você? Antes de responder, abra a Bíblia em:
Gênesis 9:20-27. Aqui lemos o relato de como Noé se embebedou.
Noé era um pregador. Embebedar-se é vergonhoso para qualquer pessoa, mas para um homem que usa o manto do profeta é duplamente vergonhoso. Noé deitou-se em sua tenda completamente nu. Pouco depois, entrou seu filho Cão. Viu o pai naquele estado e saiu para contar aos irmãos. Os outros dois filhos de Noé – Sem e Jafé – decidiram não olhar o pai. Entraram na tenda de costas e jogaram uma capa sobre ele.
Muitos séculos depois, quando o autor da carta aos hebreus escreveu sobre os grandes heróis da fé, ele falou da obra de Noé, mas ignorou essa falha (Heb. 11:7). Sem dúvida, Deus também a esqueceu. Sem e Jafé foram grandemente abençoados por Deus e prosperaram. No entanto, a descendência de Cão, o filho que viu e divulgou a nudez do pai, foi amaldiçoada e condenada à condição de serva. Talvez que, no final das contas, o que comete o pecado acabe em melhor situação do que o que fala dele.
Certo garoto era considerado o terror da vizinhança. Tudo que acontecia de errado era atribuído a ele. E ele levava suas chicotadas na escola sem reclamar, e sem chorar também. Um dia, foi para a escola um novo professor, e logo que surgiu um problema, todos puseram a culpa no menino. Este esperava receber a punição imediatamente, mas em vez de castigá-lo o professor falou: "Agora o Joãozinho vai contar sua versão dos fatos."
Para espanto geral, o menino começou a chorar. Quando o professor lhe perguntou por que chorava, ele respondeu: "É a primeira vez que alguém diz que eu posso contar o que houve."
Um de meus versículos é: "Irmãos, se alguém for surpreendido nalguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi-o, com o espírito de brandura; e guarda-te para que não sejas também tentado." (Gál. 6:l.)