31 de março de 2010

ORAR É SABER ESCUTAR

“Então clamarás, e o Senhor te responderá; gritarás, e ele dirá: Eis-me aqui; se tirares do meio de ti o jugo, o estender do dedo, e o falar vaidade.” Isaías 58:9

Repetidas vezes a Bíblia Sagrada regista o apelo de Deus clamando: “Escuta ó Israel!” Se é verdade que a oração é falar com Deus, não é menos verdade que orar é escutar. E se na nossa vida espiritual acontecem, infelizmente, tantos fracassos, deve-se essencialmente ao facto de sermos nós a tomarmos as iniciativas sem procurarmos com sinceridade de coração ouvir Deus.

Em 1989, quando Michael Chang vencia o torneio de ténis de Roland Garros, dizia perante as câmaras da televisão sem a mínima relutância: “Todo o mérito do que me acontece pertence a Jesus Cristo. Confio n’Ele em todas as coisas. Todos os dias oro e leio a Bíblia. Depois, procuro seguir a Sua voz!”

Que testemunho extraordinário de um jovem que ama Jesus e procura escutar Deus na oração e na leitura da Sua Palavra. Realmente, é espantoso o testemunho de calma e de ética que ele dá perante todos os seus adversários. Certamente nem sempre o seu estado de espírito é condizente com o seu comportamento equilibrado, mas ele procura seguir os conselhos da Voz de Deus. Isso é o mais importante, não ele, mas Cristo nele.

Escutar Deus é dar mais importância àquilo que Ele tem a dizer do que ao que nós dizemos. Um princípio do bom ouvinte é saber colocar de parte todas as afirmações e súplicas, todas as tristezas e lamentos, para se concentrar n’Aquele que tem a resposta e a solução do problema.

Não há oração se não houver adoração, e como pode uma oração ser verdadeiramente um acto de adoração, se não for antes um acto de escuta?

Escutar Quem Ele é, estar consciente da Sua divindade, e de que Ele é o Soberano do Universo, o Deus Todo Poderoso, Omnisciente e Omnipresente e, particularmente, que é nosso Pai!

O erro mais frequente na oração é, sem dúvida, estarmos tão preocupados com o que dizemos, concentramo-nos de tal maneira em nós, no que nos preocupa, que nos esquecemos a Quem estamos a falar. E quando isto acontece, não há oração mas monólogo. Isto é, falamos para nós próprios, a nossa oração não passa do espaço que nos permite a escuta do que dizemos, por isso ela não atinge o Trono de Deus, porque não é n’Ele que estamos projectados, mas em nós.

Não significa isto que a oração pronunciada nestas condições não revele sinceridade e emoção, lágrimas até, mas falta-lhe a convicção, a visão. Concentramo-nos no que nos provoca o sofrimento, mas não no Senhor que o cura. Satanás regozija-se com esta situação.

Fixemos o nosso pensamento nas seguintes palavras do Senhor Jesus, pronunciadas na Sinagoga de Nazaré: “O Espírito do Senhor é sobre mim, pois que me ungiu para evangelizar os pobres, e enviou-me a curar os quebrantados do coração.” Lucas 4:18.

Não são os sofrimentos físicos os mais difíceis de suportar, mas os sofrimentos alojados no coração, na alma, na consciência. Esses dão origem a muitas doenças psicossomáticas e em muitos casos só Jesus é realmente a solução. Mas a solução passa por saber escutá-l’O. Por isso devemos terminar este momento de reflexão pronunciando o Nome do que cura. O apóstolo Paulo diz: “Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem.” I Timóteo 3:5.

ORAR SEM SER INDELICADO

“Sabendo que, se o nosso coração nos condena, maior é Deus que os nossos corações, e conhece todas as coisas.” I João 3:20.

Há um ditado antigo que diz: “Nós pedimos a Deus o que nos agrada, mas Ele dá o que necessitamos.”

Talvez seja por esta razão que não corremos com tanta pressa para os pés do Senhor. Ou talvez a razão seja mais profunda! Isto é, o facto da nossa consciência trazer à superfície aquilo que nós pretendemos que se mantenha no fundo.

Pode acontecer que, ao abrir o coração a Deus como a um amigo, surjam confidências, desabafos, que nos tornam conscientes daquilo que em nós não suporta o olhar do Senhor.

Lembram-se daquela noite em que Jesus foi conduzido a casa de Caifás, para ser julgado? Pedro seguia-O de longe e misturou-se com os criados no pátio à volta da fogueira. De repente uma criada olhou para ele e disse: “Tu também estavas com Jesus, o galileu. Mas ele negou diante de todos. Negou uma vez, duas e não há duas sem três. Começou mesmo a praguejar. Desta forma identifica-se com os indiferentes, com aqueles a quem importava apenas o comer e o beber. Se Jesus é inocente ou não, se Jesus é o Filho de Deus ou não, não faz nenhuma diferença. Desde que se tenha o agrado e a simpatia dos ricos e poderosos!

Quando Jesus saiu do julgamento, mal tratado, sangrando, olhou para Pedro. Não para o condenar, mas aquele olhar penetrou até ao fundo da alma do discípulo e trouxe à superfície o lodo que ainda estava depositado no fundo: o orgulho, o desejo de ser o primeiro, de ser um dirigente de Israel.

Pedro não renegou aquele olhar. Saiu dali, e humilhou-se diante de Deus. Permitiu que a escória fosse queimada pela “brasa viva do altar de Deus”, e foi purificado, perdoado, tornou-se uma nova pessoa.

Se nas nossas orações alguma coisa menos positiva vem à superfície, que isso não seja um pretexto para sermos indelicados com Deus, mas que seja a nossa oportunidade de a transferir, permitir que ela seja iluminada pelo Espírito Santo e queimada.

Já pensou no que vem à superfície da sua consciência quando se apresenta diante de Deus?

Pode ser o desgosto por não ser mais fiel e não viver uma maior consagração. Pode ser uma consciência que sente a culpa. Temos, nestas alturas, a tendência de Adão e Eva de em vez de nos expormos confiantemente, fugirmos, escondermo-nos. Ora Deus veio ao nosso encontro, tal como veio ao encontro dos nossos primeiros pais: “Adão, onde estás?” A resposta foi uma quantidade de desculpas indelicadas.

As desculpas indelicadas podem até nem ser provocadas por grandes falhas, mas se não forem expostas a Jesus, transformam-se em remorsos. Atingem o nosso psíquico e isso abate-nos, destrói-nos, perdemos o sentido da presença e do amor de Deus, entramos nas trevas como Judas. Pode ser um caminho sem retorno. “Sabendo que, se o nosso coração nos condena, (podemos) confiar em Deus.” Ele não condena. Jesus disse: “Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus.” Mateus 5:8.

Orar é, pois, deixar encontrar-se por Deus onde e quando Ele quiser. Agora! Deixe o Espírito entrar suavemente no coração e curá-lo, limpar a lágrima, a solidão e revitalizar as fontes da vida. Então, viva a paz!

28 de março de 2010

SABER FICAR EM SILÊNCIO

“Portanto, como diz o Espírito Santo, se ouvirdes, hoje, a Sua voz, não endureçais os vossos corações, como na provocação, no dia da tentação no deserto.” Hebreus 3:7, 8.
Talvez venha a propósito citar o pensamento que diz: “Façamos silêncio a fim de podermos ouvir o sussurro de Deus.” R. Emerson
Na Epístola do apóstolo Paulo aos Hebreus encontramos três vezes esta frase: “...se ouvirdes hoje a Sua voz, não endureçais os vossos corações.” É lógico qualquer filho ou filha de Deus perguntar: “Pode o coração do crente endurecer-se à voz de Deus?”
Penso que infelizmente são muitas as vezes em que deixamos endurecer o nosso próprio coração. E isto pode acontecer sem que da nossa parte haja essa vontade, mas levados pelo ritmo apressado do corre-corre da vida, impedimos que o nosso coração deixe de bater ao ritmo da vontade de Deus.
E, endurecidos, começamos por antecipar as preocupações do dia de amanhã e a ruminar acontecimentos do nosso passado. E perdemos a capacidade de perguntar ao Senhor:
• Qual é a Tua vontade para mim hoje?
• Senhor, que pretendes de mim neste lugar?
• Tens alguma mensagem para mim neste dia?
• Dá-me o discernimento para Te ouvir e Te representar junto de alguém hoje!
A verdade é que temos permitido que as semanas, os meses e os anos passem, vivendo a nossa vida como os sonâmbulos.
Tenho um irmão que quando tinha 7 ou 8 anos era sonâmbulo. Levantava-se enquanto dormia, estendia os braços, olhos fechados e caminhava direito até bater contra qualquer coisa. Então despertava e voltava para a cama.
“E tornou o anjo que falava comigo, e me despertou, como a um homem que é despertado do seu sono.” Zacarias 4:1
Se o nosso coração não está endurecido, então é porque está adormecido. Nesse caso precisamos que o anjo do Senhor nos desperte tal como despertou Zacarias para que ele fosse o sentinela, com a função de despertar o povo que vivia indiferente, apesar de cativo.
Também nós, individualmente e como igreja, precisamos de ser sacudidos do nosso sonambulismo para compreendermos a solenidade do tempo em que vivemos.
Alguém disse que o tempo é um presente de Deus. É um presente que deve ser aproveitado hoje para hoje, tal como o maná que era recolhido cada dia na porção necessária. Somos também chamados a gerir, cada dia, o tempo como maná de Deus para nos alimentarmos da Palavra de Deus e com ela alimentarmos a nossa família, e todos quantos o Senhor coloca na nossa esfera de acção.
“Toda a gente se queixa de não ter tempo suficiente. E isto porque olha a vida só com os olhos humanos. Porque se quisermos, há sempre tempo para fazer o que Deus nos dá a fazer.” Michel Quoist

27 de março de 2010

APRENDER A TOLERAR

“Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz.” I Pedro 2:9
Inúmeras vezes tenho pensado por que razão tenho atitudes que ferem os que me são mais queridos, a minha família, os meus amigos, colegas e até os membros da minha igreja, aqueles com quem desejo viver por toda a eternidade?
Claro que encontramos sempre uma explicação mais ou menos plausível. Vivemos sob um grande stress, o trabalho, a vida da casa, o sentimento de que não somos amados ou compreendidos. Tudo isto é verdade, e são razões para perdemos a nossa natural capacidade de tolerar, com paciência e compreensão, certas atitudes, palavras, gestos que ofendem o nosso ser interior.
Mas será que são só estas as razões que estão na base de termos perdido ou estarmos em vias de perder a capacidade de tolerar?
Estou convencido que depois desta última pergunta, pensou: “Pouca leitura da Bíblia, pouca oração, pouco trabalho missionário.” É evidente que sem a leitura natural e desejada da Bíblia e da oração, não teremos grande força interior.
No entanto, estou convencido de que podemos ler a Bíblia todos os dias e orar intensamente sem que daí advenha efeito duradouro. Porquê? Porque não permitimos que o Espírito Santo leve o poder da Palavra de Deus e o bálsamo da oração ao nosso santuário interior, à sede dos nossos pensamentos, das nossas recordações e nos cure. Sim, precisamos de ser curados interiormente.
Curados de quê ?
De recordações da nossa infância e que nos fazem sofrer. Talvez tenha sido uma palavra proferida pelo nosso pai, ou mãe, por uma pessoa de família, ou até por um professor. Foi qualquer coisa que nos feriu. Essa ferida nunca cicatrizou, não está verdadeiramente curada.
Por essa razão temos pouca capacidade de tolerar... não fomos compreendidos, fomos postos de lado. Vimos um irmão ou irmã ser acarinhado, beijado, estimulado, mas a nós deram-nos um tratamento diferente, que nos magoou e continua a fazer mal.
E é esta passagem da Palavra Santa que nos vem dizer “vós”, quer dizer; cada um de nós, eu, tu. Somos raça de Deus, somos “geração eleita”, escolhidos, chamados, queridos, desejados pelo nosso querido e amado Pai Celestial.
O Senhor decidiu que tenhamos vida e que vivamos com um objectivo preciso. Ele tem um plano para cada um de nós, e esse plano passa por manifestarmos o Seu amor a todos aqueles que estão ao nosso redor – pai, mãe, filho, filha, irmãos na fé, pessoas com quem nos relacionamos. Deus deseja que sejamos pessoas transformadas, isto é: curadas.
Mas isto só é possível se aceitarmos profunda e sinceramente, que antes do nosso nascimento estávamos já no pensamento de Deus. Somos seres únicos para Ele. Não somos a cópia de ninguém. Seremos semelhantes a Cristo.

ENTRAR NA PAZ

“E ele lhe disse: Vai em paz. E foi-se dele a uma pequena distância.” II Reis 5:19.
“A paz é muito mais do que a ausência da guerra. Ela define o estado do homem que vive em harmonia com Deus, consigo mesmo e com os outros.” Anónimo.
A vida traz-nos muitas feridas, complexos e sofrimentos que só Jesus pode curar.
A missão do Espírito Santo no processo da santificação é tornar-nos semelhantes a Cristo, formar em nós um carácter digno de herdar a vida eterna. Para que o crente atinja este estado de santificação necessita de um remédio santo. “Santifica-os na Verdade; a Tua Palavra é a Verdade.” João 17:17
A Palavra de Deus lida e meditada em sossego, traz à superfície da nossa consciência feridas, complexos e sofrimentos não só recentes, mas também antigos. Isto não é obra do acaso, mas obra do Espírito Santo. Passamos nesses momentos por um acto da nossa vontade de deixar que Jesus Cristo cure, limpe esse sofrimento, da mesma maneira que um cirurgião limpa o tumor que provoca dor e desequilíbrio no nosso organismo. Também o Médico divino quer retirar esse cancro que provoca desequilíbrios desagradáveis na nossa personalidade cristã e não nos deixa ter a certeza da salvação pelos méritos de Cristo.
Gosto de ler os capítulos do livro de Josué que nos falam da conquista da Terra Prometida. Deus tinha prometido esta terra, a Canaã, aos Israelitas. No entanto ao ler Josué, vemos as lutas que o povo de Israel teve que travar para conquistar esta terra; vitórias e fracassos.
O mesmo se passa connosco. Não é porque uma pessoa entregou a sua vida a Jesus que se tornou santo. Há ainda um longo caminho a percorrer para conseguir um carácter bem firmado e uma personalidade santificada.
E nesta luta acontece o mesmo igual que ao povo de Israel: vitórias e fracassos, mas “os que perseverarem até ao fim serão são salvos.” Precisamos de submeter a nossa vida a Jesus, para podermos conquistar vales e montanhas, terras áridas e atravessar lagos que existem dentro de nós. Mas com Ele conseguiremos chegar a Jerusalém, a vila da paz. Alcançar a nossa paz. O sentimento de bem-estar com os outros e com Deus.
“Quando um homem não encontra paz dentro de si mesmo, é inútil procurá-la em qualquer outro lugar”, disse Henry Beecher.
“Todo o acto da vida, por mais insignificante, tem a sua influência na formação do carácter. Um carácter bem formado é mais precioso do que todas as possessões mundanas; e moldá-lo é a obra mais nobre em que os homens se possam empenhar.” Testemunhos Selectos, vol. 1, p. 602.

26 de março de 2010

O AMOR É UMA CERTEZA

“Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento.” Mateus 22:37

Íris Murdoch, disse: “Há no amor o dom de uma certeza.”

Amar implica saber quem se ama. Ou seja, não se pode amar o desconhecido. Jesus porém ordena “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração...”. Será que conhecemos Deus?

Experimentamos no coração muitos sentimentos, mas um só deve gerir a nossa relação com Deus: o amor.

Meditemos nalguns sentimentos que impedem que sintamos um calmo e puro amor por Deus:

a) O medo: “O medo do perigo é mil vezes pior do que o perigo real.” Daniel Defoe.

O medo é uma atitude frequente perante o futuro. A palavra futuro assusta muita gente que quer conhecer o amanhã e para tanto, não perde nenhuma revista ou jornal que traga futurologia ou horóscopos.

O cristão que nutre em relação ao futuro uma atitude de mistério e de medo, pode acreditar que o Diabo fará tudo para continuar a alimentar esse sentimento. Porque este impede o amor a Deus.

b) O fanatismo: Foram os fanáticos judeus que mais fizeram sofrer Jesus e os crentes primitivos. O fanatismo é o sentimento de bem fazer para agradar a Deus. São como aqueles empregados que, zelosamente, cumprem as ordens do patrão e simultaneamente vigiam os colegas para se vangloriarem diante do chefe, criticando os outros.

c) O interesse: Naturalmente que todo o crente deve apresentar-se diante de Deus com as suas necessidades, e Ele certamente a todas suprirá. Mas quando falamos de interesse é no sentido de tratar Deus como se Ele fosse um comerciante, com quem é preciso regatear e vigiar se é fiel na retribuição.

Não há nada melhor do que, depois de termos intercedido junto de Deus, nos levantarmos confiantes no Seu amor, misericórdia e justiça.

d) A culpabilidade: Quantos crentes não conseguem viver uma vida de libertação? Caminham com a cabeça baixa, remoendo um sentimento de culpabilidade que se transforma em neurose. Fomos e somos diariamente purificados pelo sangue de Jesus. É inadmissível viver com o peso da culpabilidade.

e) O orgulho: Ele é sem sombra de dúvida um terrível obstáculo na nossa relação com Deus e com os homens. O orgulho foi a ruína de Lúcifer e de miríades de anjos e também da raça humana.

Deus não suporta o orgulho. Todo o verdadeiro crente tem experimentado na sua vida pessoal que as dificuldades o levam aos pés de Jesus e que a força que d’Ele recebe é a humildade. Mas o orgulho, incha-nos. Deus não é o primeiro mas o último na nossa vida.

“O louvor e o agradecimento deveriam exprimir-se por cânticos. Quando somos tentados, em vez de dar expressão aos nossos sentimentos, entoemos pela fé um cântico de louvor a Deus.” Saúde do Espírito, p. 108, E. G. White.

25 de março de 2010

BUSCAI-ME E VIVEI

“Porque assim diz o Senhor à casa de Israel: Buscai-me e vivei.” Amós 5:4

Li, há muitos anos, um pensamento que me tem ajudado e mesmo iluminado nos momentos mais difíceis da minha vida. É o seguinte: “Quem conserva as suas ideias puras dá a Deus os seus melhores pensamentos.” Johannes Peter Schmitt.

Deus diz: “Buscai-me e vivei”. É uma ordem, não há aqui lugar para dúvidas, para divergir em pensamentos negativos, em remorsos, em estarmos presos ao passado, mas a ordem é: vivei.

E hoje é o dia indicado para isso. É hoje que Deus quer que nós vivamos. Não é ontem nem antes de ontem, nem sequer amanhã, mas hoje!

Quantas vezes tenho ouvido centenas de pessoas falarem durante horas a fio do seu passado! Naturalmente que isto não tem nada de mal, mas quando nos prendemos ao passado, ficamos presos como a mosca na teia da aranha, e esta não é a vontade de Deus. Ele quer que vivamos e desfrutemos do dia de hoje!

Visito uma senhora em Gondomar, de nome Teodora Ferreira Guerreiro. Há muitos anos que se encontra completamente paralisada numa cama, com esclerose múltipla. Fico profundamente impressionado sempre que estou com ela.

É verdade que ela fala do passado, mas sempre de uma forma positiva. Fala do presente com alegria e, por tudo o que lhe acontece, dá graças a Deus.

Enquanto que outros, fisicamente saudáveis, jovens, lindos, com uma bela família, vivem a olhar para o umbigo, como se lá fora não houvesse flores perfumadas, pássaros que chilreiam, estrelas no céu. Que lindo é uma noite estrelada! Que maravilhoso o clima de Portugal! Que formidável o mar e as longas praias do nosso país! Que lindo é o Gerês, e tantos cantos do Minho! O Mondego, Coimbra e a Figueira da Foz! As Beiras ou o Ribatejo, o Alentejo e o Algarve com as amendoeiras em flor! Gosto tanto do Porto, de Sintra e de Cascais! Conheço uma boa parte do Mundo, mas este País é um encanto!

E a Bíblia? E a Igreja de Deus? E o Plano que Deus tem para cada um de nós? E a família que Deus nos deu?

Somos propriedade de Deus, somos filhos do Rei do Universo. É um privilégio extraordinário! Vivamos o dia de hoje, mas, felizes!

“Numa alma unida a Deus todos os pensamentos são orações.” M. Tahan

“Lembre-se de que é impossível meditar sobre dois pensamentos ao mesmo tempo. Fixe-se num bom pensamento, e o pensamento mau será obrigado a sair da sua mente.” W. J. Hart

Viva! Dê agora o coração a Deus e liberte-se do temor, dos medos, da solidão. Sinta a presença do Filho de Deus. Ele está presente neste lugar, porque você está aí e é a pessoa mais linda que Ele tem na Terra.

Quer dar o coração a Jesus ?

O AMOR DE DEUS É PESSOAL

“Provai, e vede que o Senhor é bom, bem-aventurado o homem que nele confia.” Salmo 34:8

Tenho verificado, tanto na minha vida pessoal como no meu ministério pastoral, que o que motiva verdadeiramente uma pessoa a andar com Deus, é o facto de saber que o amor de Deus é pessoal.

Pensamos que pelo facto de termos feito ou dito coisas desagradáveis, os nossos familiares ou as pessoas a quem essas coisas foram feitas ou ditas nos amam menos.

E, frequentemente, este mesmo sentimento é transportado para a vida espiritual. Porque o nosso relacionamento com Deus não é o que deveria ser, Deus não nos ama como realmente poderia.

O apóstolo Pedro fez um convite à comunidade cristã primitiva, que naturalmente se estende a cada um de nós hoje: “Se é que já provaste que o Senhor é benigno.” Ele convida a provar, no sentido de saborear, o amor de Deus, a sentir a Sua benignidade.

Será que já provou o Senhor?

Provar no sentido de ter momentos de intimidade com Jesus, momentos em que Ele aproveita para nos dizer: “Eu amo-te ”. Quando nós provamos e ouvimos essa doce melodia vinda dos lábios de Jesus, temos prazer e necessidade de repetir a dose, dia após dia, ansiamos pelos momentos a sós com Ele, para que Ele repita: “Eu amo-te”.

Será que há uma afirmação mais bela e importante que esta? Creio sinceramente que não.

É na escuta destes impulsos que o Senhor, pelo Seu Espírito, nos envia a cura das feridas antigas e a nossa personalidade se transforma.

Torna-se, neste momento, absolutamente necessário dizer que este sussurro de Jesus se tornará muito mais audível à medida que tenhamos certas passagens da Palavra de Deus memorizadas. São passagens que entram na trama da nossa vida, da nossa alma e que se transformam em bálsamo de Gileade. Esses versículos tornar-se-ão em espírito e vida.

Por exemplo: “Não se turbe o vosso coração, credes em Deus, crede também em mim.” João 14:1

“O Senhor é a minha luz e a minha salvação, a quem temerei? O Senhor é a força da minha vida, de quem me recearei ?” Salmo 27:1

“Lava-me completamente da minha iniquidade, e purifica-me do meu pecado.” Salmo 51:2

“Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal.” Mateus 6:34

Ver:
Quando em perigo: Salmo 91

Quando infeliz: Salmo 34

Quando com medo: Salmo 23

Quando desanimado: Isaías 40

Quando tentado: Mateus 4

Faça suas estas passagens, e permita que Deus lhe diga: “Eu amo-te!”

Diga qualquer coisa a Deus!

QUEM É O MAIS POBRE DOS POBRES?

Um homem caminhava pela estrada e falava consigo mesmo, como costumam fazer os que, na vida, não têm sequer um amigo com quem trocar duas confidências.

– Vejam só a minha sorte – murmurava ele. – Não há ninguém no mundo mais pobre do que eu. Tinha um chapéu, que o vento levou; uma capa que, enquanto dormia, alguém roubou; um bastão com o qual, por causa do frio, acendi uma fogueira para me aquecer; uma sacola com pão e água, que o rio arrastou. Nada mais tenho, senão estas mãos para colher água e matar a sede. Há alguém – perguntava ao vento sem esperar resposta – mais pobre do que eu?
– Eu, irmão! – Contestou-lhe uma voz conhecida.
Voltou-se e viu Cristo que, em traje de peregrino, lhe disse:
– Tu, se quiseres, ainda podes colher água com as mãos. Eu nem isso consigo, pois as Minhas foram traspassadas.

“Senhor,
faz-me um instrumento
da Tua paz:
onde houver ódio,
que eu leve o amor;
onde houver ofensa,
que eu leve o perdão;
onde houver discórdia,
que eu leve a união;
onde houver dúvidas,
que eu leve a fé;
onde houver erros,
que eu leve a verdade;
onde houver desespero,
que eu leve a esperança;
onde houver tristeza,
que eu leve a alegria;
onde houver trevas,
que eu leve a luz”.

Sabe quem fez esta prece?
Que pensa dela?
Como pode tornar-se a sua oração?

21 de março de 2010

CRESCER EM CRISTO

A transformação do coração, pela qual nos tornamos filhos de Deus, é na Bíblia chamada nascimento. É também comparada à germinação da boa semente lançada pelo lavrador. De igual maneira, os que acabam de converter-se a Cristo, devem, "como meninos novamente nascidos" (I Ped. 2:2), crescer (Efés. 4:15) até à estatura de homens e mulheres em Cristo Jesus. Ou, como a boa semente lançada no campo, devem crescer e produzir fruto. Isaías diz que serão chamados "árvores de justiça, plantação do Senhor, para que Ele seja glorificado". Isa. 61:3. Assim, da vida natural tiram-se ilustrações que nos ajudam a melhor compreender as misteriosas verdades da vida espiritual.
Toda a ciência e habilidade do homem não são capazes de produzir vida no menor objeto da natureza. É unicamente mediante a vida que o próprio Deus comunicou, que a planta ou o animal vivem. Assim é unicamente mediante a vida de Deus, que se gera no coração dos homens a vida espiritual. A menos que o homem nasça "de novo" (João 3:3) [ou "do alto", como dizem outras versões], não pode ser participante da vida que Cristo veio trazer.
Como se dá com a vida, assim com o crescimento. É Deus quem faz o botão tornar-se flor e a flor fruto. É por Seu poder que a semente se desenvolve, "primeiro, a erva, depois, a espiga, e por último, o grão cheio na espiga". Mar. 4:28. E o profeta Oséias diz, referindo-se a Israel, que ele "florescerá como o lírio. ... Serão vivificados como o trigo e florescerão como a vide." Osé. 14:5 e 7. E Jesus nos diz: "Considerai os lírios, como eles crescem." Luc. 12:27. As plantas e flores não crescem em virtude de seu próprio cuidado, ansiedade ou esforço, mas pelo recebimento daquilo que Deus forneceu para lhes servir à vida. A criança não pode, por qualquer ansiedade ou poder próprio, aumentar sua estatura. Do mesmo modo não podeis vós, por vossa própria ansiedade ou esforço, conseguir crescimento espiritual. A planta e a criança crescem recebendo do seu ambiente aquilo que lhes serve à vida - ar, luz do Sol e alimento. O que esses dons da natureza são para o animal e a planta, é Cristo para os que nEle confiam. É-lhes "luz perpétua" (Isa. 60:19), "Sol e Escudo" (Sal. 84:11). Será "para Israel, como orvalho". Osé. 14:5. "Descerá como a chuva sobre a erva ceifada." Sal. 72:6. É Ele a água viva, "o pão de Deus... que desce do Céu e dá vida ao mundo". João 6:33.
No dom incomparável de Seu Filho, Deus envolveu o mundo todo numa atmosfera de graça, tão real como o ar que circula ao redor do globo. Todos os que respirarem esta atmosfera vivificante hão de viver e crescer até à estatura completa de homens e mulheres em Cristo Jesus.
Como a flor se volve para o Sol, para que os seus brilhantes raios a ajudem a desenvolver a beleza e simetria, assim devemos nós volver-nos para o Sol da justiça, a fim de que a luz do Céu incida sobre nós e nosso caráter seja desenvolvido à semelhança de Cristo.
Jesus ensina isso mesmo quando diz: "Estai em Mim, e Eu, em vós; como a vara de si mesma não pode dar fruto, se não estiver na videira, assim também vós, se não estiverdes em Mim. ... Sem Mim nada podereis fazer." João 15:4 e 5. Sois justamente tão dependentes de Cristo, para viver uma vida santa, como a vara é dependente do tronco para crescer e dar fruto. Separados dEle não tendes vida. Não tendes poder algum para resistir à tentação ou crescer em graça e santidade. Permanecendo nEle, florescereis. Derivando dEle a vossa vida, não haveis de murchar nem ser estéreis. Sereis como árvore plantada junto a ribeiros de água.
Muitos têm a idéia de que devem fazer sozinhos parte do trabalho. Confiaram em Cristo para o perdão dos pecados, mas agora procuram por seus próprios esforços viver retamente. Mas qualquer esforço como este terá de fracassar. Diz Jesus: "Sem Mim nada podereis fazer." João 15:5. Nosso crescimento na graça, nossa felicidade, nossa utilidade - tudo depende de nossa união com Cristo. É pela comunhão com Ele, todo dia, toda hora - permanecendo nEle - que devemos crescer na graça. Ele é não somente o Autor mas também o Consumador de nossa fé. É Cristo primeiro, por último e sempre. Deve estar conosco, não só ao princípio e ao fim de nossa carreira, mas a cada passo do caminho. Diz Davi: "Tenho posto o Senhor continuamente diante de mim; por isso que Ele está à minha mão direita, nunca vacilarei." Sal. 16:8.
Perguntais: "Como permanecerei em Cristo?" Do mesmo modo em que O recebestes a princípio. "Como, pois, recebestes o Senhor Jesus Cristo, assim também andai nEle." Col. 2:6. "O justo viverá da fé." Heb. 10:38. Vós vos entregastes a Deus, para serdes inteiramente Seus, para O servirdes e Lhe obedecerdes, e aceitastes a Cristo como vosso Salvador. Não pudestes vós mesmos expiar os vossos pecados ou mudar vosso coração; mas tendo-vos entregue a Deus, crestes que Ele, por amor de Cristo, fez tudo isto por vós. Pela fé viestes a pertencer a Cristo, pela fé deveis nEle crescer - dando e recebendo. Deveis dar tudo - vosso coração, vossa vontade, vosso serviço - dar-vos, a vós mesmos, a Ele, para Lhe obedecerdes em tudo o que de vós requer; e deveis receber tudo - Cristo, a plenitude de todas as bênçãos, para habitar em vosso coração, para ser vossa força, vossa justiça, vosso ajudador constante - a fim de vos dar poder para obedecerdes.
Consagrai-vos a Deus pela manhã; fazei disto vossa primeira tarefa. Seja vossa oração: "Toma-me, Senhor, para ser Teu inteiramente. Aos Teus pés deponho todos os meus projetos. Usa-me hoje em Teu serviço. Permanece comigo, e permite que toda a minha obra se faça em Ti." Esta é uma questão diária. Cada manhã consagrai-vos a Deus para esse dia. Submetei-Lhe todos os vossos planos, para que se executem ou deixem de se executar, conforme o indique a Sua providência. Assim dia a dia podereis entregar às mãos de Deus a vossa vida, e assim ela se moldará mais e mais segundo a vida de Cristo.
A vida em Cristo é uma vida de descanso. Pode não haver êxtase de sentimentos, mas deve existir uma constante, serena confiança. Vossa esperança não está em vós mesmos; está em Cristo. Vossa fraqueza se acha unida à Sua força, vossa ignorância à Sua sabedoria, vossa fragilidade ao Seu eterno poder. Não deveis, pois, olhar para vós mesmos, nem permitir que o pensamento demore no próprio eu, mas olhai para Cristo. Que o pensamento demore em Seu amor, na formosura e perfeição de Seu caráter. Cristo em Sua abnegação, Cristo em Sua humilhação, Cristo em Sua pureza e santidade, Cristo em Seu incomparável amor - este é o tema para a contemplação da alma. É amando-O, imitando-O, confiando inteiramente nEle, que haveis de ser transformados na Sua semelhança.
Diz Jesus: "Permanecei em Mim." Estas palavras dão idéia de repouso, firmeza, confiança. Outra vez Ele convida: "Vinde a Mim, ... e encontrareis descanso para a vossa alma." Mat. 11:28 e 29. As palavras do salmista exprimem o mesmo pensamento: "Descansa no Senhor e espera nEle." Sal. 37:7. E Isaías dá a certeza: "No sossego e na confiança, estaria a vossa força." Isa. 30:15. Este descanso não se encontra na inatividade; pois que no convite do Salvador a promessa de descanso está unida ao chamado para o trabalho: "Tomai sobre vós o Meu jugo, ... e encontrareis descanso." Mat. 11:29. O coração que mais plenamente descansa em Cristo será o mais zeloso e ativo no labor por Ele.
Quando o pensamento se concentra no próprio eu, é afastado de Cristo, a fonte de vigor e vida. Por isso é constante empenho de Satanás conservar a atenção desviada do Salvador, e evitar assim a união e comunhão da alma com Cristo. Os prazeres do mundo, os cuidados, perplexidades e pesares da vida, as faltas alheias, ou nossas próprias faltas e imperfeições - para uma destas coisas ou todas elas procurará ele distrair a atenção. Não vos deixeis desviar por seus artifícios. Muitos que são realmente conscienciosos, e que desejam viver para Deus, são por ele muitas vezes levados a demorar o pensamento em suas próprias faltas e fraquezas, e assim, afastando-os de Cristo, esperam alcançar a vitória. Não devemos fazer de nós mesmos o centro, nutrindo ansiedade e temor quanto à nossa salvação. Tudo isto desvia a alma da Fonte de nosso poder. Confiai a Deus a preservação de vossa alma, e nEle esperai. Falai e pensai em Jesus. Que o próprio eu se perca nEle. Ponde de parte a dúvida; despedi vossos temores. Dizei com o apóstolo Paulo: "Vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou e Se entregou a Si mesmo por mim." Gál. 2:20. Repousai em Deus. Ele é capaz de guardar aquilo que Lhe confiastes. Se vos abandonardes em Suas mãos, Ele vos tornará mais que vencedores por Aquele que vos amou.
Quando tomou sobre Si a natureza humana, Cristo ligou a Si a humanidade por um vínculo de amor que jamais pode ser partido por qualquer poder, a não ser a escolha do próprio homem. Satanás apresentará constantemente engodos, para nos induzir a romper esse laço - escolher separar-nos de Cristo. É aqui que temos necessidade de vigiar, lutar, orar, para que nada nos seduza a escolher outro senhor; pois que estamos sempre na liberdade de o fazer. Mas conservemos os olhos fitos em Jesus, e Ele nos preservará. Olhando para Jesus estamos seguros. Coisa alguma nos poderá arrebatar de Sua mão. Contemplando-O constantemente, seremos "transformados de glória em glória, na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor". II Cor. 3:18.
Foi assim que os primeiros discípulos alcançaram a semelhança com o amado Salvador. Quando ouviram as palavras de Jesus, sentiram a necessidade que tinham dEle. Buscaram-nO, acharam-nO, seguiram-nO. Estavam com Ele em casa, à mesa, no aposento particular, no campo. Associavam-se a Ele como discípulos com seu mestre, de Seus lábios recebendo diariamente lições de santa verdade. Olhavam para Ele, como servos para seu senhor, a fim de saber quais os seus deveres. Esses discípulos eram homens sujeitos "às mesmas paixões que nós". Tia. 5:17. Tinham de travar contra o pecado a mesma luta que nós. Necessitavam da mesma graça para viver vida santa.
Mesmo João, o discípulo amado, aquele que mais plenamente refletia a semelhança do Salvador, não possuía naturalmente aquele caráter amável. Era não somente presumido e ambicioso de honras, mas impetuoso e ressentido quando o ofendiam. Quando, porém, lhe foi manifestado o caráter dAquele que é Divino, viu sua própria deficiência e humilhou-se ante esse conhecimento. A fortaleza e a paciência, o poder e a ternura, a majestade e a mansidão que contemplava na vida diária do Filho de Deus, encheram-lhe a alma de admiração e amor. Dia a dia seu coração era atraído a Cristo, até perder de vista a si próprio, pelo amor ao Mestre. Seu temperamento ressentido e ambicioso cedeu ao poder modelador de Cristo. A influência regeneradora do Espírito Santo renovou-lhe o coração. O poder do amor de Cristo operou a transformação do caráter. Este é o resultado certo da união com Jesus. Quando Cristo habita o coração, transforma-se toda a natureza. O Espírito de Cristo, Seu amor, abranda o coração, subjuga a alma e ergue os pensamentos e desejos para Deus e para o Céu.
Quando Cristo ascendeu para o Céu, Seus seguidores continuaram ainda a sentir-Lhe a presença. Era uma presença pessoal, cheia de amor e luz. Jesus, o Salvador, que com eles havia andado, falado e orado, que lhes inspirara esperança e conforto ao coração, fora levado ao Céu, quando Seus lábios proferiam ainda a mensagem de paz; e, enquanto a nuvem de anjos O recebia, vieram até eles os acentos de Sua voz: "Eis que Eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos." Mat. 28:20. Ascendera ao Céu em forma humana. Sabiam que estava perante o trono de Deus, ainda como Amigo e Salvador seu; que Sua simpatia não se havia alterado; que continuava identificado com a sofredora humanidade. Estava apresentando perante Deus os méritos de Seu próprio precioso sangue, mostrando Suas mãos e pés feridos, em lembrança do preço que pagara por Seus remidos. Sabiam que ascendera ao Céu a fim de lhes preparar lugar, e que voltaria e os levaria para Si.
Quando se reuniam, depois da ascensão, estavam ansiosos por apresentar as suas petições ao Pai, em nome de Jesus. Com solene reverência se prostravam em oração, repetindo a promessa: "Tudo quanto pedirdes a Meu Pai, em Meu nome, Ele vo-lo há de dar. Até agora, nada pedistes em Meu nome; pedi e recebereis, para que a vossa alegria se cumpra." João 16:23 e 24. Estendiam cada vez mais alto a mão da fé, com o poderoso argumento: "É Cristo quem morreu ou, antes, quem ressuscitou dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós." Rom. 8:34. E o Pentecoste lhes trouxe a presença do Consolador, do qual Cristo dissera: "estará em vós". João 14:17. E dissera mais: "Digo-vos a verdade, que vos convém que Eu vá, porque, se Eu não for, o Consolador não virá a vós; mas, se Eu for, enviar-vo-Lo-ei." João 16:7. Daí por diante, por meio do Espírito, Cristo habitaria continuamente no coração de Seus filhos. Sua união com Ele era mais íntima do que quando estava pessoalmente com eles. A luz, o amor e poder do Cristo que neles habitava se refletiam em sua vida, de maneira que os homens, vendo-os, se maravilhavam; "e tinham conhecimento de que eles haviam estado com Jesus". Atos 4:13.
Tudo o que Cristo foi para os primeiros discípulos, deseja ser para Seus filhos hoje; pois naquela última oração, rodeado do pequeno grupo de discípulos, disse: "Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que, pela sua palavra, hão de crer em Mim." João 17:20.
Jesus orou por nós, pedindo que fôssemos um com Ele, assim como Ele é um com o Pai. Que união é esta! Disse o Salvador, de Si mesmo: "O Filho por Si mesmo não pode fazer coisa alguma" (João 5:19); "o Pai, que está em Mim, é quem faz as obras." João 14:10. Habitando, pois, Cristo em nosso coração, operará, em nós "tanto o querer como o efetuar, segundo a Sua boa vontade". Filip. 2:13. Trabalharemos como Ele trabalhou; manifestaremos o mesmo espírito. E assim, amando-O e nEle permanecendo, havemos de crescer "em tudo nAquele que é a cabeça, Cristo". Efés. 4:15.

20 de março de 2010

DEUS É A FONTE DA VIDA

Deus é a fonte de vida, luz e felicidade para todo o Universo. Como raios de luz de Sol, como correntes de água irrompendo de fonte viva, assim dEle dimanam bênçãos para todas as Suas criaturas. E onde quer que a vida de Deus se encontre no coração dos homens, derramar-se-á em amor e bênçãos aos outros.
A alegria de nosso Salvador estava no reerguimento e redenção dos homens caídos. Para isso fazer, não teve por preciosa a própria vida, mas suportou a cruz, desprezando a afronta. Assim também os anjos estão sempre empenhados em trabalhar pela felicidade dos outros. Esta é sua alegria. Aquilo que corações egoístas considerariam como serviço humilhante - ajudar aos desgraçados que em todos os sentidos lhes são inferiores no caráter e na posição - é a obra dos anjos imaculados. O espírito do abnegado amor de Cristo é o espírito que domina no Céu, e é a própria essência de suas delícias. É este o espírito que os seguidores de Cristo hão de possuir e a obra que hão de fazer.
Quando o amor de Cristo é abrigado no coração, ele, como o suave perfume, não pode ocultar-se. Sua santa influência será sentida por todos aqueles com quem entramos em contato. O espírito de Cristo no coração é qual fonte no deserto, que ali corre para refrigerar a todos, despertando nas almas moribundas o anseio de sorver da água da vida.
O amor que tivermos a Jesus se manifestará no desejo de trabalhar como Ele trabalhou, para bênção e reerguimento da humanidade. Levará o amor, ternura e simpatia para com todas as criaturas de nosso Pai celeste.
A vida do Salvador no mundo não foi uma vida de comodidade e dedicação ao próprio eu; ao contrário, labutava com esforço persistente, fervoroso e incansável pela salvação da humanidade perdida. Desde a manjedoura até o Calvário trilhou a senda da abnegação, não procurando eximir-Se a tarefas árduas, penosas viagens e exaustivos cuidados e labores. Disse Ele: "O Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e para dar a Sua vida em resgate de muitos." Mat. 20:28. Era este o único e grande objetivo de Sua vida. Tudo mais era secundário e subalterno. Sua comida e bebida consistia em fazer a vontade de Deus e consumar a Sua obra. O próprio eu e o interesse próprio não tinham parte alguma em Seu trabalho.
Assim os que são participantes da graça de Cristo estarão prontos para fazer qualquer sacrifício a fim de que outros pelos quais Ele morreu participem do dom celestial. Farão tudo que está em seu poder para tornar o mundo melhor por sua estada nele. Tal espírito é o legítimo produto de uma alma verdadeiramente convertida. Tão depressa uma pessoa se chegue para Cristo, nasce-lhe no coração o desejo de revelar aos outros que precioso amigo encontrou em Jesus; a salvadora e santificante verdade não lhe pode ficar encerrada no coração. Se nos achamos revestidos da justiça de Cristo, e cheios da alegria proveniente da habitação de Seu Espírito em nós, não nos será possível calar-nos. Se provamos e vimos que o Senhor é bom, teremos alguma coisa a dizer. Como Filipe ao encontrar o Salvador, convidaremos outros para chegarem a Ele. Procuraremos apresentar-lhes os atrativos de Cristo e as realidades nunca vistas do mundo por vir. Haverá um desejo intenso de trilhar o caminho no qual Cristo andou. Sentiremos um sincero anseio de que os que nos rodeiam possam contemplar "o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo". João 1:29.
E o esforço no sentido de abençoar aos outros reverterá em bênçãos para nós mesmos. Foi este o propósito de Deus dando-nos uma parte a desempenhar no plano da redenção. Concedeu aos homens o privilégio de tornarem-se participantes da natureza divina e de, por sua vez, difundir bênçãos aos seus semelhantes. Esta é a mais elevada honra, a maior alegria que Deus pode conferir ao homem. Os que assim se tornam participantes da obra de amor são os que para mais perto de seu Criador são conduzidos.
Deus poderia ter confiado aos anjos celestiais a mensagem do evangelho e toda a obra de amoroso ministério. Poderia ter empregado outros meios para realizar o Seu propósito. Mas em Seu infinito amor preferiu tornar-nos cooperadores Seus, de Cristo e dos anjos, a fim de que pudéssemos participar da bênção, da alegria e do reerguimento espiritual que resultam desse abnegado ministério.
Pela comunhão dos sofrimentos de Cristo somos levados a uma relação de intimidade com Ele. Cada ato de renúncia própria em benefício de outros, robustece o espírito de beneficência no coração do beneficiador, ligando-o mais estreitamente ao Redentor do mundo, o qual, "sendo rico, por amor de vós Se fez pobre, para que, pela Sua pobreza, enriquecêsseis". II Cor. 8:9. E é só à medida que assim cumprirmos o propósito divino de nossa criação, que a vida nos poderá ser uma bênção.
Se vos puserdes a trabalhar como Cristo determina que Seus discípulos o façam, e conquistar almas para Ele, sentireis a necessidade de uma experiência mais profunda e um maior conhecimento das coisas divinas, e tereis fome e sede de justiça. Instareis com Deus, e vossa fé se fortalecerá e vossa alma beberá livremente da fonte da salvação. As oposições e provações que encontrardes vos impelirão para a Bíblia e para a oração. Crescereis na graça e no conhecimento de Cristo e desenvolvereis uma rica experiência.
O espírito de abnegado amor pelos outros proporciona ao caráter profundeza, estabilidade e formosura cristã, e traz paz e felicidade ao seu possuidor. As aspirações são enobrecidas. Não haverá lugar para a preguiça ou egoísmo. Os que desse modo exercitarem as graças cristãs hão de crescer e tornar-se fortes para o trabalho de Deus. Terão claras percepções espirituais, fé constante, e crescente, e maior poder na oração. O Espírito de Deus, operando em seu espírito, despertará as sagradas harmonias da alma, em resposta ao contato divino. Os que assim dedicarem esforços abnegados ao bem de outros estão, certissimamente, operando sua própria salvação.
O único modo de crescer na graça é fazer desinteressadamente a obra que Cristo nos ordenou fazer - empenhar-nos, na medida de nossa capacidade, em ajudar e abençoar os que carecem do auxílio que lhes podemos dar. A força se desenvolve pelo exercício; a atividade é a própria condição de vida. Os que procuram manter a vida cristã aceitando passivamente as bênçãos que lhes são oferecidas pelos meios da graça nada fazendo por Cristo, estão simplesmente procurando comer para viver, sem trabalhar. No mundo espiritual, assim como no mundo natural, isso resulta sempre em degeneração e ruína. O homem que se recusasse a servir-se de seus membros, em breve perderia a faculdade de usá-los. Assim o cristão que não exercita as faculdades que Deus lhe deu, não só deixa de crescer em Cristo, como também perde a força que já possuía.
A igreja de Cristo é o agente designado por Deus para a salvação dos homens. Sua missão é levar o evangelho ao mundo. E essa obrigação repousa sobre todos os cristãos. Cada um, na medida de seus talentos e oportunidades, deve cumprir a comissão do Salvador. O amor de Cristo, revelado a nós, torna-nos devedores a todos os que O não conhecem. Deus nos outorgou luz, não para nosso proveito exclusivo, mas para que a derramássemos sobre eles.
Se os seguidores de Cristo estivessem sempre alerta ao chamado do dever, milhares estariam proclamando o evangelho em países gentios onde hoje só existe um. E todos os que se não empenhassem pessoalmente nessa obra, haveriam de sustentá-la com os seus recursos, sua simpatia e suas orações. E muito maior quantidade de zeloso trabalho se faria nos países cristãos.
Não precisamos ir aos países pagãos, nem mesmo deixar o estreito âmbito de nosso lar, se é ali que está nosso dever, a fim de trabalhar para Cristo. Podemos fazê-lo no lar, na igreja, entre os nossos amigos e com quem entretemos relações comerciais.
A maior parte da vida de nosso Salvador, passou-a Ele em paciente labor na oficina de carpinteiro em Nazaré. Anjos ministradores assistiam o Senhor da vida quando caminhava ao lado dos camponeses e jornaleiros, sem ser reconhecido nem honrado. Cumpria tão fielmente Sua missão quando trabalhava em Seu humilde ofício como quando curava os doentes ou andava sobre as ondas tempestuosas do mar da Galiléia. Assim podemos nós, nos mais humildes deveres e ínfimas posições da vida, andar e trabalhar com Jesus.
Diz o apóstolo: "Irmãos, cada um fique diante de Deus no estado em que foi chamado." I Cor. 7:24. O comerciante pode dirigir os seus negócios de modo a glorificar seu Senhor por sua fidelidade. Se é fiel seguidor de Cristo, levará sua religião para tudo que faz, revelando aos homens o espírito de Cristo. O operário pode ser diligente e fiel representante dAquele que labutava em trabalhos humildes, entre as montanhas da Galiléia. Todo que adota o nome de Cristo deve trabalhar de tal modo que os outros, vendo suas boas obras, sejam levados a glorificar seu Criador e Redentor.
Muitos se têm escusado de pôr os seus dons ao serviço de Cristo, pelo motivo de haver outros que possuem dons e vantagens superiores. Tem prevalecido a opinião de que só dos possuidores de talentos especiais requer Deus que consagrem suas habilidades ao Seu serviço. Têm muitos a idéia de que os talentos só são concedidos a uma classe privilegiada, com exclusão das outras, os quais, naturalmente, não são convidados a participar nem dos trabalhos nem das recompensas. Não é isto, porém, o que se acha representado na parábola. Quando o dono da casa chamou seus servos, deu a cada um a sua obra.
Possuídos de um espírito amoroso, poderemos cumprir "como ao Senhor" mesmo os mais humildes deveres da vida. Col. 3:23. Se o amor de Deus está no coração, será manifesto na vida. O suave perfume de Cristo nos circundará, e nossa influência será de molde a enobrecer e abençoar.
Não deveis esperar grandes ocasiões ou habilitações extraordinárias para então trabalhardes por Deus. Não vos deveis incomodar com o que o mundo pense de vós. Se vossa vida diária é testemunha da pureza e sinceridade de vossa fé, e os outros estão convencidos de que desejais ajudá-los, vossos esforços não se perderão totalmente.
Os mais humildes e mais pobres dentre os discípulos de Jesus, podem ser uma bênção aos outros. Talvez não tenham consciência de estar realizando algum bem especial, mas por sua inconsciente influência poderão dar origem a ondas de bênçãos que se irão alargando e aprofundando, mesmo que nunca venham eles a saber dos benditos resultados, a não ser no dia da recompensa final. Não percebem nem sabem que estão realizando um grande bem. Não se requer deles que se preocupem com o sucesso. O que têm de fazer é simplesmente prosseguir tranqüilos, realizando fielmente a obra que a providência de Deus lhes designa, e sua vida não será em vão. Seu próprio ser irá se desenvolver cada vez mais à semelhança de Cristo; tornam-se mensageiros de Deus nesta vida, e desse modo estão se habilitando para a obra mais elevada e a felicidade verdadeira da vida por vir.

O DEUS QUE EU CONHEÇO

Muitas são as maneiras pelas quais Deus procura revelar-Se a nós e pôr-nos em comunhão com Ele. A natureza fala sem cessar aos nossos sentidos. O coração aberto é impressionado com o amor e a glória de Deus manifestados nas obras de Suas mãos. O ouvido atento ouve e compreende as comunicações de Deus pelos objetos da natureza. Os verdejantes campos, as árvores altaneiras, os botões e as flores, a nuvem que passa, a chuva, o rumorejante regato, as glórias do firmamento, tudo nos fala ao coração, convidando-nos a familiarizar-nos com Aquele que os criou a todos.
Nosso Salvador ligava Suas preciosas lições às coisas da natureza. As árvores, os pássaros, as flores dos vales, as colinas, os lagos, o belo firmamento, assim como os incidentes e o ambiente da vida diária, tudo ligava-o Ele às palavras de verdade, para que Suas lições fossem assim muitas vezes trazidas à memória, mesmo em meio dos absorventes cuidados da trabalhosa vida humana.
Deus deseja que Seus filhos apreciem as Suas obras e se deleitem na singela e serena formosura com que adornou nosso lar terrestre. Ama o belo e, acima de tudo que é exteriormente atraente, ama a beleza de caráter; deseja que cultivemos a pureza e a simplicidade, as mudas graças das flores.
Se tão-somente estivermos atentos, as obras de Deus nos ensinarão preciosas lições de obediência e confiança.
Desde as estrelas, que em seu trajeto pelos espaços percorrem século após século a rota invisível que lhes é designada, até o ínfimo átomo, todas as coisas da natureza obedecem à vontade do Criador. E Deus cuida de tudo e sustenta todas as coisas que criou. Aquele que mantém os inumeráveis mundos através da imensidade, ao mesmo tempo cuida das necessidades do pequeno pardal que, confiante, solta o seu humilde gorjeio. Quando os homens saem para o seu labor diário, assim como quando se acham entregues à oração; quando repousam à noite, e quando se erguem de manhã; quando o rico se banqueteia em seu palácio, ou quando o pobre reúne seus filhos em torno da mesa escassa, sobre cada um o Pai celeste vigia com ternura. Nenhuma lágrima é vertida sem que Deus a note. Não há sorriso que Ele não perceba.
Se tão-somente crêssemos isto plenamente, desvanecer-se-iam todas as ansiedades inúteis. Nossa vida não estaria tão cheia de decepções como agora; pois tudo, quer grande quer pequeno, seria confiado às mãos de Deus, que Se não embaraça com a multiplicidade dos cuidados, nem é dominado por seu peso. Havíamos de desfrutar então um repouso de alma ao qual muitos têm sido por muito tempo alheios.
Enquanto vos deleitais nas atraentes belezas da Terra, pensai no mundo por vir, o qual não conhecerá jamais a mancha do pecado e morte; onde a face da natureza não mais apresentará as sombras da maldição. Representai-vos na imaginação o lar dos remidos, e lembrai-vos de que ele será mais glorioso do que o pode pintar vossa mais brilhante imaginação. Nos variados dons de Deus em a natureza só discernimos o mais pálido vislumbre de Sua glória. Está escrito: "As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem são as que Deus preparou para os que O amam." I Cor. 2:9.
Poetas e naturalistas têm muito que dizer acerca da natureza; mas é o cristão quem mais sabe apreciar as belezas da Terra, porque reconhece a obra de seu Pai, e percebe Seu amor em cada flor, arbusto ou árvore. Ninguém pode apreciar plenamente a significação de montes e vales, rios e lagos, se não os olha como uma expressão do amor de Deus ao homem.
Deus nos fala por meio de Suas operações providenciais, e pela influência de Seu Espírito sobre o coração. Em nossas circunstâncias e ambiente, nas mudanças que diariamente se realizam ao nosso redor, podemos encontrar preciosas lições, se nosso coração está aberto para discerni-las. O salmista, narrando a obra da providência de Deus, diz: "A Terra está cheia da bondade do Senhor." Sal. 33:5. "Quem é sábio observe estas coisas e considere atentamente as benignidades do Senhor." Sal. 107:43.
Deus nos fala a nós por Sua Palavra. Aí temos em linhas mais claras a revelação de Seu caráter, de Seu procedimento com os homens, e da grande obra de redenção. Aí está aberta perante nós a história de patriarcas e profetas e outros homens santos da antiguidade. Eram homens sujeitos "às mesmas paixões que nós". Tia. 5:17. Vemos como lutavam com abatimentos iguais aos nossos, como caíam sob tentações como também nós o temos feito, e contudo de novo se animavam e venciam pela graça de Deus; e considerando esses exemplos, ficamos animados em nossas lutas por conseguir a justiça. Ao lermos acerca das preciosas experiências que lhes foram concedidas, da luz, amor e bênção que lhes foi dado desfrutar, e da obra que realizaram pela graça que lhes foi dada, o mesmo espírito que os inspirava acende em nosso coração uma chama de santa emulação e um desejo de ser semelhantes a eles no caráter, e de, como eles, andar com Deus.
Disse Jesus acerca das Escrituras do Antigo Testamento - e quanto mais é isto verdade do Novo! - "São elas que de Mim testificam" (João 5:39), - dEle que é o Redentor. Aquele em quem se centralizam nossas esperanças de vida eterna. Sim, a Bíblia toda fala de Cristo. Desde o primeiro relatório da criação - pois "sem Ele nada do que foi feito se fez" (João 1:3) - até à promessa final: "Eis que cedo venho" (Apoc. 22:12) lemos acerca de Suas obras e ouvimos a Sua voz. Se desejais familiarizar-vos com o Salvador, estudai as Santas Escrituras.
Enchei o coração todo com as palavras de Deus. São elas a água viva, a mitigar vossa sede ardente. São o pão vivo do Céu. Jesus declara: "Se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o Seu sangue, não tereis vida em vós mesmos." João 6:53. E Ele mesmo explica essa declaração, dizendo: "As palavras que Eu vos disse são espírito e vida." João 6:63. Nosso corpo é formado pelo que comemos e bebemos; e como se dá na economia natural, assim também na espiritual; é aquilo em que meditamos, que dará força e vigor à nossa natureza espiritual.
O tema da redenção é tema que os próprios anjos desejam penetrar; será a ciência e o cântico dos remidos através dos séculos da eternidade. Não é ele digno de atenta consideração e estudo agora? A infinita misericórdia e amor de Jesus, o sacrifício feito por Ele em nosso favor, demandam a mais séria e solene reflexão. Devemos demorar o pensamento no caráter de nosso amado Redentor e Intercessor. Devemos meditar na missão dAquele que veio salvar Seu povo, dos seus pecados. Ao contemplarmos assim os temas celestiais, nossa fé e amor se fortalecerão, e nossas orações serão cada vez mais aceitáveis a Deus, porque a elas se misturarão cada vez mais a fé e o amor. Serão inteligentes e fervorosas. Haverá mais constante confiança em Jesus, e uma diária e viva experiência em Seu poder de salvar perfeitamente a todos os que por Ele se chegam a Deus.
Ao meditarmos na perfeição do Salvador, havemos de desejar ser transformados por completo, e renovados na imagem de Sua pureza. A alma terá fome e sede de tornar-se semelhante Àquele a quem adoramos. Quanto mais nossos pensamentos se demorarem em Cristo, tanto mais falaremos dEle aos outros e O representaremos perante o mundo.
A Bíblia não foi escrita para os doutos unicamente. Ao contrário, destina-se ao povo comum. As grandes verdades indispensáveis para a salvação, nela se acham reveladas com a clareza da luz meridiana; e ninguém errará nem perderá o caminho a não ser os que seguirem seu próprio juízo em vez da vontade de Deus, claramente revelada.
Não devemos aceitar o testemunho de nenhum homem quanto ao que ensinam as Escrituras, mas sim estudar por nós mesmos as palavras de Deus. Se permitirmos que outros pensem por nós, nossas próprias energias e habilidades adquiridas se atrofiarão. As nobres faculdades do espírito podem, pela falta de exercício sobre temas dignos de sua concentração, ficar tão debilitadas que percam a capacidade de apanhar a profunda significação da Palavra de Deus. O espírito se ampliará se for empregado em pesquisar a relação dos assuntos da Bíblia, comparando passagem com passagem e coisas espirituais com coisas espirituais.
Nada há mais apropriado para fortalecer o intelecto do que o estudo das Escrituras. Nenhum outro livro é tão poderoso para elevar os pensamentos, para dar vigor às faculdades, como as amplas e enobrecedoras verdades da Bíblia. Se a Palavra de Deus fosse estudada como devera ser, os homens teriam uma largueza de espírito, uma nobreza de caráter e firmeza de propósito que raro se vêem nesses tempos.
Bem pouco benefício, porém, se tira de uma leitura apressada das Escrituras. Poder-se-á ler a Bíblia inteira e contudo deixar de reconhecer-lhe a beleza ou compreender-lhe o sentido profundo e oculto. Uma passagem que se estude até que seu sentido seja claro ao espírito e evidente sua relação para com o plano da salvação, é de maior valor do que a leitura de muitos capítulos sem ter em vista nenhum propósito definido e sem adquirir nenhuma instrução positiva. Levai convosco a Bíblia. Quando tiverdes oportunidade, lede-a; fixai as passagens na memória. Mesmo enquanto estais a andar pela rua, podeis ler uma passagem e meditar sobre ela, fixando-a assim.
Não conseguiremos sabedoria sem fervorosa atenção e estudo acompanhado de oração. Algumas porções da Escritura são, efetivamente, tão claras que não podem ser mal compreendidas; mas outras há cujo sentido não está sobre a superfície, de modo que possa ser apanhado de relance. É preciso comparar passagem com passagem. Tem de haver cuidadoso estudo e reflexão acompanhada de orações. E tal estudo será ricamente compensado. Como o mineiro descobre veios de precioso metal sob a superfície da terra, assim aquele que buscar perseverantemente a Palavra de Deus como a tesouros escondidos, encontrará verdades do mais alto valor, as quais se acham ocultas à vista do pesquisador descuidado. As palavras inspiradas, meditadas no coração, serão como torrentes que brotam da fonte da vida.
Nunca deve a Bíblia ser estudada sem oração. Antes de abrir suas páginas, devemos pedir a iluminação do Espírito Santo, e ser-nos-á dada. Quando Natanael veio a Jesus, o Salvador exclamou: "Eis aqui um verdadeiro israelita, em quem não há dolo." Natanael volveu: "De onde me conheces Tu?" E Jesus respondeu: "Antes que Filipe te chamasse, te vi Eu estando tu debaixo da figueira." João 1:47 e 48. E Jesus ver-nos-á também nos lugares secretos de oração, se dEle buscarmos a luz para saber qual a verdade. Anjos do mundo da luz assistirão àqueles que, em humildade de coração, buscarem a guia divina.
O Espírito Santo exalta e glorifica o Salvador. É sua missão apresentar a Cristo, a pureza de Sua justiça e a grande salvação que por Ele nos pertence. Jesus disse: "Ele... há de receber do que é Meu e vo-lo há de anunciar." João 16:14. O Espírito de verdade é o único mestre eficaz da verdade divina. Quanto não deve Deus ter estimado a raça humana, para que desse o Seu Filho a fim de por ela morrer, e designasse o Seu Espírito para ser o mestre e constante guia do homem!

O PRIVILÉGIO DE FALAR COM DEUS

Deus nos fala pela natureza e pela Revelação, pela Sua providência e pelo influxo de Seu Espírito. Isto, porém, não basta; precisamos também derramar perante Ele nosso coração. Para ter vida e energia espirituais, cumpre estarmos em real comunhão com nosso Pai celestial. Podem nossos pensamentos dirigir-se para Ele; podemos meditar sobre Suas obras, Suas misericórdias, Suas bênçãos; mas isto não é, no sentido mais amplo, comungar com Ele. Para entreter comunhão com Deus, é preciso que tenhamos alguma coisa que Lhe dizer acerca de nossa vida.
A oração é o abrir do coração a Deus como a um amigo. Não que seja necessário, a fim de tornar conhecido a Deus o que somos; mas sim para nos habilitar a recebê-Lo. A oração não faz Deus baixar a nós, mas eleva-nos a Ele.
Quando Jesus andou na Terra, ensinou a Seus discípulos como deviam orar. Instruiu-os a apresentar suas necessidades cotidianas a Deus, e lançar sobre Ele todos os seus cuidados. E a certeza que lhes deu, de que suas petições seriam ouvidas, constitui também para nós uma certeza.
Jesus mesmo, enquanto andava entre os homens, muitas vezes Se entregava à oração. Nosso Salvador identificou-Se com nossas necessidades e fraquezas, tornando-Se um suplicante, um solicitador junto de Seu Pai, para buscar dEle novos suprimentos de força, a fim de que pudesse sair revigorado para os deveres e provações. Ele é nosso exemplo em todas as coisas. É um irmão em nossas fraquezas, pois "como nós, em tudo foi tentado" (Heb. 4:15); mas, sem pecado como era, Sua natureza recuava do mal; suportou lutas e agonias de alma num mundo de pecado. Sua humanidade tornou-Lhe a oração uma necessidade, e privilégio. Encontrava conforto e alegria na comunhão com o Pai. E se o Salvador dos homens, o Filho de Deus, sentia a necessidade de orar, quanto mais devemos nós, débeis e pecaminosos mortais que somos, sentir a necessidade de fervente e constante oração!
Nosso Pai celestial está desejoso de derramar sobre nós a plenitude de Suas bênçãos. É nosso privilégio beber livremente da fonte de Seu ilimitado amor. Como é de admirar, pois, que oremos tão pouco! Deus está pronto para ouvir a oração sincera do mais humilde de Seus filhos, e contudo há tanta manifesta relutância de nossa parte, para tornar conhecidas a Deus nossas necessidades! Que pensarão os anjos do Céu, a respeito dos pobres e desamparados seres humanos, sujeitos à tentação, quando o coração de Deus, pleno de infinito amor, se inclina anelante para eles, pronto para lhes dar mais do que sabem pedir ou pensar, e contudo oram tão pouco, e tão pouca fé exercem! Os anjos têm prazer em prostrar-se perante Deus; deleitam-se em estar em Sua presença. Consideram a comunhão com Deus como seu mais alto privilégio; e contudo os filhos da Terra, que tanto precisam do auxílio que só Deus pode dar parecem satisfeitos com andar sem a luz de Seu Espírito, a companhia de Sua presença.
As trevas do maligno envolvem os que negligenciam a oração. As sutis tentações do inimigo os incitam ao pecado; e tudo isso por não fazerem uso do privilégio da oração, que Deus lhes conferiu. Por que deveriam os filhos e filhas de Deus ser tão relutantes em orar, quando a oração é a chave nas mãos da fé para abrir o celeiro do Céu, onde se acham armazenados os ilimitados recursos da Onipotência? Sem oração constante e diligente vigilância, estamos em perigo de tornar-nos descuidosos e desviar-nos do caminho verdadeiro. O adversário procura continuamente obstruir o caminho para o trono da graça, para que não obtenhamos, pela súplica fervorosa e fé, graça e poder para resistir à tentação.
Há certas condições sob as quais podemos esperar que Deus ouça nossas orações e a elas atenda. Uma das primeiras delas é sentirmos nossa necessidade de Seu auxílio. Ele prometeu: "Derramarei água sobre o sedento e rios, sobre a terra seca." Isa. 44:3. Os que têm fome e sede de justiça, que anelam a Deus, podem estar certos de que serão satisfeitos. O coração tem de estar aberto à influência do Espírito; ao contrário não pode ser obtida a bênção de Deus.
Nossa grande necessidade é ela mesma um argumento, e intercede muito eloqüentemente em nosso favor. Temos, porém, de buscar ao Senhor a fim de que faça essas coisas por nós. Diz Ele: "Pedi, e dar-se-vos-á." Mat. 7:7. "Aquele que nem mesmo a Seu próprio Filho poupou, antes, O entregou por todos nós, como nos não dará também com Ele todas as coisas?" Rom. 8:32.
Se atendemos ainda à iniqüidade em nosso coração, se nos apegarmos a algum pecado consciente, o Senhor não nos ouvirá; mas a oração da alma penitente e contrita será sempre aceita. Depois de termos reparado todas as faltas de que temos consciência, poderemos crer que Deus atenderá às nossas petições. Nossos próprios méritos jamais nos recomendarão ao favor de Deus; é o mérito de Cristo que nos salvará, Seu sangue é que nos purificará; nós, porém, temos uma obra a fazer para cumprir as condições da aceitação.
Outro elemento da oração perseverante é a fé. "É necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que Ele existe e que é galardoador dos que O buscam." Heb. 11:6. Jesus disse a Seus discípulos: "Tudo o que pedirdes, orando, crede que o recebereis e tê-lo-eis." Mar. 11:24. Cremos em Sua palavra?
A certeza que Ele nos dá é ampla, ilimitada; e fiel é Aquele que prometeu. Se não recebemos exatamente as coisas que pedimos e ao tempo desejado, devemos não obstante crer que o Senhor nos ouve, e que atenderá às nossas orações. Somos tão falíveis e curtos de vistas que às vezes pedimos coisas que não nos seriam uma bênção, e nosso Pai celestial amorosamente nos atende às orações dando-nos aquilo que é para o nosso maior bem - aquilo que nós mesmos desejaríamos se com vistas divinamente iluminada, pudéssemos ver todas as coisas tais como elas são na realidade. Quando nossas orações ficam aparentemente indeferidas, devemos apegar-nos à promessa; pois virá por certo a ocasião de serem atendidas, e receberemos a bênção de que mais carecemos. Mas pretender que a oração seja sempre atendida exatamente do modo e no sentido particular que desejamos, é presunção. Deus é muito sábio para errar, e bom demais para reter qualquer benefício dos que andam sinceramente. Não receeis, pois, confiar nEle, ainda que não vejais a resposta imediata às vossas orações. Apoiai-vos em Sua segura promessa: "Pedi, e dar-se-vos-á." Mat. 7:7.
Se tomarmos conselho com as nossas dúvidas e temores, ou procurarmos solver tudo que não podemos compreender claramente, antes de ter fé, as perplexidades tão-somente aumentarão e se complicarão. Mas se chegarmos a Deus convencidos de nosso desamparo e dependência, tais quais somos, e com humilde e confiante fé fizermos conhecidas nossas necessidades Àquele cujo conhecimento é infinito, e o qual tudo vê na criação, governando a todas as coisas por Sua vontade e palavra, Ele pode atender e atenderá ao nosso clamor, e fará a luz brilhar em nosso coração. Pela oração sincera somos postos em ligação com a mente do Infinito. Não temos, no mesmo momento, evidência notável de que a face do nosso Redentor se inclina sobre nós em compaixão e amor; mas é realmente assim. Podemos não sentir Seu contato visível, mas Sua mão está sobre nós em amor e compassiva ternura.
Quando chegamos a pedir misericórdia e bênçãos de Deus, devemos fazê-lo tendo no coração um espírito de amor e perdão. Como poderemos orar: "Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores" (Mat. 6:12), e não obstante alimentar um espírito de irreconciliação? Se esperamos que nossas orações sejam atendidas, devemos perdoar aos outros do mesmo modo e na mesma medida em que esperamos ser perdoados.
A perseverança na oração é também uma condição para ser ela atendida. Devemos orar sempre, se quisermos crescer na fé e experiência. "Perseverai em oração, velando nela com ação de graças". Col. 4:2. Pedro exorta os crentes: "Sede sóbrios e vigiai em oração." I Ped. 4:7. Paulo instrui: "As vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus." Filip. 4:6. "Mas vós, amados", diz Judas, "orando no Espírito Santo, conservai a vós mesmos na caridade de Deus." Jud. 20 e 21. A oração incessante é a união ininterrupta da alma com Deus, de maneira que a vida de Deus flui para nossa vida; e de nossa vida refluem para Deus a pureza e santidade.
Há necessidade de diligência na oração; que coisa alguma dela vos detenha. Fazei todos os esforços para conservar aberta a comunhão entre Jesus e vossa própria alma. Procurai toda oportunidade para irdes aonde se costuma fazer oração. Os que estão realmente buscando a comunhão com Deus, serão vistos nas reuniões de oração, fiéis ao seu dever, e atentos e ansiosos por colher todos os benefícios que possam lograr. Aproveitarão todas as oportunidades de colocar-se onde possam receber raios de luz do Céu.
Temos que orar em família; e sobretudo não devemos negligenciar a oração secreta, pois ela é a vida da alma. É impossível a alma prosperar enquanto é negligenciada a oração. A oração familiar e a oração pública não bastam. Em solidão, abra-se a alma às vistas perscrutadoras de Deus. A oração secreta só deve ser ouvida por Ele - o Deus que ouve as orações. Nenhum ouvido curioso deve partilhar dessas petições em que a alma assim depõe o seu fardo. Na oração secreta a alma está livre das influências do ambiente, livre da agitação. Calmamente, mas com fervor, busca a Deus. Suave e permanente será a influência que emana dAquele que vê o secreto, e cujo ouvido está aberto para ouvir a prece que vem do coração. Pela fé calma e singela a alma entretém comunhão com Deus e absorve raios de luz divina que a devem fortalecer e suster no conflito contra Satanás. Deus é nossa fortaleza.
Orai em vosso aposento particular; e enquanto seguis vossos afazeres diários, elevai muitas vezes o coração a Deus. Era assim que Enoque andava com Deus. Essas orações silenciosas sobem para o trono da graça qual precioso incenso. Satanás não pode vencer aquele cujo coração deste modo se firma em Deus.
Não há tempo nem lugar impróprios para se erguer a Deus uma oração. Nada há que nos possa impedir de alçar o coração no espírito de oração sincera. Entre as turbas de transeuntes na rua, em meio de uma transação comercial, podemos elevar a Deus um pedido, rogando a direção divina, como fez Neemias quando apresentou seu pedido perante o rei Artaxerxes. Onde quer que nos encontremos podemos entreter comunhão íntima com Deus. Devemos ter constantemente aberta a porta do coração, erguendo sempre a Jesus o convite para vir habitar nossa alma, como hóspede celestial.
Ainda que nos achemos numa atmosfera maculada e corrupta, não lhe somos forçados a respirar os miasmas, mas podemos viver no puro ambiente do Céu. Podemos cerrar todas as portas a imaginações impuras e pensamentos profanos, erguendo nossa alma à presença de Deus por meio de sincera oração. Aquele cujo coração se acha aberto para receber o auxílio e a bênção de Deus, há de viver numa atmosfera mais santa que a da Terra, tendo constante comunhão com o Céu.
Precisamos ter acerca de Jesus uma visão mais nítida, bem como mais ampla compreensão do valor das realidades eternas. O coração dos filhos de Deus se tem de encher de beleza e santidade; e para que assim seja devemos procurar a divina revelação das coisas celestiais.
Que nossa alma se dilate e eleve, a fim de que Deus nos possa proporcionar um hausto da atmosfera celeste. Podemo-nos conservar tão achegados a Deus que, em cada inesperada provação, nossos pensamentos para Ele se volvam tão naturalmente como a flor se volta para o Sol.
Exponde continuamente ao Senhor vossas necessidades, alegrias, pesares, cuidados e temores. Não O podeis sobrecarregar; não O podeis fatigar. Aquele que conta os cabelos de vossa cabeça, não é indiferente as necessidades de Seus filhos. "Porque o Senhor é muito misericordioso e piedoso." Tia. 5:11. Seu coração amorável se comove ante as nossas tristezas, ante a nossa expressão delas. Levai-Lhe tudo quanto vos causa perplexidade. Coisa alguma é demasiado grande para Ele, pois sustém os mundos e rege o Universo. Nada do que de algum modo se relacione com a nossa paz é tão insignificante que o não observe. Não há em nossa vida nenhum capítulo demasiado obscuro para que o possa ler; perplexidade alguma por demais intrincada para que a possa resolver. Nenhuma calamidade poderá sobrevir ao mais humilde de Seus filhos, ansiedade alguma lhe atormentar a alma, nenhuma alegria possuí-lo, nenhuma prece sincera escapar-lhe dos lábios, sem que seja observada por nosso Pai celeste, ou sem que Lhe atraia o imediato interesse. Ele "sara os quebrantados de coração e liga-lhes as feridas". Sal. 147:3. As relações entre Deus e cada pessoa são tão particulares e íntimas, como se não existisse nenhuma outra por quem Ele houvesse dado Seu bem-amado Filho.
Jesus disse: "Pedireis em Meu nome, e não vos digo que Eu rogarei por vós ao Pai, pois o mesmo Pai vos ama." João 16:26 e 27. "Eu vos escolhi a vós... a fim de que tudo quanto em Meu nome pedirdes ao Pai Ele vos conceda." João 15:16. Orar em nome de Jesus, porém, é mais do que simplesmente mencionar-Lhe o nome no começo e fim da oração. É orar segundo o sentimento e o espírito de Jesus, ao mesmo tempo que Lhe cremos nas promessas, descansamos em Sua graça, e fazemos Suas obras.
Deus não pretende que nos tornemos eremitas ou monges, que nos afastemos do mundo, a fim de nos consagrar a práticas de piedade. Nossa vida deve ser tal como foi a de Cristo - dividir-se entre o monte da oração, e o convívio das multidões. Aquele que não faz senão orar, ou em breve deixará de o fazer, ou suas orações se tornarão formais e rotineiras. Quando os homens se retiram da convivência de seus semelhantes, da esfera dos deveres cristãos, deixando de levar sua cruz, quando deixam de trabalhar zelosamente pelo Mestre, que com tanto zelo por eles trabalhou, privam-se do objetivo essencial da oração, deixando de ser estimulados às devoções, suas preces se tornam pessoais e egoístas. Não podem orar a respeito das necessidades humanas, ou da edificação do reino de Cristo, suplicando forças para o trabalho.
É para nosso prejuízo que nos privamos do privilégio de nos reunir uns com os outros para nos fortalecer e animar mutuamente ao serviço do Senhor. As verdades de Sua Palavra perdem seu vigor e importância para o nosso espírito. O coração deixa de ser iluminado e comovido por sua santificadora influência, e declinamos na espiritualidade. Perdemos muito, em nossas relações como cristãos, devido à falta de simpatia de uns para com os outros. Aquele que se fecha consigo mesmo, não está preenchendo o lugar a que o Senhor o designou. O devido cultivo dos traços sociais de nossa natureza, leva-nos a ter simpatia pelos outros, sendo um meio de nos desenvolver e tornar mais fortes para o serviço de Deus.
Se os cristãos entretivessem convivência, falando entre si do amor de Deus e das preciosas verdades da redenção, seu próprio coração seria refrigerado, ao mesmo tempo que levariam refrigério uns aos outros. Devemos aprender diariamente de nosso Pai celeste, alcançando nova experiência de Sua graça; desejaremos então falar acerca de Seu amor e, assim fazendo, nosso próprio coração crescerá em ânimo e fervor.
Se pensássemos e falássemos mais em Jesus, e menos em nós mesmos teríamos muito mais de Sua presença. Se pensássemos em Deus ao menos tantas vezes quantas vemos Suas demonstrações de cuidado por nós, havíamos de tê-Lo sempre em mente, deleitando-nos em falar a Seu respeito e em louvá-Lo. Falamos sobre as coisas temporais, porque nelas nos interessamos. Falamos em nossos amigos, porque lhes temos amor; com eles compartilhamos as dores e alegrias. Temos, no entanto, razões infinitamente maiores para amar a Deus, do que aos nossos amigos terrestres; e deveria ser a coisa mais natural do mundo dar-Lhe o primeiro lugar em nossos pensamentos, falar de Sua bondade e de Seu poder. Ao conceder-nos tão ricos dons, não era Seu desígnio que estes nos absorvessem por tal forma a mente e o coração, que nada nos restasse para Lhe dar; eles nos devem, ao contrário, fazer lembrar sempre dEle, ligando-nos com laços de amor e gratidão a nosso celeste Benfeitor. Vivemos muito apegados à Terra. Ergamos o olhar para a porta aberta do santuário em cima, onde a luz da glória de Deus resplandece na face de Cristo, o qual "pode também salvar perfeitamente os que por Ele se chegam a Deus". Heb. 7:25.
Devemos louvar mais a Deus "pela Sua bondade e pelas Suas maravilhas para com os filhos dos homens". Sal. 107:8.
Nossas devoções não deviam consistir só em pedir e receber. Não pensemos sempre em nossas necessidades, sem nunca nos ocuparmos com os benefícios recebidos. Não oramos demasiado, mas somos ainda mais econômicos em nossas ações de graças. Estamos a receber continuamente as misericórdias de Deus e, no entanto, quão pouco Lhe exprimimos nosso reconhecimento, quão pouco O louvamos pelo que por nós tem feito!
O Senhor ordenou antigamente a Israel, quando se reuniam para Seu culto: "Ali comereis perante o Senhor, vosso Deus, e vos alegrareis em tudo em que poreis a vossa mão, vós e as vossas casas, no que te abençoar o Senhor teu Deus." Deut. 12:7. Aquilo que fazemos para glória de Deus, deve ser feito com alegria, hinos de louvor e ações de graças, não com tristeza e aspecto sombrio.
Nosso Deus é um terno e misericordioso Pai. Seu serviço não deve ser considerado como um exercício penoso e entristecedor. Deve ser uma honra adorar o Senhor e tomar parte em Sua obra. Deus não quer que Seus filhos, para quem preparou uma tão grande salvação, procedam como se Ele fosse um duro e exigente feitor. É seu melhor amigo, e espera que, quando O adorem, possa estar com eles, para os abençoar e confortar, enchendo-lhes o coração de alegria e amor. O Senhor deseja que Seus filhos encontrem conforto em Seu serviço, achando mais prazer que fadiga em Sua obra. Deseja que aqueles que O buscam para Lhe render adoração, levem consigo preciosos pensamentos acerca de Seu cuidado e amor, a fim de poderem ser animados em todas as ocupações da vida diária, e disporem de graça para lidar sincera e fielmente em todas as coisas.
Precisamos congregar-nos em torno da cruz. Cristo, e Ele crucificado, eis o que deve constituir o tema de nossas meditações, de nossas conversas, e de nossas mais gratas emoções. Devemos conservar em mente todas as bênçãos que recebemos de Deus e, ao compreendermos o grande amor que nos tem, havemos de nos sentir atraídos a confiar tudo às mãos que foram por nós cravadas na cruz.
A alma pode ascender para mais perto do Céu nas asas do louvor. Deus é adorado com hinos e músicas nas cortes celestes, e, ao exprimir-Lhe a nossa gratidão, estamo-nos aproximando do culto que Lhe é prestado pelas hostes celestes. "Aquele que oferece sacrifício de louvor Me glorificará." Sal. 50:23. Cheguemos, pois, com reverente alegria a nosso Criador, com "ações de graças e voz de melodia". Isa. 51:3.