11 de fevereiro de 2013

6. NÃO MATARÁS



DEUS NOS CRIOU PARA VIVERMOS lado a lado com outros, e esse modo de viver exige uma regulamentação adequada. Sem leis para nos orientarmos, seria impossível vivermos em grupo. É como uma rodovia onde vários carros podem circular em segurança se obedecerem a leis tais como: observar a mão de direção, não ultrapassar sem visibilidade, manter sempre uma velocidade razoável, etc. A não observância destas leis tornaria a estrada um lugar perigoso, e em vez de ser útil ao homem, ela seria instrumento de morte e destruição. A nossa vida pode ser boa ou não. Depende apenas de observarmos as leis que nos são propostas.
Deus estabeleceu leis para regerem o nosso relacionamento com o próximo. Uma delas diz: "Não matarás." (Êxo. 20:13.)
 Em primeiro lugar, esta lei aplica-se a nós mesmos. Nós não somos os autores da nossa vida e, assim sendo, não nos é lícito destruí-la. O próprio fato de estarmos vivos traz em si a obrigação de vivermos e preservarmos esta dádiva de Deus.
A questão do suicídio está sempre a ser levantada e nós noticiários. Não há dúvidas de que tal ação é uma violação da lei divina. Agora, quanto ao modo como Deus age com aqueles que desobedecem esta lei, de bom grado eu deixo para Ele, pois não sei qual é, na eternidade, a consequência de tal gesto extremo. Deus reservou para si tal julgamento e, naturalmente, Ele pesa as circunstâncias que cercam o ato e as condições mentais da pessoa.
Além do suicídio, esta norma proíbe o homicídio. Qualquer pessoa normal e sadia aceita a ideia de que não devemos pegar numa arma e atirar em nós mesmos nem em qualquer outra pessoa.
Mas esta lei diz respeito também à observação das regras de higiene e saúde, cuja violação pode causar a morte, ainda que por etapas. Este mandamento proíbe expormos, a nós e a outros, a certos perigos, tais como velocidade excessiva nas estradas, precárias condições de trabalho, habitação inadequada, brincadeiras perigosas, etc.
Também nos é vetada a exposição de nós mesmos ou de outros a riscos morais ou espirituais desnecessários. Se matarmos a fé ou os ideais de uma pessoa, estaremos cometendo uma forma de assassinato.
Comentando a  respeito de um homem que saltara do alto de um edifício, um velho faxineiro que o conhecera disse acertadamente: "Depois que o homem perde a Deus, não tem mais nada a fazer, senão saltar mesmo."
O Rei Jotão não frequentava a igreja, mas sendo de personalidade forte, continuou moralmente justo. Alguns de seus súditos, seguindo o seu exemplo, não iam ao templo. O resultado foi que "...o povo continuava na prática do mal". (II Crôn. 27:2.) Sentimentos tais como ingratidão, negligência, crueldade e indiferença podem ser instrumentos de morte, lentos mas certeiros.
Deus proíbe também as emoções humanas de efeito destrutivo: medo, ódio, ciúme, raiva, inveja, preocupação, tristeza excessiva e outras. Para neutralizar estas forças, temos que cultivar sentimentos positivos e vivificantes tais como a fé, a esperança, a alegria, a criatividade e o amor. O amor, por exemplo, é um modo de se dar. O ato de dar através do amor destrói o egoísmo e elimina os desejos injustos, o ciúme e o ódio, e, em consequência, os homicídios que seriam perpetrados pelo ódio.
Este processo é bem complexo e não simples, como pode parecer aqui. Vamos examinar a tristeza excessiva, por exemplo. É uma forma de autopiedade que brota do egoísmo, o qual é a ausência do amor. "Não matarás" diz respeito a toda a esfera da existência e das razões de se viver. A lei de Deus ordena que reverenciemos a vida humana.
Viver e deixar que os outros vivam expressa apenas uma parte do significado de "Não matarás".
Este mandamento implica realmente em viver e ajudar os outros a viverem. Jesus achou desnecessário proibir-nos de nos tornarmos gangsters e pistoleiros, mas condenou aqueles que passam de largo por um homem ferido. O pensamento central desta lei é que Deus dá o mesmo valor a todos os homens; um Deus que de um só sangue criou todas as nações; um Deus que é o Pai de todos os homens, os quais são irmãos entre si. A regra básica do viver é que vejamos todas as pessoas sob as perspectivas certas.
Lorado Taft estava a ultimar os preparativos para a exposição da estátua de um garoto feita pelo célebre escultor italiano Donatello, e colocava holofotes ao redor da estátua para realçar certos pormenoress. Primeiro, ele os pôs no chão com o facho de luz dirigido para o rosto do menino. Deu dois passos para trás para examinar o efeito e ficou chocado – o garoto tinha uma expressão de idiotismo. Então ele mudou os refletores de lugar. Experimentou todas as posições possíveis. Por fim, colocou-os no alto, com a luz incidindo sobre o rosto. Depois afastou-se novamente e sorriu satisfeito – o garoto parecia um anjo.
Esta história é muito interessante. Quando olhamos as pessoas meramente do ponto-de-vista terreno, algumas realmente podem parecer idiotas. Outras parecem inferiores a nós. É muito facil pensar: "Esta gente é tão sem importância!" Quando, porém, olhamos para qualquer indivíduo à luz da fé cristã, isto é, iluminado pelos holofotes divinos, então vemos Deus nele. A vida humana se torna sagrada para nós, e dizemos: "Não devo matar. Tenho que auxiliar outros a viverem."
Uma das melhores passagens do livro Quo Vadis? é a que focaliza a matança dos cristãos na arena dos leões. Nela, o autor conta a história de Lígia, uma jovem rainha que nos primórdios da era cristã foi capturada e levada para Roma. Juntamente com a princesa, foi o seu servo Ursus, homem de grande estatura. Ambos eram cristãos e deveriam ser lançados às feras. Chegou o momento da sua morte. No anfiteatro achavam-se milhares de espectadores. O gigantesco Ursus foi levado para o centro. Ele se ajoelhou para orar e permaneceu de joelhos, não tencionando oferecer a mínima resistência. Foi então que um touro bravo se arremeteu arena a dentro, em direção a Lígia.
Ao ver a sua rainha ameaçada, Ursus agarrou o animal pelos chifres. Travou-se uma luta feroz: a força bruta do touro contra a força e o coração do gigante. Os pés do homem e as patas do animal enterravam-se na areia. Depois, a cabeça da fera foi-se abaixando lentamente. Na quietude do estádio, ouviu-se o estalido dos ossos do pescoço do touro a quebrar-se. Em seguida, Ursus dirigiu-se para a sua rainha, libertou-a gentilmente das amarras, e carregou-a dali.
Isto ilustra o lado positivo do viver. Feras bravias tais como o ódio, a avareza, o preconceito, a guerra, a ignorância, a pobreza e as enfermidades nos deixam impassíveis, enquanto não ameaçam alguém que amamos. Mas, quando isto acontece, nós lutamos contra elas com todas as nossas forças. Quando amamos a todos os nossos semelhantes, então travamos uma batalha de vida ou morte contra estes inimigos da humanidade
Conheço um homem que, embora já tenha mais de 70 anos, está empenhando grande parte do seu tempo e energias na construção de uma escola. Ele comentou que não poderá conhecer muitas das crianças que passarão por ela, mas como sabe que elas existirão, quer ajudar a preparar as coisas para elas. Este mesmo homem está muito interessado na conservação dos recursos naturais e em qualquer coisa que possa tornar melhor e mais plena a vida da próxima geração. Ele está tão interessado nisso que se dedica integralmente ao
Dia, à cuja luz brilhante,
Todo o mal será revelado,
O dia em que a justiça se revestirá de força
E o sofrimento será apagado.
– Frederick L. Hosmer.