Esta pergunta é extremamente pertinente, e para vou
respondê-la em quatro etapas.
1. Ninguém pode ser
salvo sem a Trindade.
Efésios capítulo 1 nos ajuda a compreender essa verdade de
forma muito clara, pois as três pessoas da Trindade estão ativas na salvação
dos homens. Deus Pai é responsável por todas as bênçãos celestiais e pela
eleição e predestinação: “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo,
que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões
celestiais em Cristo, assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do
mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele, e em amor nos predestinou
para ele, para a adopção de filhos” (Ef.1.3-5). Já o Filho é o meio (critério,
instrumento) pelo qual essa eleição e predestinação é realizada: “nos
predestinou para ele, para a adopção de filhos, por meio de Jesus Cristo,
segundo o beneplácito de sua vontade” (Ef.1.5). Entretanto é em Cristo que
temos a Redenção e Graça: “para louvor da glória de sua graça, que ele nos
concedeu gratuitamente no Amado, no qual temos a redenção, pelo seu sangue, a
remissão dos pecados” (Ef.1.6-7). E o Espírito Santo é a garantia de que essa
salvação será terminada no futuro, pois é Ele quem sela o salvo: “em quem
também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa
salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da
promessa; o qual é o penhor da nossa herança, até ao resgate da sua
propriedade, em louvor da sua glória” (Ef.1.13-14). Essa breve exposição de
Efésios capítulo um nos auxilia a compreender o papel de cada pessoa da
Trindade na salvação do homem de modo que a afirmação inicial mostra-se
verdadeira: Ninguém pode ser salvo sem a Trindade.
2. Uma pessoa pode
ser salva sem entender a Trindade
Eu acredito que uma pessoa pode ser salva sem entender a
Trindade. Não acredito que a salvação esteja restrita àqueles que compreendem
corretamente a Trindade, ou a divindade como um todo. Esse é o caso das
crianças que por depositarem sua fé em Jesus Cristo como seu Salvador estão
salvas sem que mesmo tenham conseguido definir a Trindade. Ou seja, sofreram a
ação da Trindade, muito embora não a possam explicar. Esse é o caso da pessoa
simples que atende ao chamado eficaz da Graça de Deus, deposita sua fé em
Cristo como exclusivo Redentor e está salvo, muito embora, a
complexidade da Trindade não lhe seja de completamente compreensível. Contam-se inumeráveis os cristãos que demonstram dificuldade em expressar sua visão da Trindade, embora creiam nela.
complexidade da Trindade não lhe seja de completamente compreensível. Contam-se inumeráveis os cristãos que demonstram dificuldade em expressar sua visão da Trindade, embora creiam nela.
3. Uma pessoa pode
ser salva sem crer na Trindade
Em terceiro lugar, eu acredito que uma pessoa possa ser
salva sem crer na Trindade. Ao observar as mensagens evangelísticas dos
apóstolos em Atos não consigo ver uma ênfase se quer na doutrina da Trindade.
Na primeira mensagem evangelística registrada em Atos e pessoa vemos algo quase
incomum: Tanto o Espírito Santo tem parte significativa na pregação. Ele é
apresentado como profecia de Deus no Velho Testamento (v.16-21) e é apresentado
como aquele que batiza (v.38). Muito embora eles sejam citados, isso não se
constitui uma definição de Trindade. O apelo não foi, creiam em Deus Pai, no
Filho e no Espírito Santo e sejam salvos? Muito pelo contrário, o apelo foi
pelo arrependimento e aceitação de Jesus como Cristo (v.36). A evidência da
salvação seria o batismo. Mas, no decorrer do livro de Atos, vemos que isso
passa a não acontecer mais, especialmente quando o evangelho chegou à regiões
gentílicas. A própria pregação de Pedro a Cornélio (um prosélito) menciona
rapidamente o Espírito Santo, mas nenhuma doutrina parece ser claramente
ensinada. Mas nesse caso, temos certeza que seus ouvintes foram salvos. Isso
também vale para as pregações de Paulo, que muito embora não fizesse uma
apologia da Trindade, apresentava a Jesus Cristo como Salvador e muito criam e
eram salvos. Vale ainda dizer que é bem provável que os cristãos dos dois
primeiros séculos não tivessem uma formulação da Trindade, e ainda assim eram
salvos. Ainda é válido acrescentar que são inúmeras as passagens que anunciam a
centralidade de Cristo para salvação e não da doutrina da Trindade. Em Romanos
10.9, lemos: “Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu
coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo“. Muito
embora a divindade de Cristo e a ação de Deus seja demonstrada aqui, a
centralidade da fé soteriológica repousa sobre Cristo. Nada é mencionado sobre
a Pessoa do Espírito Santo aqui, e isso não impede que as pessoas que aceitem
sejam salvas. Paulo quando lembra os Coríntios do evangelho que promove a salvação
(1Co.15.1-2) ele faz claras declarações da Pessoa de Cristo (1Co.15.3-4) e
algumas inferências ao Deus Pai e nenhuma citação do Espírito Santo. A própria
apresentação de Paulo da Salvação em Efésios 2 apresenta a Deus como rico em
misericórdia, amoroso (v.4), doador da vida por meio da graça juntamente com
Cristo (v.5), e com Cristo ele ressuscita e faz assentar nas regiões celestiais
em Cristo (v.6) como demonstração para o futuro da sua rica graça (v.7). Ou
seja, muito embora a ação do Pai e do Filho esteja claramente anunciada, o
Espírito Santo novamente não é mencionado. Por isso acredito que aqueles que
tiveram acesso à essas informações apostólicas podem ter acesso a salvação sem
conseguir sistematizar a doutrina da Trindade. Por isso, quando digo que alguém
possa ser salvo sem crer na Trindade penso na doutrina, no conteúdo da fé
sistematizada, e não acredito haver fundamento para a salvação apenas pela fé
trinitária.
4. Não é possível ser
salvo e rejeitar a Trindade
Isso leva a uma última consideração: não é possível alguém
ser salvo e rejeitar a Trindade. Isso é diferente do que não crer. Essa
distinção é importante, pois não crer pode significar não ter tido acesso à
doutrina formalizada, como deve ser o caso de diversas etnias indígenas, que
embora tenham Cristo como Salvado não tiveram um conhecimento sistematizado da
Trindade. Por outro lado, rejeitar implica em ter conhecimento, mesmo que
inadequado, e ainda assim ter completa antipatia a ele. Esse é o caso do Harold
Bloom, que por mais impressionado que possa ficar com o conceito da Trindade
afirma que ele é um absurdo. Mas, então, por que a salvação não pode ser
desfrutada por pessoas que rejeitam a Trindade? Por que é impossível rejeitar a
Trindade sem diminuição das pessoas da Trindade e quando isso ocorre com a
pessoa de Cristo, a salvação está invariavelmente perdida. Esse é o caso do
Testemunha de Jeová, que por atribuir a Cristo uma posição não divina, não
pré-existente acaba por ser enquadrado entre aqueles que “negam que Jesus é o
Cristo” (1Jo.2.22) e que por isso não tem nem o Pai nem o Filho. Esse é o caso
dos gnósticos do passado que negavam a encarnação do Logos (1Jo.4.2) e também
são chamados de impostores (gr. antíchristos) e falsos profetas (gr.
pseudoprofétes).
Portanto, ainda que a doutrina da Trindade tenha grande
valor soteriológico, não creio que a doutrina sistematizada seja o cerne
conteúdo da fé soteriológica. A centralidade do conteúdo da fé que leva à
salvação está sobre a Pessoa de Cristo e Sua Obra.
A nossa definição do termo Trindade
Palco de discussão teologia quanto a definição e compreensão
por parte dos cristãos e completa rejeição por parte dos que estudam a teologia
sem fé, a Trindade é fundamental para a cosmovisão, teologia e prática cristã.
Mais importante do que isso: A doutrina da Trindade é claramente ensinada nas
escrituras.
O conceito da Trindade é fundamento na compreensão da
existência de três pessoas divinas distintas (diferente do unitarismo), que tem
sua própria funcionalidade (diferente do unicismo), que coexistem desde a
eternidade (diferente do modalismo), são unas em essência e propósito
(diferente do politeísmo), reais e ativas no mundo desde sua fundação
(diferente do ateísmo) e defendida pelas escrituras (diferente da nova escola).