Se entrevistássemos o escritor da carta aos Hebreus, e perguntássemos: Quem é Jesus? A resposta estaria nos versículos dois a quatro ( Hb 1:2 -4). Se pedíssemos que o escritor apresentasse argumentos em favor das suas alegações acerca de Jesus, elas estariam expostas nos versículo seis a quatorze ( Hb 1:6 -14).
A abordagem que faremos à carta aos Hebreus será realizada levando em conta o texto e o seu contexto. Não ficaremos presos à divisão feita em capítulos e versículos, antes analisaremos o contexto, e depois, comentaremos alguns aspectos do texto.
Esta abordagem será necessária para estabelecermos um novo parâmetro de análise como subsídio ao comentário bíblico, diferente do que estávamos fazendo com as outras cartas.
Esta maneira de analisar uma carta é uma ferramenta poderosíssima na interpretação de textos, o que auxiliará em muito o estudo dos nossos leitores quando da leitura de outras cartas bíblicas.
A linha de raciocínio do escritor da carta aos Hebreus ficará grafada na cor vermelha, um recurso para tornar fácil visualizar as diferenças entre texto e contexto. A idéia principal do autor da carta aos Hebreus sempre estará colorida de vermelho, e as outras cores, quando utilizadas, evidenciará outros aspectos pertinentes ao texto e o contexto.
Estou grato a Deus pela vida daqueles que puderem ter acesso a esta abordagem.
Hebreus – Capítulo 1
1 Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho,
A idéia principal que estrutura a carta é desenvolvida em uma única linha de raciocínio. Esta linha de raciocínio tem início no primeiro versículo da carta aos Hebreus. A idéia geral que dá estrutura a carta será nomeada de texto.
Durante o desenvolvimento do texto surgirão outras idéias, que podemos nomear subtextos, e que possuem um contexto próprio, porém, são utilizados para complementar ou ilustrar a idéia desenvolvida no decorrer da carta.
A idéia principal geralmente não depende dos subtextos para ser compreendida. Observe:
O versículo um deste capítulo dá início ao texto da carta, porém, só é possível determinar o seu contexto quando da leitura do versículo um do capítulo dois. Só a leitura do capítulo não concede os elementos necessários para se determinar qual o contexto da carta.
Do capítulo um só é possível extrair declarações acerca da pessoa de Jesus. Tais declarações são completas em si mesmas, porém não lançam luz ao contexto da carta.
Só é possível determinar o contexto da carta quando da leitura do capítulo dois, versículo um.
Destaquemos os personagens que compõe a estrutura do versículo um da carta aos hebreus:
"Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho"
Deus – o escritor da carta aos Hebreus fala de Deus, Aquele que se deu a conhecer a Moisés como o 'Eu Sou' “E disse Deus a Moisés: EU SOU O QUE SOU. Disse mais: Assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU me enviou a vós” ( Ex 3:14 );
Pais – Refere-se ao povo de Deus que foi escolhido em Abraão; Ou seja, pais, neste versículo, representam a árvore genealógica do povo de Israel, que teve início com o patriarca Abraão. ‘Pais’ é uma referência a todo o povo de Israel;
Profetas – Eram homens e mulheres escolhidos por Deus dentre os pais para levar mensagens ao povo de Israel;
Nós – referem-se aos cristãos, aqueles que ouviram a palavra de Cristo e o aceitaram como Senhor e Salvador. Observe que o escritor da carta se inclui na narrativa através do pronome na primeira pessoa do plural;
Filho – O escritor fala de Cristo, o Filho de Deus “Quem subiu ao céu e desceu? Quem encerrou os ventos nos seus punhos? Quem amarrou as águas numa roupa? Quem estabeleceu todas as extremidades da terra? Qual é o seu nome? E qual é o nome de seu filho, se é que o sabes?” ( Pv 30:4 ).
Os registos do Antigo Testamento, de Gênesis à Malaquias apresentam a fala de Deus a um povo contradizente “Mas para Israel diz: Todo o dia estendi as minhas mãos a um povo rebelde e contradizente” ( Rm 10:21 ). Deus falou muitas vezes e socorreu outras tantas o povo de Israel, porém, eles eram um povo contradizente, de dura cerviz.
O cuidado de Deus não se restringiu só em falar por diversas vezes. Ele falou diversas vezes e de muitas maneiras, ou seja, através dos profetas, reis, juízes, salmistas, etc.
Os últimos dias referem-se ao ministério de Cristo, a sua morte, ressurreição e a igreja, o corpo de Cristo.
Obs: Os versículo coloridos de vermelho constituem o texto principal da carta, e os versículos em Azul, constituem subtextos.
2 Filho - A quem constituiu herdeiro de tudo, por quem fez também o mundo. 3 O qual, sendo o resplendor da sua glória, e a expressa imagem da sua pessoa, e sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, havendo feito por si mesmo a purificação dos nossos pecados, assentou-se à destra da majestade nas alturas; 4 Feito tanto mais excelente do que os anjos, quanto herdou mais excelente nome do que eles.
O escritor deixa o enredo da carta e passa a falar da pessoa de Cristo. Ele abre um parêntese na escrita da carta para explicar quem é Jesus aos cristãos Hebreus.
Se entrevistássemos o escritor da carta aos Hebreus, e perguntássemos: Quem é Jesus? A resposta estaria nos versículos dois a quatro ( Hb 1:2 -4). Se pedíssemos que o escritor apresentasse argumentos em favor das suas alegações acerca de Jesus, elas estariam expostas nos versículo seis a quatorze ( Hb 1:6 -14).
Este é um recurso que na língua portuguesa denominamos aposto explicativo.
O escritor apresenta nove declarações sobre a pessoa de Jesus. Cada declaração não dependente da declaração seguinte para dar consistência a idéia.
Sobre a pessoa de Jesus o escritor da carta aos Hebreus faz as seguintes declarações:
Herdeiro de tudo – “E, se nós somos filhos, somos logo herdeiros também, herdeiros de Deus, e co-herdeiros de Cristo: se é certo que com ele padecemos, para que também com ele sejamos glorificados” ( Rm 8:17 ) – Jesus, como Filho de Deus é herdeiro de todas as coisas;
Fez o mundo – “Porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades. Tudo foi criado por ele e para ele” ( Cl 1:16 ) – Tudo foi criado por Jesus, o Filho amado;
Resplendor da glória de Deus – “Aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Salvador Jesus Cristo” ( Tt 2:13 ) – Jesus é o resplendor da glória de Deus;
Expressa imagem de Deus – “O qual é imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação” ( Cl 1:15 ); “...para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus” ( 2Co 4:4 ) – Jesus, o verbo de Deus;
Sustenta todas as coisas – “E ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por ele” ( Cl 1:17 ) - Todas as coisas subsistem por Cristo;
Purificou os cristãos dos seus pecados – “Em quem temos a redenção pelo seu sangue, a saber, a remissão dos pecados” ( Cl 1:14 ) – Livrou aqueles que creram de todos os pecados;
Assentou-se a destra de Deus – “O qual está à destra de Deus, tendo subido ao céu, havendo-se-lhe sujeitado os anjos, e as autoridades, e as potências” ( 1Pe 3:22 ) – Demonstra o poder de Cristo após a ressurreição;
É mais excelente que os anjos – “Acima de todo o principado, e poder, e potestade, e domínio, e de todo o nome que se nomeia, não só neste século, mas também no vindouro” ( Ef 1:21 ) – Em todos os tempos o nome de Cristo é sobresselente;
Herdou um nome excelente – “Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu, e o principado está sobre os seus ombros, e se chamará o seu nome: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz” ( Is 9:6 ) – Jesus é o nome sobre todos os nomes.
Observe que todos os outros apóstolos comungam da mesma opinião que o escritor da carta aos Hebreus.
Após fazer este breve comentário acerca da pessoa de Cristo, o escritor passa a demonstrar de onde ele tirou as considerações acima.
A base para a crença dos cristãos está nos escritos do Novo Testamento. Para os apóstolos e/ou para o escritor da carta aos Hebreus as bases para as suas afirmações acerca da pessoa de Cristo estão contidas no Antigo Testamento.
Através do vínculo que os escritores do Novo Testamento faz com o Antigo Testamento podemos perceber, de maneira clara, que o Deus do Antigo Testamento é o mesmo Deus do Novo Testamento. Que o Antigo Testamento é divinamente inspirado por Deus, e seus livros contêm as bases do Novo Testamento. Este não subsiste sem aquele!
A Bíblia é um composto de livros em torno de uma idéia única: Deus revelando-se à humanidade!
A mesma estrutura do texto que temos na carta aos Hebreus encontramo-lo na Carta de Paulo aos Colossenses, quando o apóstolo escreve acerca de Cristo. Observe: “Em quem temos a redenção pelo seu sangue, a saber, a remissão dos pecados; O qual é imagem do Deus invisível, o primogénito de toda a criação; Porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades. Tudo foi criado por ele e para ele. E ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por ele. E ele é a cabeça do corpo, da igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência. Porque foi do agrado do Pai que toda a plenitude nele habitasse, E que, havendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz, por