Embora a doutrina sobre o inferno (vindouro) que aniquilará o pecado definitivamente(a) seja bíblica, o uso da palavra "inferno" é indevidamente utilizada nalgumas traduções da Bíblia. Esse vocábulo é originado do latim "infernum" e alude a um fictício lugar nas profundezas da Terra onde almas pecadoras são continuamente encaminhadas e submetidas a castigos infindáveis (gerenciados por demônios), onde são atormentadas pelo fogo eternamente. Tanto a palavra "infernum" quanto o ensino que ela transmite são totalmente desconhecidos nos textos originais das Escrituras Sagradas.
Existirá uma punição final destinada aos pecadores que rejeitaram o sacrifício de Jesus e os Seus ensinos, mas, não há semelhança alguma com as idéias pagãs que a palavra "inferno" está relacionada. Este termo não deveria ter sido usado nas traduções bíblicas. Ela foi adicionada de maneira indevida em substituição as palavras: "sheol", "hades", "geennan" e "tartaros" que compõem os textos bíblicos originais (hebraico e grego). Isso vem proporcionando gravíssimos erros doutrinários.
SHEOL
Sheol provém do hebraico שׂאל ou שאול e significa sepultura, cova, túmulo, morada dos mortos (pó da terra), escuridão e figurativamente representa a extinção total. Enquanto algumas versões bíblicas utilizam indevidamente a palavra latina "inferno", outras como a Nova Versão Internacional mantêm a sua tradução vinculada diretamente ao original hebraico:
"Pois um fogo foi aceso pela Minha ira, fogo que queimará até as profundezas do sheol..." (Deuteronómio 32:22)
"Voltem os ímpios ao pó, todas as nações que se esquecem de Deus!" (Salmos 9:17)
"As cordas da morte me envolveram, as angústias do sheol vieram sobre mim..." (Salmos 116:3)
"Os seus pés descem para a morte; os seus passos conduzem diretamente para a sepultura." (Provérbios 5:5)
"... que os seus convidados estão nas profundezas da sepultura." (Provérbios 9:18)
"O caminho da vida conduz para cima quem é sensato, para que ele não desça à sepultura." (Provérbios 15:24)
"Castigue-a, você mesmo, com a vara, e assim a livrará da sepultura." (Provérbios 23:14)
"O sheol e a destruição são insaciáveis, como insaciáveis são os olhos do homem." (Provérbios 27:20)
"Eu os redimirei do poder da sepultura; Eu os resgatarei da morte. (...) Onde está, ó sepultura, a sua destruição?..." (Oseias 13:14)
HADES
Deixando à margem os mitos pagãos que são associados a palavra grega "hades" (αδου) e centrando no seu significado etimológico, esta palavra refere-se a: sepulcro, escuridão, região escura, lugar dos mortos (cova, sepultura). E, assim como ocorre com "sheol", a palavra "hades" é substituída por "inferno" inadequadamente em algumas traduções bíblicas. Entretanto, outras, como a Nova Versão Internacional, mantêm o termo original:
"E você, Cafarnaum, será elevada até ao céu? Não, você descerá até o hades!..." (Mateus 11:23; Lucas 10:15)
"... e sobre esta pedra edificarei a Minha igreja, e as portas do hades não poderão vencê-la." (Mateus 16:18)
"No hades, onde estava sendo atormentado, ele olhou para cima e viu Abraão de longe..." (Lucas 16:23)
"... E tenho as chaves da morte e do hades." (Apocalipse 1:18)
"...o seu cavaleiro chamava-se Morte, e o hades o seguia de perto..." (Apocalipse 6:8)
"Então a morte e o hades foram lançados no lago de fogo..." (Apocalipse 20:14)
GEENNAN
A palavra grega "geennan" (γεενναv) esta vinculada ao termo hebraico הנם (Hinnom - lamentação) e, refere-se a "ge Hinnom" que literalmente significa "vale de Hinom". Este vale está situado a sudoeste de Jerusalém e era utilizado pelos canaanitas para oferecer sacrifícios humanos, especialmente crianças, ao deus Moloque. O local específico desse vale onde eram realizados esses ritos chamava-se Tofete (Levítico 20:1-5; II Reis 23:10; Jeremias 32:35).
Posteriormente, a antiga Jerusalém utilizou este local como incinerador de lixo e cadáveres de animais, indigentes e criminosos. Em alguns casos, os corpos eram arremessados em locais desprovido de fogo, e os vermes os utilizavam como alimento. Essas cenas do vale de Hinom são descritas pelo profeta Isaías: "Eles sairão e verão os cadáveres dos homens que prevaricaram contra Mim; porque o seu verme nunca morrerá, nem o seu fogo se apagará; e eles serão um horror para toda a carne." (Isaías 66:24).
Devido ao propósito desse local, o fogo era mantido constante e, enxofre, era lançado para auxiliar neste objetivo. O vale de Hinom passou a ser considerado símbolo de maldição e terror entre os judeus. E com propriedade Jesus Cristo narrou para eles o destino dos ímpios utilizando as cenas que esse vale retratava:
"E, se tua mão te faz tropeçar, corta-a; pois é melhor entrares maneta na vida do que, tendo as duas mãos, ires para o inferno [geennan - "γεενναν"], para o fogo inextinguível. (...) onde não lhes morre o verme, nem o fogo se apaga." (Marcos 9:43-48) - versão João F. Almeida Revista e Atualizada.
Este cenário representa o lago de fogo e enxofre do juízo final, onde estarão os que tiveram seus nomes riscados do Livro da Vida (Apocalipse 20:15 cf Apocalipse 19:20). Nestes versos observa-se o emprego de figura de linguagem, pois, não existe verme imortal e fogo que não se apaga. Em ambos os casos a existência depende de fatores externos. Esgotando as condições que os mantêm, eles deixam de existir. O "fogo" de Sodoma e Gomorra esclarece esta questão:
"(...) destruiu, depois, os que não creram; e a anjos, os que não guardaram o seu estado original, mas abandonaram o seu próprio domicílio, Ele tem guardado sob trevas, em algemas eternas, para o juízo do grande dia; como Sodoma, e Gomorra, e as cidades circunvizinhas, que, havendo-se entregado à prostituição como aqueles, seguindo após outra carne, são postas para exemplo do fogo eterno, sofrendo punição." (Judas 1:4-7)
"(...) e, reduzindo a cinzas as cidades de Sodoma e Gomorra, ordenou-as à ruína completa, tendo-as posto como exemplo a quantos venham a viver impiamente; e livrou o justo Ló, afligido pelo procedimento libertino daqueles insubordinados..." (II Pedro 2:4-11)
Esses versos esclarecem que os habitantes das referidas cidades receberam punição, ruína completa, pelos seus pecados e se tornaram "exemplos do fogo eterno". As populações desses lugares não continuam a sofrer punição em um "fogo contínuo" ("fogo inextinguível") pois elas deixaram de existir. Mas as conseqüências do fogo, a punição, permanecem pela eternidade. O fogo perdurou enquanto o que mantinha-o ativo existia, extinguindo-se o fogo, permanece o resultado de sua atuação - a perdição (destruição) eterna para aqueles que lhe fora submetido.
Não há nenhuma relação entre "infernum" e "geennan" como foi descrito na introdução. O vocábulo latino "inferno" está relacionado a fábula de um lugar conhecido como "o submundo", "as profundezas das trevas", "as regiões inferiores" onde os ímpios são enviados e sofrem eternamente assolados por agentes diabólicos. A palavra inferno representa idéias pagãs, ela não tem vínculo algum com os textos originais em hebraico e grego que formam a Bíblia; diverge por completo do significado de "geennan". Os versos bíblicos onde este termo foi substituído por "inferno" são: Mateus 5:22, 29 e 30; Mateus 10:28; Mateus 18:9; Mateus 23:15 e 33; Marcos 9:43, 45 e 47; Lucas 12:5; Tiago 3:6.
TARTAROS
O termo "tartaros" (ταρταροω) refere-se a "lugar sombrio", "lugar de trevas", "região tenebrosa". E, embora não haja vínculo com as palavras "sheol" e "hades", pode-se vinculá-lo com "geennan" quanto aos acontecimentos futuros reservados, também, aos anjos caídos. "Tartaros" é utilizado unicamente em II Pedro 2:4 e, infelizmente, assim nos casos anteriores, foi substituído pela palavra "inferno":
"Ora, se Deus não poupou anjos quando pecaram, antes, precipitando-os no inferno [tartaros - "ταρταρωσας"], os entregou a abismos de trevas, reservando-os para juízo." - versão João F. Almeida Revista e Atualizada.
Pedro não relaciona "tartaros" com as idéias que os gregos tinham e, tampouco, com o conceito popular dos judeus sobre "geennan". Pedro usa linguagem simbólica e não refere-se a existência de lugares especiais onde os anjos caídos estão presos. O verso retrata sobre o juízo futuro na qual eles estão aguardando (Apocalipse 20:7-15 cf I Coríntios 6:3). O verso de Judas 1:6 descreve, também este fato:
"E, quanto aos anjos que não conservaram suas posições de autoridade mas abandonaram sua própria morada, Ele os tem guardado em trevas, presos com correntes eternas para o juízo do grande dia."
Ou seja, esses anjos estão presos em meio as circunstâncias espirituais. Eles não possuem mais a presença do SENHOR em suas vidas, estão para sempre afastados da condição espiritual na qual eles se encontravam no Céu, antes de se rebelarem contra Ele. Agora se encontram envolvidos em "abismos espirituais", em profundas "trevas espirituais" na Terra, habitando entre a humanidade, mas; em uma dimensão espiritual (atmosfera espiritual - Efésios 6:12; Lucas 11:24-26). Estão presos aguardando a futura punição, não se encontram (como alguns ensinam baseados no conceito pagão de inferno) sob infindável punição. As correntes que os prendem não são literais e tampouco poderiam ser eternas, pois, um dia eles serão exterminados e tais "correntes" perderão o propósito e a qualidade de "eternas".