28 de maio de 2010

A DIVINDADE DO FILHO

"Que pensais vós do Cristo? de quem é filho?" (Mt 22:42)
"Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo" (Mt 16:15)
Vimos no estudo anterior que a vinda de Jesus Cristo nada teve de casual, e nem mesmo de inesperada. Ele veio na plenitude dos tempos, e sua missão já estava completamente elaborada antes da fundação do mundo. Muitos aspectos de sua primeira vinda já tinham sido profetizados por muitas pessoas, desde a queda de Adão.
A Bíblia afirma claramente que Jesus, o Verbo divino, se fez carne e andou entre os homens (Jo 1:14). Quando estudamos a pessoa e obra de Jesus, não podemos fugir ao importante fato de Deus ter se encarnado e assumido a condição humana, à semelhança de todos os homens. Igualmente importante é a pergunta: Jesus é realmente Deus ou apenas um homem extraordinário? Todos os verdadeiros cristãos crêem que Jesus é Deus, com todas as prerrogativas divinas do Pai. Mas há sustentação bíblica para tal afirmação? Vejamos.

1. As características Exclusivas de Deus em Jesus
As Escrituras não afirmam explicitamente que Jesus é Deus, mas deixam muito claro que o Filho possui todas as características e atributos de Deus, não podendo ser tido por alguém menos que Deus. As provas são abundantes em todo o NT. Comecemos pela idéia que Cristo a seu próprio respeito.

1.1. A Autoconsciência de Jesus
Jesus tinha uma clara consciência sobre sua pessoa. As alegações que Jesus fez sobre sua própria pessoa não teriam sentido se Ele não tivesse sobre si mesmo a clara noção de divindade. Tudo indica que Ele sabia que era Deus, pois disse:

Que os anjos eram seus, e os poderia enviar (Mt 13:41). Em Lc 12:8,9 e 15;10, os anjos são chamados anjos de Deus.
Que o reino dos Céus (Mt 13:24,31,33,44,45,47), que é o reino de Deus (Lc 17:20), é também o seu reino (Mt 13:41).
Ter autoridade para perdoar os pecados (Mc 2: 1-12), tarefa que cabe exclusivamente a Deus. Aliás, por causa disso os fariseus o acusaram dizendo "Isto é blasfêmia! Quem pode perdoar pecados, senão um que é Deus?". Perdoar pecados é uma prerrogativa divina.
Que julgará todos os homens, separando os bons dos maus (Mt 25:31-46, Lc 13: 23-30). No AT, o Deus Todo-Poderoso, é o único chamado de Juiz de toda a terra (Gn 18:25) e o único com prerrogativa de julgar as nações (Jz 11:27; Sl 75:7; Sl 82:8; Ec 11:9 e 12:4). Só Deus pode exercer tal autoridade e poder.
Ser o Senhor do sábado (Mc 2: 27,28). O valor do sábado foi definido por Deus (Ex 20: 8-11), e somente alguém igual a Deus poderia anular ou modificar essa norma.
Ter autoridade pessoal no mesmo nível que a autoridade do AT (Mt 5:21,22,27,28). Nessas passagens, Jesus deixa claro ter autoridade para estabelecer novos ensinamentos, no mesmo nível da autoridade que era dispensada ao ensino de Moisés e dos profetas das Escrituras.
Ter poder para vivificar e ressuscitar os mortos (Jo 5:21). Somente Deus teria poder para vivificar os mortos. Jesus não só alegou, como também ressuscitou a várias pessoas (Lc 7:11-15; Mt 9:18,19,23-26; Jo 11:17-44). Mas de seus milagres, sem dúvida, a ressurreição de si mesmo, foi seu maior sinal (Mt 12:39).
Ser a ressurreição e a vida (Jo 11:25). Alegava ter poder suficiente para fazer tornar a viver qualquer que cresse nEle, mesmo que esta morresse. Um atributo exclusivo do Senhor Deus, que Ele estava reivindicando nessa passagem.

1.2. Suas afirmações com respeito ao Pai
Jesus, alegou várias vezes possuir um relacionamento íntimo e mesmo bastante incomum com o Pai, que soaria como loucura, caso Ele não Deus.

Ele afirma ser um com o Pai (Jo 10:33).
Afirma que quem O vê, vê o Pai (Jo 14: 7-9).
Afirma que preexistia antes de Abraão (Jo 8:58). Sua afirmação é no presente "Eu Sou", semelhante ao nome com que o Deus Eterno se revelou a Moisés no sinai (Ex 3:14,15). Isso ficou tão claro para os judeus (sua reivindicação de divindade), que quiseram apredejar a Jesus por blasfêmia.
Afirma que quem O honra, está honrando o Pai (Jo 5:23).
Afirma ter a mesma natureza de vida que existe somente em Deus, o Pai (Jo 5:26).
1.3. As reações e afirmações das pessoas que conviveram com Ele
Várias pessoas do NT, que tiveram contacto com Jesus, se manifestaram, uns contra, outros a favor, da clara posição e prerrogativa que Jesus requeria e assumia para sua vida.

A reação do povo comum (Jo 7:11,12,31,40,41,46): muitos acreditavam ser Ele o Messias prometido, outros que enganava o povo. Ninguém permanecia indiferente ante a sua pessoa.
A reação e declaração do sumo sacerdote à resposta franca de Jesus (Mt 26: 62-65): a clara afirmação de Jesus que se sentaria a direita do Todo-Poderoso (o lugar de honra, que só deveria ser dada a Deus), levou o sumo sacerdote a rasgar suas vestes (ato realizado na presença de uma grande calamidade) e o sinédrio a sancionar a pena de morte por blasfêmia, uma vez que Ele se fizera igual a Deus. Aliás, essa passagem é uma das declarações mais claras da divindade de Jesus.
De alguns escribas e fariseus (Jo 19:7,8): que Ele se fez a si mesmo o Filho de Deus.
A declaração de Tomé (Jo 20:28): "Senhor meu e Deus meu!!". Jesus aceita a declaração e adoração de Tomé. Caso não fosse Deus, certamente Ele aproveitaria tal oportunidade para corrigir uma concepção errada sobre a sua pessoa.

2. Vários Testemunho das Escrituras sobre a divindade de Jesus
2.1. No evangelho de João
João identifica Jesus como o Verbo pré-encarnado, a Palavra em ação. Em Jo 1, lemos "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus" (vs.1). João deixa claro que Jesus é um com Deus, e ao mesmo tempo o distingue de Deus (vs. 2). Afirma que todas as coisa foram feitas por meio dEle, e sem Ele nada do que foi feito se fez (vs. 3). a Bíblia também afirma que no princípio todas as coisas foram criadas por Deus (Gn 1:1), e assim João estabelece uma identificação entre Jesus e o Deus Criador. Afirma também que esse Verbo divino se fez carne (vs. 14), e que somente Ele revela plenamente a Deus (vs. 18). É um grande testemunho a respeito da divindade do Filho.

2.2. Nos escritos de Paulo
Paulo mostra claramente sua crença na divindade de Jesus. Em Cl 1:15-20, Paulo afirma que Jesus é a imagem do Deus invisível, no qual todas as coisa subsistem, e que nEle reside toda a plenitude (veja também Cl 2:9).Paulo se refere ao julgamento de Deus (Rm 2:3) e ao julgamento de Cristo (IITm 4:1; IICo 5:10), de maneira intercambiável.
Em Fp 2:5-11, Paulo ensina que Jesus, sendo Deus, se autolimitou, esvaziando-se a si mesmo de seus privilégios divinos e sendo reconhecido em figura humana. Quando Paulo diz que Jesus tema forma (morphé no original) de Deus, a idéia é que Cristo tem a mesma essência de Deus. Em outras palavras, o vs.5 quer dizer que, embora Jesus tivesse a mesma essência de Deus, não utilizou isso em vantagem própria. E logo em seguida deixa claro que virá um dia em que todos haverão de prestar honras e louvores a Ele, numa linguagem só permitida a alguém que crê que Jesus seja realmente Deus.

2.3. Nas outras epístolas
Em Hebreus: das epístolas não-paulinas, a de Hebreus, é a que mais contrasta a divindade de Jesus com relação aos anjos e aos homens. Em Hb 1:3, afirma que Jesus é o resplendor da glória e a expressão exata de Deus. Não somente isso, mas também afirma que Jesus foi o meio pelo qual todas as coisas foram feitas (vs. 2), as quais são sustentadas pela palavra do seu poder (vs. 3). Uma afirmação clara é encontrada no vs.8, no qual Jesus é tratado por Deus: "mas acerca do Filho: O teu trono, ó Deus, é para todo o sempre, e: Cetro de eqüidade é o cetro do seu reino". A epístola continua argumentando que Jesus é muito superior aos anjos (Hb 1:4 - 2:9), a Moisés (3:1-6) e aos sumos sacerdotes (4:14 - 5:10). Mas o autor deixa claro que sua superioridade não reside apenas em termos de posição hierárquica, mas sim de natureza intrínseca, pois todos os outros são criaturas, mas o Filho é Deus. Vejamos nais alguns argumentos da Biblia:

Em I João: em 1:1-3, Jesus é o Verbo da vida eterna, já pré-existente no princípio de todas as coisas, juntamente com o Pai. No capítulo 5:20, Jesus é chamado de Filho de Deus e explicitamente identificado como verdadeiro Deus e a vida eterna:
"Também sabemos que o Filho de Deus é vindo, e nos tem dado entendimentopara reconhecermos o verdadeiro; e estamos no verdadeiro,em seu Filho Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna."

Em II Pedro: em 1:1, Pedro também chama a Jesus de Deus e Salvador:
"Simão Pedro, servo e apóstolo de Jesus Cristo, aos que conosco obtiveram fé igualmente preciosa na justiça do nosso Deus e Salvador Jesus Cristo."

Em Apocalipse: em 1:8, o Senhor Deus Todo-Poderoso é apresentado como o Alfa e o Ômega, que representado o princípio e o fim de todas as coisas. Mas em 1:17-18, Jesus se apresenta com os mesmos títulos outorgados ao Deus Todo-Poderoso:
"Quando o vi, caí a seus pés como morto. Porém ele pôs sobre mim a sua mão direita, dizendo: Não temas; eu sou o primeiro e o último, e aquele que vive; estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos, e tenho as chaves da morte e do inferno."

Também em 19:16, Jesus recebe o título de Rei dos reis e Senhor dos senhores, uma clara alusão a sua soberania e majestade divinas.

2.4. No uso comum do termo Senhor por todo o N.T.
Vários foram os nomes pelos quais as Escrituras provam ser Jesus, o próprio Deus encarnado: Deus (Hb 1:8); Filho de Deus (Mt 16:16); Reis dos reis e Senhor dos senhores (Ap 19:16); Verbo (Jo 1:1), etc. Mas é pelo título Senhor que Jesus é mais conhecido. ainda que tal termo seja geral e não prove por si mesmo a divindade de Jesus, em várias passagens ele realmente indica a posição divina que Jesus desfrutava.
Quando os judeus traduziram o A.T. para o grego, os nomes sagrados de Deus Yahveh (YHWH) e Adonai, foram traduzidos por Kyrios (que quer dizer Senhor, dono), sendo tido por um termo reverente. O termo era também usado respeitosamente pelos romanos para se referir a César, como o Senhor. Somente por estas razões, este termo quando aplicado a Jesus já deveria dar suficiente conotação da divindade de Jesus. Mas além disso, várias passagens que se referem a Jesus como Senhor são na verdade citações do A.T., onde o nome original de Deus foi traduzido por Senhor (At 2: 20,21 em contraste com o 36 e Rm 10: 9, 13 e verifique Jl 2: 31,32; I Pe 3:15, confira com Is 8:13). O título aqui dado a Jesus é no mesmo sentido que o A.T. dava ao Deus Todo-Poderoso. Há outros textos que o título Senhor é usado tanto para o Pai (Mt 1;20; 9:38; At 17;24) quanto para o Filho (Lc 2:11; Jo 20:28; I Co 2:8; Fp 2;11).
Para o judeu, chamar a Jesus de Senhor, seria colocá-lO na mesma posição de igualdade com o Deus das Escrituras. Os escritores do N.T., tinham isso em mente ao se referir, muitas vezes, a Jesus como Senhor.