13 de maio de 2010

A INSPIRAÇÃO DA BÍBLIA

1- Definição da inspiração.
A inspiração é uma acção sobrenatural do Espírito de Deus sobre os autores bíblicos afim que os seus escritos correspondam exactamente àquilo que Deus queria que eles escrevessem; comunicar a Verdade. A Bíblia é deste modo a Palavra de Deus (2ª Pedro 1:20,21; 2ª Timóteo 3:16; Jeremias 1:9; 30:2; Êxodo 24:4). No Antigo Testamento e do mesmo modo no Novo Testamento, é Deus em Pessoa que fala.

2- A necessidade da inspiração.
- O homem, criado por Deus, não pode conhecer o pensamento do Seu Criador se Este não lhe falar. É indispensável que Deus comunique com o homem para lhe explicar os Seus actos e planos. Razão pela qual Deus falou aos homens desde a origem (Génesis 1:28). No entanto a revelação de Deus torna-se ainda mais indispensável depois da queda, porque o pensamento do homem pecador alheou-se do pensamento de Deus, tornou-se mesmo contrário (Efésios 4:17-20; Colossenses 1:21; Isaías 55:7-9).
- Certas verdades podem ser descobertas pelo homem por meio da inteligência natural e da sua razão (Romanos 1:19,20); mas as verdades essenciais para a salvação do homem não podem ser conhecidas senão pela revelação do próprio Deus (1ª Coríntios 2:6-12; João 8:38; 16:12-15). A transmissão destas verdades torna indispensável a inspiração divina da Bíblia.
- Os apóstolos, e todos os crentes ao longo da história, puderam falar com autoridade devido ao facto que eles acreditaram na Palavra inspirada de Deus (Actos 24:14; 4.25; 1ª Timóteo 1:15; 2ª Timóteo 3:14-15; Tito 3:8). A inspiração divina da Bíblia dá à pregação do evangelho o seu fundamento e consequentemente valor e autoridade.

3- A natureza da inspiração.a) O papel dos escritores.- Deus tomou a iniciativa da redacção da Bíblia: os autores foram “impressionados” a falar (2ª Pedro 1:21). O termo “impressionados” significa literalmente “movidos, agitados” o que se encontra também em Actos 27:18 onde é descrito um barco agitado pelo vento. Os escritores sagrados não falaram por sua própria iniciativa mas “da parte de Deus”.
- Para além dos escritores sagrados, foi Deus o verdadeiro autor da Bíblia. Toda a Escritura é “inspirada por Deus (2ª Timóteo 3:16). Esta expressão, em grego, significa “soprados” por Deus. A Escritura é deste modo o produto do sopro da boca de Deus (cf. Génesis 2:7; Salmo 33:6).
- O Espírito Santo falou através de homens inspirados (2ª Pedro 1:21) de tal maneira que as suas palavras pertencem ao Espírito Santo (Actos 1:16; 4:25; 28:25; Hebreus 3:7; 10:15-17; Ezequiel 11:4,5).
- Os profetas e os apóstolos eram conscientes de serem porta-vozes de Deus; eles afirmaram repetidas vezes terem recebido de Deus a mensagem que eles comunicavam (2ª Samuel 23:1-3; Jeremias 7:1-3; Malaquias 1:1; Gálatas 1:6-12; 1ª Tessalonicenses 2:13; 2ª Pedro 3:2; etc.).
- Por estas razões, a Escritura e Deus estão tão intimamente associados que o apóstolo Paulo pode atribuir a Escritura a palavras pronunciadas por Deus. é o caso em Gálatas 3:8 aquando, historicamente, Deus falou directamente a Abraão antes que as suas palavras tenham sido escritas. A situação encontra um paralelo em Romanos 9:17.
b) Inspiração verbal.- Deus não só inspirou os escritores sagrados a ideia que Ele queria que eles transmitissem, mas comunicou-lhes os termos precisos que eles deveriam empregar. Assim, o pensamento de Deus só podia ser expresso com exactidão na medida que fossem empregues as palavras de Deus (cf. Jeremias 1:9). A inspiração bíblica é designada pela expressão verbal (ou seja a própria palavra).
- Quando Jesus Cristo ou os apóstolos recorrem à autoridade do Antigo Testamento para estabelecer um ponto de doutrina, eles dão alta importância aos termos da Escritura. Por exemplo:
* João 8:58, Jesus insiste sobre o tempo do verbo de Êxodo 3:14;
* Gálatas 3:16, Paulo baseia-se sobre o singular de Génesis 12:7;
* Hebreus 2:11-12; 4:7; 6:13; 12:26,27; etc., o autor fundamenta-se sobre os termos precisos do Antigo Testamento.
Assim, os termos da Escritura, até nos detalhes, são revestidos de significado (cf. Lucas 16:17).
Nota: a inspiração verbal integra no texto uma linguagem original; as traduções não podem ser colocadas ao mesmo nível ainda que elas visem a maior exactidão.

c) Perfeição divina e personalidade dos escritores.
A inspiração dos escritos sagrados aliam duas particularidades que parecem excluírem-se:
- Comunicar sem erro do pensamento divino;
- Preservar a personalidade do escritor.
Os autores sagrados eram todos falíveis (cf. 1ª Timóteo 1:15; Gálatas 2:11) mas o Santo Espírito preservou a sua redacção de toda a imperfeição ou limitação humana. Pode comparar-se este facto à concepção miraculosa de Jesus que, nascido de uma mulher pela virtude do Espírito Santo, foi “sem mácula, separado dos pecadores” (cf. Lucas 1:35; Hebreus 7:26).
Portanto a inspiração não foi “ditada” transformando os escritores em simples executantes, como se fossem robôs. Deus impressionou-os sem suprimir a personalidade deles; Ele comunicou-lhes de forma soberana a Sua palavra utilizados todas as capacidades dos autores, temperamentos e vocabulário que lhes era particular.
Como Jesus Cristo era ao mesmo tempo verdadeiro Deus e verdadeiro homem, da mesma maneira a Bíblia é ao mesmo tempo Palavra verdadeiramente divina e palavra verdadeiramente humana, portanto, aí está a marca dos autores.
O carácter, a inteligência e a formação dos autores surge na redacção. Por exemplo:
- Mateus, o cobrador de impostos, é o único a relatar o pagamento do tributo em Cafarnaum (Mateus 17:24-27).
- Lucas, o médico, é o único a relatar a parábola do bom Samaritano (Lucas 10:30-37);
- A redacção dos seus escritos foi precedida de “informação minuciosa” (Lucas 1:3);
- Deus não proíbe Jeremias estando desencorajado a escrever “não me lembrarei mais dele, e não falarei mais no seu nome” (Jeremias 20:9);
Esdras (9:1,3-5; 10:1) e Neemias (13:23, 25, 28) relatam as reacções completamente diferentes que eles tiveram face à mesma situação: constatando que os israelitas tinham estabelecido com os povos estrangeiros, Esdras fica desolado, humilhar-se e chora, enquanto Neemias repreende, amaldiçoe e bate.
Em resumo: Deus, que é a Palavra (João 1:1), toma a iniciativa, escolhe um homem e impressiona; o Espírito Santo dirige-se à sua inteligência, à sua razão e ao seu carácter, inspira e, através dele, dirige-se ao mundo.
d) Revelação perfeita.
A Escritura é uma revelação perfeita (Salmo 19:8,9). Deus, que é perfeito, inspirou-a de forma a garantir a sua infalibilidade, a sua falta de erros fala por si mesma.
O que não significa que Deus tenha revelado tudo o que Ele poderia revelar (Deuteronómio 29:29; João 20:30,31), mas a Escritura traz tudo o que Deus quis revelar (Judas 3).

4- O testemunho de Jesus Cristo sobre a inspiração.
O maior testemunho dado às Escrituras é oferecido por Jesus Cristo. Ele refere-se constantemente a elas e reconhece-lhes uma total exactidão e uma autoridade incontestável:
- Começa o Seu ministério citando a passagem de Isaías (Lucas 4:16-21);
- Faz recurso à Escritura para enfrentar as tentações do diabo (Mateus 4:4,7,10);
- Ele considera que os homens e os acontecimentos citados nos Antigo Testamento tiveram cumprimento histórico (a criação em Mateus 19:4; o sacrifício de Abel em Lucas 11:51; Noé e o Dilúvio em Mateus 24:37-39; a serpente de bronze em João 3:14; Elias e Eliseu em Lucas 4:25-27; Jonas em Mateus 12:40,41; etc.);
- Jesus pede que os homens creiam na Palavra escrita (João 5:39,46; Lucas 10:26; 16:29,31) e ele a coloca acima das tradições religiosas (Marcos 7:8,9) porque elas são a única verdade (João 17:17).
Jesus confirma globalmente o Antigo Testamento nas suas três partes literárias: a lei de Moisés, os profetas e os salmos (Lucas 24:44).
Ele sanciona de forma antecipada a inspiração do Novo Testamento:
- Os Evangelhos “o Espírito …vos lembrará todas as coisas que eu vos tenho dito”, João 14:26;
- Os Actos e as Epístolas “o Espírito vos conduzirá em toda a verdade”, João 16:13,14;
- O Apocalipse “o Espírito… vos anunciará as coisas que hão de acontecer”, João 16:13.
Assim o testemunho de Cristo engloba toa a Escritura.

5- A actualidade do texto inspirado.
O Espírito de Deus que inspirou a Bíblia age sobre aquele que a lê (Romanos 10:17).
A Bíblia não é somente uma recolha de palavras que Deus pronunciou outrora em circunstâncias particulares. Se por um lado elas são um documento histórica, elas são muito mais do que isso. Ela permanece nos nossos dias a mensagem de Deus. Elas são a Palavra que Deus dirige hoje ao mundo. A Sagrada Escritura não passa (Mateus 24:35; 1ª Pedro 1:23).
A Escritura comunica o pensamento, as intenções, a acção, a graça, o amor e as exigências de Deus para o momento presente. Elas têm por objectivo que o homem de hoje venha a ser conforme à imagem de Cristo (cf. 2ª Tito 3:16,17).
Apesar de todos os assaltos e ataques à Bíblia, a Escritura subsiste porque ela não pode ser destruída (João 10:35; 1ª Pedro 1:23,25).

Nota:
O homem é limitado enquanto que Deus é infinito. Deste facto, as passagens bíblicas podem colocar problemas à inteligência humana que não consegue discernir o que a ultrapassa (Romanos 11:33), nem conciliar as verdades que aos seus olhos parecem excluir-se (exemplo: o Deus soberano e a responsabilidade do homem).
O crente fiel à Palavra não pode dar respostas a todas as questões que se colocam, nem dar explicações a todas as passagens difíceis da Bíblia. A Escritura afirma que contém coisas difíceis à compreensão (2ª Pedro 3:15,16).
As Escritura não contem contradições. No entanto, certas passagens parecem opor-se ao primeiro relance, a solução é descoberta quando considerada no conjunto da Escritura e lembrando-nos que a Bíblia não propõe informações detalhada sobre todos os assuntos (cf. João 21:25). Do mesmo modo a Bíblia é assertiva, afirma e não explica (exemplo: a Criação).
Pela mesma razão, não é possível tirar certas conclusões a partir dos “silêncios” da Escritura. É necessário que saibamos escutar Deus e nunca dizer o que Deus não disse. Ela tem, no entanto, tudo quanto ao arrependimento, à justificação e salvação por nosso Senhor Jesus Cristo. Ela revela tudo quanto o pecador necessita para encontrar o Caminho da Esperança.