Deus é infinitamente bom e todas as suas obras são boas. No entanto, ninguém escapa à experiencia do sofrimento, dos males da natureza – que aparecem como ligados aos limites próprios das criaturas –, e sobretudo à questão do mal mora. Donde vem o mal? “Quaerebam unde malum et non erat exitus – Procurava a origem do mal e não encontrava solução”, diz Santo Agostinho.
A realidade do pecado e, dum modo particular, a do pecado das origens, só se esclarece à luz das Escrituras. Sem o conhecimento que estas nos dão de Deus, não se pode reconhecer claramente o pecado, e somos tentados a explicá-lo unicamente como falta de maturidade, fraqueza psicológica, erro, consequência necessária duma estrutura social inadequada, etc. Só no conhecimento do desígnio de Deus sobre o homem é que se compreende que o pecado é um abuso da liberdade que Deus dá às pessoas criadas para que possam amá-Lo e amarem-se mutuamente.
1. Com quem se originou o pecado?“Quem comete pecado é do Diabo; porque o Diabo peca desde o princípio. Para isto o Filho de Deus se manifestou: para destruir as obras do Diabo.” 1ª João 3:8.
Nota: “é do Diabo” – ou seja, é filho do Diabo e faz a vontade do Diabo (cf. João 8:44).
“O Diabo peca desde o princípio.” Este frase pode referir-se a 1) o início da oposição do Diabo a Deus; ou seja, desde o começo do pecado, ou 2) ao momento quando Satanás induziu Adão e Eva a pecarem; ou seja, desde o começo do pecado do homem, pois desde esse tempo o pecado tem permanecido sem cessar e a levar todos a pecar.
“O que era desde o princípio” (1ª João 1:1), João começa o Evangelho com as palavras “No princípio”, assim começa também a sua primeira epístola com a expressão “desde o princípio”. A diferença é significativa. No Evangelho destaca-se que o Verbo existiu no tempo desde o “princípio”; aqui conforma-se com o afirmar que o Verbo existiu desde o princípio do tempo. O Evangelho foca o principio e antes que este tivesse começado; a epístola foca o princípio e o tempo a partir daí. Também é possível uma interpretação ainda mais limitada referindo-se estas palavras ao principio da era cristã (cf. 2:7), mas uma comparação com João 1:1-3 concede pouco apoio a esta limitação.
Em todo o caso o pecado surge desde a história da queda narrada em Génesis, e Jesus manifesta-Se para resolver com a sua Morte e Ressurreição o problema do Pecado.
2. Quem é o originador do Pecado?
“Vós tendes por pai o Diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai; ele é homicida desde o princípio, e nunca se firmou na verdade, porque nele não há verdade; quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio; porque é mentiroso, e pai da mentira.” João 8:44.
Nota: Diabo “o caluniador”, “mentiroso”. Parece ter uma carreira ou profissão de mentiroso.
3. Esta profissão onde começou?“Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado, até que em ti se achou iniquidade.” Ezequiel 28:15.
Nota: Esta declaração e a de João 8:44, de que ele “não se firmou na verdade,” mostra que Satanás a principio fora perfeito e estivera na verdade. S. Pedro fala dos “anjos que pecaram” (2ª Pedro 2:4); e S. Judas alude “aos anjos que não guardaram o seu principado” (S. Judas 6); ambas as passagens mostram que esses anjos estiveram em estado de pureza e inocência.
4. Que outra declaração de Cristo parece atribuir a Satanás e aos seus anjos toda a responsabilidade pela origem do pecado?“Então dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o Diabo e seus anjos.” Mateus 25:41.
5. Que terá levado Satanás ao pecado, rebelião e queda?
“Elevou-se o teu coração por causa da tua formosura, corrompeste a tua sabedoria por causa do teu resplendor; por terra te lancei; diante dos reis te pus, para que te contemplem.” Ezequiel 28:17
“E tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono; e no monte da congregação me assentarei, nas extremidades do norte; subirei acima das alturas das nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo.” Isaías 14:13-14.
Nota: Numa palavra, orgulho e exaltação própria produziram a queda de Satanás, e para estes não há justificação ou escusa adequada. “A soberba prece a ruína, e a altivez de espírito precede a queda” Provérbios 16:18. por isso, visto conhecermos a origem, causa, carácter e resultado do mal, não existe boa ou suficiente razão ou escusa que possa ser apresentada para o mal. Desculpá-lo equivale a justificá-lo; e desde que seja justificado, deixa de ser pecado. Todo pecado é manifestação de orgulho sob alguma forma, e os seus resultados constituem o oposto dos produzidos pelo amor. A experiência do pecado resultará no seu final e completo abandono e banimento para sempre, por todos os seres criados, em todo o Universo de Deus. Somente aqueles que tola e persistentemente se apegam ao pecado serão com ele destruídos. Os ímpios serão “como se nunca tivessem sido” (Obadias 16), e os justos resplandecerão, como o resplendor do firmamento,” e “refulgirão como as estrelas sempre e eternamente.” Dan. 12:3. “Não se levantará por duas vezes a angústia.” Naum 1:9.
6. Em contraste com o orgulho e exaltação própria ostentados por Satanás, que espírito manifestou Cristo?“O qual, subsistindo em forma de Deus, não considerou o ser igual a Deus coisa a que se devia aferrar, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, tornando-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz.” Filipenses 2:6-8.
7. Depois de o homem ter pecado, como manifestou Deus o Seu amor e boa vontade em perdoar?“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigénito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” João 3:16.
Conclusão: Visto Deus, que é amor, que tem przer na misericórdia, e que não muda, haver oferecido e concedido um período de graça para o homem quando pecou, não é senão razoável concluir que semelhante proceder foi seguido no tocante aos seres celestiais que primeiro pecaram, e somente os que persistiram no pecado, e se declararam em aberta revolta e rebelião contra Deus e o governo do Céu, foram finalmente expulsos dali. Apocalipse 12:7-9.
Pr. José Carlos Costa