18 de março de 2010

PERTO DO LAR

Existe um belo quadro representando um pastor à frente de seu rebanho, ao cair da noite, depois de haverem passado o dia nos pastos, em demanda agora do redil, para o desejado descanso. Em baixo, a legenda: "Rumo ao lar." Dóceis e satisfeitas seguem as ovelhas ao pastor. Sabem para onde as vai guiando, e não se deixam seduzir pelos desvios do caminho.
Assim nos vai guiando nosso sumo Pastor "rumo ao lar" do Céu. Vem já caindo a noite sobre a Terra, e aproximamo-nos do redil eterno. E almejamos o descanso ali.
É evidente que não está distante a hora feliz desse descanso. Diz-no-lo o desdobrar dos acontecimentos ao nosso redor, cumprindo ao pé da letra as profecias escatológicas. Pormenorizar aqui este assunto seria tão-somente repisar o que se disse nos estudos lidos.
Recordemos apenas, resumidamente, alguns desses acontecimentos que assinalam a proximidade da volta de Jesus Cristo para levar consigo os Seus filhos fiéis:
Os loucos preparativos de guerra das nações, e o consequente romper de hostilidades, cada vez mais frequente e de proporções cada vez mais abarcantes. S. Mateus 24:6 e 7.
A generalização da iniquidade, tão nitidamente descrita pelo apóstolo S. Paulo em sua carta a Timóteo, seu filho na fé. II Timóteo 3:1-4. Quem discordará do grande apóstolo, ao dizer que nestes nossos "últimos dias" a sociedade se corromperia a olhos vistos, aumentando assustadoramente o número dos "egoístas, avarentos, jactanciosos, arrogantes, blasfemadores, desobedientes aos pais, ingratos, irreverentes, sem afeição, implacáveis, caluniadores, sem domínio de si, cruéis, inimigos do bem, traidores, atrevidos, enfatuados, antes amigos dos prazeres que amigos de Deus, tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder?"
O mundo religioso infelizmente corre parelhas com o social. Nos derradeiros dias, adverte o mesmo apóstolo em sua I Epístola a Timóteo 4:1 manifestar-se-iam espíritos enganadores, hipócritas e mentirosos, de consciência cauterizada. Viriam (II S. Pedro 3:3 e 4), "escarnecedores com os seus escárnios, andando segundo as próprias paixões," zombando da doutrina evangélica da vinda de Cristo.
Tomaria vulto a luta entre Capital e Trabalho, com o crescente descontentamento das classes trabalhadoras, e o acúmulo de riquezas por parte de uns e miséria gritante por parte de outros. S. Tiago 5:1-8.
Não cabe aqui continuar a enumeração de sinais, já estudados em outra parte, nem aduzir outros, dos muitos que a Bíblia apresenta. Que Jesus Cristo "há de vir a julgar os vivos e os mortos" é o próprio Credo que o diz. A segunda vinda de Cristo "não é um voo da fantasia, uma quimera da imaginação! É a convicção profunda do dogma, a certeza iluminada da fé!" no dizer do Pe. Júlio Maria.
A lembrança constante desse acontecimento solene, além de nos segredar conforto nas horas escuras, induz-nos a uma vigilância igualmente constante, como o servo fiel, da parábola de Jesus. Leva-nos à purificação da vida, a essa santificação sem a qual ninguém verá a Deus (I S. João 3:3). Anelantes por conhecer a vontade do Senhor a nosso respeito, seremos atentos leitores de Sua Palavra, diligenciando sempre pô-la em prática em nosso viver quotidiano.
Nos vinte e três estudos que antecederam este, apresentou-se uma série de estudos que abrangem as principais doutrinas das Escrituras Sagradas. Se o leitor nada conhecia do conteúdo do maravilhoso Livro divino, terá agora uma vista geral do que de mais importante aparece em suas páginas sagradas. Se, como é provável, diante da disseminação que ultimamente vem tendo a Bíblia, já estava familiarizado com os seus ensinamentos, terá sem dúvida ampliado os seus conhecimentos em relação aos assuntos ventilados.
Apresenta-se agora a oportunidade áurea de uma tomada de posição. Conhecidos os principais aspectos das doutrinas bíblicas, já não suportamos ficar de braços cruzados. Conhecimento significa responsabilidade. Responsabilidade requer acção, decisão. E dessa responsabilidade não há escapar. Nossa atitude para com ela envolve interesses eternos. É questão de vida e morte. E nossa decisão não deve, não pode demorar. Há perigo, gravíssimo perigo em a adiarmos. Quem nos garante que amanhã por estas horas estejamos com vida? Quem nos pode afirmar que ainda há tempo, que não há pressa, que podemos primeiro gozar um pouco a vida, e depois cogitar das coisas sérias?
Quando Árquias, tirano de Tebas, se banqueteava com os seus cortesãos, chegou um mensageiro trazendo-lhe o aviso de uma conspiração, e instando que lesse logo a mensagem, visto tratar de negócio grave. "Não há agora tempo para nos preocuparmos com isso! Para amanhã os negócios graves"— disse o tirano. Dentro em pouco penetraram no recinto os conspiradores e apunhalaram a Arquias e todos os seus oficiais espartanos.
"Dedicarei os últimos dez anos de minha vida ao preparo espiritual," disse outrora um príncipe, dividindo a vida em períodos de dez anos: primeiro a educação, depois viagens, depois isto e aquilo, e depois. . . a religião. Mas a morte o surpreendeu antes de chegar a esse período.
"Eis que estou à porta e bato," diz nosso Salvador; "se alguém ouvir a Minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e cearei com ele e ele comigo." Apocalipse 3:20. Pensamento inefável este, de intima comunhão com nosso Criador e Salvador— que para tornar possível esse convite, deu a vida por nós.
"Vinde a Mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e Eu vos aliviarei" —é ainda o convite universal, válido para cada um de nós. S. Mateus 11:28. Prostremo-nos, penitentes mas confiantes, contritos mas animosos, aos pés de nosso Salvador, e Ele nos aliviará do peso insuportável dos nossos pecados. Abramos-lhe, hoje mesmo, de par em par a porta de nosso coração, e Ele entrará e comungará connosco!
Quando Gonçalves Dias se achava exilado da pátria, longe da qual se sentia nostálgico e solitário, cantava, nos transportes da saudade:
"Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá,
Sem que ainda aviste as palmeiras,
Onde canta o sabiá."
Enfermo e alquebrado, suspirava pelo descanso da pátria. Em viagem para cá, quando já avistava do navio as esbeltas palmeiras das praias do Maranhão, soçobrou o navio em que vinha, e o infeliz perdeu a vida, sem ver completamente satisfeitos os anelos da sua saudade. Já tão perto das palmeiras, e do sabiá que lhe cantaria as boas-vindas!
O barquinho de nossa vida navega inexoravelmente rumo de um de dois destinos: ou o porto celestial, ou o trágico soçobro, perto das praias eternas.
Ai de nosso batel, se não for Jesus o seu Piloto! Convidemo-Lo para tal, e deixemo-Lo guiar com Sua mão segura nosso barco, até arribarmos ao Porto de eterna bem-aventurança!