20 de março de 2010

O DEUS QUE EU CONHEÇO

Muitas são as maneiras pelas quais Deus procura revelar-Se a nós e pôr-nos em comunhão com Ele. A natureza fala sem cessar aos nossos sentidos. O coração aberto é impressionado com o amor e a glória de Deus manifestados nas obras de Suas mãos. O ouvido atento ouve e compreende as comunicações de Deus pelos objetos da natureza. Os verdejantes campos, as árvores altaneiras, os botões e as flores, a nuvem que passa, a chuva, o rumorejante regato, as glórias do firmamento, tudo nos fala ao coração, convidando-nos a familiarizar-nos com Aquele que os criou a todos.
Nosso Salvador ligava Suas preciosas lições às coisas da natureza. As árvores, os pássaros, as flores dos vales, as colinas, os lagos, o belo firmamento, assim como os incidentes e o ambiente da vida diária, tudo ligava-o Ele às palavras de verdade, para que Suas lições fossem assim muitas vezes trazidas à memória, mesmo em meio dos absorventes cuidados da trabalhosa vida humana.
Deus deseja que Seus filhos apreciem as Suas obras e se deleitem na singela e serena formosura com que adornou nosso lar terrestre. Ama o belo e, acima de tudo que é exteriormente atraente, ama a beleza de caráter; deseja que cultivemos a pureza e a simplicidade, as mudas graças das flores.
Se tão-somente estivermos atentos, as obras de Deus nos ensinarão preciosas lições de obediência e confiança.
Desde as estrelas, que em seu trajeto pelos espaços percorrem século após século a rota invisível que lhes é designada, até o ínfimo átomo, todas as coisas da natureza obedecem à vontade do Criador. E Deus cuida de tudo e sustenta todas as coisas que criou. Aquele que mantém os inumeráveis mundos através da imensidade, ao mesmo tempo cuida das necessidades do pequeno pardal que, confiante, solta o seu humilde gorjeio. Quando os homens saem para o seu labor diário, assim como quando se acham entregues à oração; quando repousam à noite, e quando se erguem de manhã; quando o rico se banqueteia em seu palácio, ou quando o pobre reúne seus filhos em torno da mesa escassa, sobre cada um o Pai celeste vigia com ternura. Nenhuma lágrima é vertida sem que Deus a note. Não há sorriso que Ele não perceba.
Se tão-somente crêssemos isto plenamente, desvanecer-se-iam todas as ansiedades inúteis. Nossa vida não estaria tão cheia de decepções como agora; pois tudo, quer grande quer pequeno, seria confiado às mãos de Deus, que Se não embaraça com a multiplicidade dos cuidados, nem é dominado por seu peso. Havíamos de desfrutar então um repouso de alma ao qual muitos têm sido por muito tempo alheios.
Enquanto vos deleitais nas atraentes belezas da Terra, pensai no mundo por vir, o qual não conhecerá jamais a mancha do pecado e morte; onde a face da natureza não mais apresentará as sombras da maldição. Representai-vos na imaginação o lar dos remidos, e lembrai-vos de que ele será mais glorioso do que o pode pintar vossa mais brilhante imaginação. Nos variados dons de Deus em a natureza só discernimos o mais pálido vislumbre de Sua glória. Está escrito: "As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem são as que Deus preparou para os que O amam." I Cor. 2:9.
Poetas e naturalistas têm muito que dizer acerca da natureza; mas é o cristão quem mais sabe apreciar as belezas da Terra, porque reconhece a obra de seu Pai, e percebe Seu amor em cada flor, arbusto ou árvore. Ninguém pode apreciar plenamente a significação de montes e vales, rios e lagos, se não os olha como uma expressão do amor de Deus ao homem.
Deus nos fala por meio de Suas operações providenciais, e pela influência de Seu Espírito sobre o coração. Em nossas circunstâncias e ambiente, nas mudanças que diariamente se realizam ao nosso redor, podemos encontrar preciosas lições, se nosso coração está aberto para discerni-las. O salmista, narrando a obra da providência de Deus, diz: "A Terra está cheia da bondade do Senhor." Sal. 33:5. "Quem é sábio observe estas coisas e considere atentamente as benignidades do Senhor." Sal. 107:43.
Deus nos fala a nós por Sua Palavra. Aí temos em linhas mais claras a revelação de Seu caráter, de Seu procedimento com os homens, e da grande obra de redenção. Aí está aberta perante nós a história de patriarcas e profetas e outros homens santos da antiguidade. Eram homens sujeitos "às mesmas paixões que nós". Tia. 5:17. Vemos como lutavam com abatimentos iguais aos nossos, como caíam sob tentações como também nós o temos feito, e contudo de novo se animavam e venciam pela graça de Deus; e considerando esses exemplos, ficamos animados em nossas lutas por conseguir a justiça. Ao lermos acerca das preciosas experiências que lhes foram concedidas, da luz, amor e bênção que lhes foi dado desfrutar, e da obra que realizaram pela graça que lhes foi dada, o mesmo espírito que os inspirava acende em nosso coração uma chama de santa emulação e um desejo de ser semelhantes a eles no caráter, e de, como eles, andar com Deus.
Disse Jesus acerca das Escrituras do Antigo Testamento - e quanto mais é isto verdade do Novo! - "São elas que de Mim testificam" (João 5:39), - dEle que é o Redentor. Aquele em quem se centralizam nossas esperanças de vida eterna. Sim, a Bíblia toda fala de Cristo. Desde o primeiro relatório da criação - pois "sem Ele nada do que foi feito se fez" (João 1:3) - até à promessa final: "Eis que cedo venho" (Apoc. 22:12) lemos acerca de Suas obras e ouvimos a Sua voz. Se desejais familiarizar-vos com o Salvador, estudai as Santas Escrituras.
Enchei o coração todo com as palavras de Deus. São elas a água viva, a mitigar vossa sede ardente. São o pão vivo do Céu. Jesus declara: "Se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o Seu sangue, não tereis vida em vós mesmos." João 6:53. E Ele mesmo explica essa declaração, dizendo: "As palavras que Eu vos disse são espírito e vida." João 6:63. Nosso corpo é formado pelo que comemos e bebemos; e como se dá na economia natural, assim também na espiritual; é aquilo em que meditamos, que dará força e vigor à nossa natureza espiritual.
O tema da redenção é tema que os próprios anjos desejam penetrar; será a ciência e o cântico dos remidos através dos séculos da eternidade. Não é ele digno de atenta consideração e estudo agora? A infinita misericórdia e amor de Jesus, o sacrifício feito por Ele em nosso favor, demandam a mais séria e solene reflexão. Devemos demorar o pensamento no caráter de nosso amado Redentor e Intercessor. Devemos meditar na missão dAquele que veio salvar Seu povo, dos seus pecados. Ao contemplarmos assim os temas celestiais, nossa fé e amor se fortalecerão, e nossas orações serão cada vez mais aceitáveis a Deus, porque a elas se misturarão cada vez mais a fé e o amor. Serão inteligentes e fervorosas. Haverá mais constante confiança em Jesus, e uma diária e viva experiência em Seu poder de salvar perfeitamente a todos os que por Ele se chegam a Deus.
Ao meditarmos na perfeição do Salvador, havemos de desejar ser transformados por completo, e renovados na imagem de Sua pureza. A alma terá fome e sede de tornar-se semelhante Àquele a quem adoramos. Quanto mais nossos pensamentos se demorarem em Cristo, tanto mais falaremos dEle aos outros e O representaremos perante o mundo.
A Bíblia não foi escrita para os doutos unicamente. Ao contrário, destina-se ao povo comum. As grandes verdades indispensáveis para a salvação, nela se acham reveladas com a clareza da luz meridiana; e ninguém errará nem perderá o caminho a não ser os que seguirem seu próprio juízo em vez da vontade de Deus, claramente revelada.
Não devemos aceitar o testemunho de nenhum homem quanto ao que ensinam as Escrituras, mas sim estudar por nós mesmos as palavras de Deus. Se permitirmos que outros pensem por nós, nossas próprias energias e habilidades adquiridas se atrofiarão. As nobres faculdades do espírito podem, pela falta de exercício sobre temas dignos de sua concentração, ficar tão debilitadas que percam a capacidade de apanhar a profunda significação da Palavra de Deus. O espírito se ampliará se for empregado em pesquisar a relação dos assuntos da Bíblia, comparando passagem com passagem e coisas espirituais com coisas espirituais.
Nada há mais apropriado para fortalecer o intelecto do que o estudo das Escrituras. Nenhum outro livro é tão poderoso para elevar os pensamentos, para dar vigor às faculdades, como as amplas e enobrecedoras verdades da Bíblia. Se a Palavra de Deus fosse estudada como devera ser, os homens teriam uma largueza de espírito, uma nobreza de caráter e firmeza de propósito que raro se vêem nesses tempos.
Bem pouco benefício, porém, se tira de uma leitura apressada das Escrituras. Poder-se-á ler a Bíblia inteira e contudo deixar de reconhecer-lhe a beleza ou compreender-lhe o sentido profundo e oculto. Uma passagem que se estude até que seu sentido seja claro ao espírito e evidente sua relação para com o plano da salvação, é de maior valor do que a leitura de muitos capítulos sem ter em vista nenhum propósito definido e sem adquirir nenhuma instrução positiva. Levai convosco a Bíblia. Quando tiverdes oportunidade, lede-a; fixai as passagens na memória. Mesmo enquanto estais a andar pela rua, podeis ler uma passagem e meditar sobre ela, fixando-a assim.
Não conseguiremos sabedoria sem fervorosa atenção e estudo acompanhado de oração. Algumas porções da Escritura são, efetivamente, tão claras que não podem ser mal compreendidas; mas outras há cujo sentido não está sobre a superfície, de modo que possa ser apanhado de relance. É preciso comparar passagem com passagem. Tem de haver cuidadoso estudo e reflexão acompanhada de orações. E tal estudo será ricamente compensado. Como o mineiro descobre veios de precioso metal sob a superfície da terra, assim aquele que buscar perseverantemente a Palavra de Deus como a tesouros escondidos, encontrará verdades do mais alto valor, as quais se acham ocultas à vista do pesquisador descuidado. As palavras inspiradas, meditadas no coração, serão como torrentes que brotam da fonte da vida.
Nunca deve a Bíblia ser estudada sem oração. Antes de abrir suas páginas, devemos pedir a iluminação do Espírito Santo, e ser-nos-á dada. Quando Natanael veio a Jesus, o Salvador exclamou: "Eis aqui um verdadeiro israelita, em quem não há dolo." Natanael volveu: "De onde me conheces Tu?" E Jesus respondeu: "Antes que Filipe te chamasse, te vi Eu estando tu debaixo da figueira." João 1:47 e 48. E Jesus ver-nos-á também nos lugares secretos de oração, se dEle buscarmos a luz para saber qual a verdade. Anjos do mundo da luz assistirão àqueles que, em humildade de coração, buscarem a guia divina.
O Espírito Santo exalta e glorifica o Salvador. É sua missão apresentar a Cristo, a pureza de Sua justiça e a grande salvação que por Ele nos pertence. Jesus disse: "Ele... há de receber do que é Meu e vo-lo há de anunciar." João 16:14. O Espírito de verdade é o único mestre eficaz da verdade divina. Quanto não deve Deus ter estimado a raça humana, para que desse o Seu Filho a fim de por ela morrer, e designasse o Seu Espírito para ser o mestre e constante guia do homem!