27 de fevereiro de 2012

Bíblia Católica & Bíblia Protestante


Recentemente, ao estudar a Bíblia com uma jovem fui interpelado com a seguinte questão: "Se vocês [evangélicos] querem ser tão certinhos, por que então retiraram vários livros da Bíblia?".

Esta pergunta expressa um pensamento comum entre os Católicos - o de que a Bíblia utilizada pelos Protestantes foi adulterada, pois alguns livros do AT que constam na Bíblia Católica não constam na Protestante. E como a Igreja Católica é mais antiga, então "certamente" foram os Protestantes que fizeram a alteração. É assim que pensam!

Realmente, se você comparar o AT na Bíblia de Jerusalém (Católica) com o mesmo conteúdo numa versão "Protestante" (Revista e Atualizada, por exemplo), verá facilmente que a quantidade de livros é diferente, assim como a ordem dos Salmos e alguns acréscimos noutros livros (Daniel, por exemplo).

Mas... quem fez a alteração?
1. Foram os Protestantes que os RETIRARAM... ou
2. Foram os Católicos que os ACRESCENTARAM?
A Teologia chama os livros que estão no foco desta controvérsia "apócrifos".
Veja o que dizem dois renomados estudiosos deste assunto*:
Em suma, estes livros são aceitos pelos Católicos Romanos como canónicos, mas são rejeitados pelos Protestantes e judeus. No grego clássico, apocrypha significava “oculto” ou “difícil de entender”. Posteriormente, a palavra tomou o sentido de “esotérico” (algo que só os “iniciados” podem entender, não os “de fora”).

Nos tempos de Ireneu e Jerónimo (séc. III e IV d.C.), o termo apocrypha passou a ser aplicado aos livros não-canónicos do AT. Desde a Reforma Protestante, essa palavra tem sido usada para denotar os escritos judaicos não-canónicos originários do período intertestamentário (entre os dois Testamentos).

Seja qual for o valor devocional ou eclesiástico que os apócrifos tiverem, eles não são canónicos pelas seguintes razões:
1. A comunidade judaica nunca os aceitou como canónicos.
2. Não foram aceitos por Jesus, nem pelos autores do NT (não existem palavras de Jesus, por exemplo, citando os livros apócrifos).
3. A maior parte dos primeiros grandes Pais da Igreja rejeitou a sua canonicidade.
4. Nenhum concílio da Igreja os considerou canónicos, senão no final do séc. IV d.C.
5. Jerónimo, o grande especialista bíblico e tradutor da Vulgata (tradução para o latim), rejeitou fortemente os livros apócrifos.
6. Muitos estudiosos católicos romanos, ainda ao longo da Reforma, rejeitaram os livros apócrifos.
7. Nenhuma igreja ortodoxa grega, anglicana ou protestante, até à presente data, reconheceu os apócrifos como inspirados e canónicos, no sentido integral dessas palavras.
Além do mais, segundo os critérios elevados da canonicidade, aos apócrifos ainda falta o seguinte:
- Os apócrifos não reivindicam serem proféticos.
- Não detêm a autoridade de Deus.
- Contêm erros históricos (cf. Tobias 1:3-5; 14:11) e graves heresias teológicas, como a oração pelos mortos (cf. 2Macabeus 12:45-46; 4).
- Embora o seu conteúdo tenha algum valor para edificação nos momentos devocionais, na maior parte trata-se de texto repetitivo, ou seja, são textos que já se encontram nos livros canónicos.
- Há evidente ausência de profecia, o que não ocorre nos livros canónicos.
- Nada acrescentam ao nosso conhecimento das verdades messiânicas.
- O povo de Deus, a quem os apócrifos teriam sido originalmente apresentados, recusou-os terminantemente.

Lista dos Livros Apócrifos, segundo a Versão Revista Padrão:
Sabedoria de Salomão
Eclesiástico (Siraque)
Tobias
Judite
1Esdras
1Macabeus
2Macabeus
Baruque
Epístola de Jeremias
2Esdras
Adições a Ester (Ester 10:4-16:24)
Oração de Azarias (Daniel 3:24-90)
Susana (Daniel 13)
Bel e o Dragão (Daniel 14)
Oração de Manassés

* Fonte: Norman Geisler e William Nix, Introdução Bíblica - como a Bíblia chegou até nós (São Paulo: Vida), 2006. Págs. 90-98.

Outra dúvida apresentada frequentemente é com relação à numeração dos Salmos, pois há diferença nas duas Bíblias (Católica e Protestante).

Segundo o Comentário Adventista, o que ocorre é que a numeração dos Salmos é diferente no texto original hebraico e no texto da LXX (Lê-se "Septuaginta", que é a tradução do AT para o grego) e na Vulgata (que é a tradução para o latim). A numeração do texto hebraico massorético é a mesma que aparece na nossa Almeida Revista e Atualizada.

Bíblia Evangélica
Já a numeração da LXX e da Vulgata é utilizada na Bíblia de Jerusalém (católica) e na maioria das demais Bíblias católicas. A diferença deve-se a que na LXX e na Vulgata os Salmos 9 e 10, como também os 114 e 115, se fundem. Por outra parte, os Salmos 116 e 147 se dividem em dois salmos cada um.
Até ao Salmo 9, e a partir do Salmo 147, a contagem é idêntica. A LXX ainda acrescenta um Salmo 151.

Portanto, a diferença de numeração deve-se apenas ao fato de a Bíblia Protestante usar como base o texto original hebraico (mais fiel), e a Bíblia Católica utilizar os textos traduzidos da Septuaginta e da Vulgata.

Portanto, como vimos, não foram os Protestantes que RETIRARAM livros da Bíblia.
Na verdade, foram os Católicos que ACRESCENTARAM tais livros não inspirados.

"Respondeu-lhes Jesus: Errais, não conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus" (Mateus 22:29).