7 de maio de 2011

A Segunda Ressurreição - Parte II

O último conceito expresso no item anterior certamente não se compatibiliza com o tema estudado, da natureza mortal do homem. Se a alma é mortal, como se explica o texto citado, onde se diz que os que forem condenados serão atormentados para todo o sempre nas chamas de um lago de fogo, chamas estas que nada mais seriam do que a doutrina do inferno, um lugar de sofrimentos atrozes e que jamais terão fim?

É este pensamento cristão? Está ele de acordo com o contexto das Sagradas Escrituras e, principalmente, de acordo com o caráter de Deus e os Seus princípios de justiça? Como e quando foi ele criado, por quem e para que fim? Para que este tema seja devidamente compreendido é necessário que se busquem as suas origens e que se estude a maneira como foram elas inseridas nas Sagradas Escrituras.

Como surgiu a ideia da condenação eterna e onde ela se manifestou pela primeira vez? É necessário que se saiba que ela remonta às mais antigas das civilizações, fazendo parte dos cultos babilónicos, persas e egípcios, entre outros. Juntamente com o inferno, que seria o lugar definitivo de condenação das pessoas após a morte, surgiu na antiga Pérsia o dogma de um lugar em que as pessoas ficariam temporariamente
purgando as suas culpas, pagando os seus pecados. Após um determinado período de tempo nesse purgatório , tempo esse variável de acordo com os pecados acumulados na vida, a pessoa estaria purificada e apta para o paraíso.

Com o sincretismo religioso verificado nos primeiros séculos da era cristã, os princípios do paganismo foram sendo, paulatinamente, absorvidos por um sistema religioso que se dizia cristão, mas que se desviava dos límpidos e puros princípios bíblicos e apostólicos. Dentre as doutrinas que o sistema adotou do paganismo destacam-se a da imortalidade da alma e a do inferno eterno.

Chegando a obter o poder absoluto tanto o espiritual, como o temporal e político este sistema dominou soberano por mais de doze séculos, especialmente nos anos sombrios da Idade Média, impondo sua autoridade por todos os meios possíveis e imagináveis. Centenas de milhares de pessoas foram torturadas e mortas e quem se opusesse a ele estava sujeito às chamas imediatas da inquisição ou às chamas futuras do inferno, se fosse pelo mesmo poder excomungado.

A excomunhão era a arma mais temida do poder papal e por ela muitos soberanos foram destronados e perderam os seus reinos. Para manter o seu poder e mesmo ampliá-lo, estabeleceu-se o dogma absurdo da infalibilidade papal e, através dele, as doutrinas mais esdrúxulas e anticristãs, como o perdão dos pecados através de pagamento em dinheiro ou bens para a igreja e para o clero.

Buscou-se dos antigos persas a doutrina do purgatório, por ser esta bastante cómoda e adequada para os seus propósitos mercenários. Esta doutrina havia sido estabelecida no ano de 593 pelo papa Gregório I. Mas, entrando em cena as vendas das indulgências e das relíquias de santos, o que enriqueceu sobremaneira a igreja e os seus prelados, foi ela proclamada como um dogma pelo concílio de Florença, no ano de 1439. Por determinada quantia a pessoa tinha sua pena de purgatório diminuída ou mesmo cancelada. As indulgências plenárias tinham o mérito de perdoar toda a dívida do pecador, livrando-o de até milhões de anos das chamas do purgatório ou mesmo do inferno.

Todos queriam livrar-se a si mesmos e aos parentes mortos, das temidas chamas espirituais e não mediam esforços para comprar estes favores de que a igreja era depositária. Em lugar da Bíblia Sagrada, proscrita, a verdade que imperava era a vontade de bispos e padres e a mais baixa superstição que escravizava o sentimento popular.

Ora, este estado de coisas foi que deu motivo à reforma luterana. Entretanto, alguns princípios enraizados ao longo de tantos séculos, permaneceram até mesmo entre os reformadores e aqueles que os acompanharam na separação da igreja de Roma. Tudo isto teve os seus reflexos, inclusive na tradução dos originais hebraicos e gregos das Escrituras. Muitos textos de difícil compreensão e de interpretação dúbia foram traduzidos levando-se em conta os princípios antes aceitos, posto que errados.

Por esta razão é que se torna necessário o estudo das origens destas doutrinas e o cuidadoso exame dos escritos originais das Escrituras e da sua comparação com o contexto que elas apresentam. Podemos citar como exemplo, a história dos dois ladrões que foram executados ao lado de Jesus. É necessário que se conheçam algumas das peculiaridades da sentença de morte por crucifixão, para o pleno entendimento do que pretendemos esclarecer.

Em primeiro lugar, era a crucifixão a mais temida, terrível e desumana de todas as formas de execução conhecida. Se hoje, em alguns países, são buscadas formas de se atenuar o sofrimento do sentenciado, por injeções ou gases, nos dias de Jesus a morte na cruz era a concretização de todos os esforços para acumular no sentenciado a maior forma de sofrimento possível.

Esse sofrimento durava dias a fio. Sujeito ao frio e ao calor, à sede e à fome, esvaindo-se em sangue, gota a gota, o crucificado chegava ao limite da sua resistência física e psicológica. Em pouco tempo, pesando-lhe os membros, latejando-lhe a cabeça, chegava ele à loucura e desejava desesperadamente a morte como se ela fosse um dom misericordioso.

Tão grande era o sofrimento de um crucificado que Júlio César, o grande conquistador romano, temperado por incontáveis batalhas e cenas de sangue e violência não suportou, numa ocasião, a visão de um crucificado nos seus derradeiros momentos de vida. Ele desmaiou profundamente impressionado pela crueldade daquele instrumento de tortura.

Mas o texto a que nos queremos referir está no Evangelho Segundo S. Lucas. Colocado entre dois malfeitores, para cumprimento de uma profecia bíblica, Jesus pendia de uma cruz, nela pregado com cravos. Fazemos a transcrição literal do texto desejado: E um dos malfeitores que estavam pendurados blasfemava dele, dizendo: se tu és o Cristo, salva-Te a Ti mesmo, e a nós. Respondendo, porém, o outro, repreendia-o, dizendo: tu nem ainda temes a Deus, estando na mesma condenação? E nós, na verdade, com justiça, porque recebemos o que os nossos feitos mereciam; mas Este nenhum mal fez. E disse a Jesus: Senhor, lembra-Te de mim, quando entrares no Teu reino. E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso (S. Lucas 23:39-43).

Ora, do exame do texto em questão é que vem o esclarecimento que pretendemos trazer. O original grego, do qual foi o mesmo texto traduzido não tem pontuação, nem divisão de palavras. Eis como as palavras foram originalmente escritas: Amen soi lego semeron met emous ese en to paradiso . Traduzidas literalmente ficariam assim: Em verdade a ti eu digo hoje comigo tu estarás no paraíso . Traduzidas conforme o conceito romano, popularmente aceito e em vigor, foram estas palavras assim pontuadas: Em verdade te digo: hoje estarás comigo no paraíso . Mas, mudando-se apenas um sinal, estaria completamente alterado o seu sentido, ficando assim: Em verdade te digo hoje: estarás comigo no paraíso .

Na verdade, o que o ladrão suplicou de Jesus não foi o tempo ou quando poderia estar com Ele no Seu reino, mas que por Ele fosse lembrado, não importava em que época. Além disso, a palavra grega traduzida como entrares pode também ser traduzida como estiveres ou vieres .

A promessa de Jesus, corretamente entendida, está em harmonia com o contexto de Sua Palavra. Jesus prometeu, naquele dia, que ele simplesmente estaria no paraíso, sem especificar quando, muito menos que tal promessa se cumpriria naquele mesmo dia. Isto, simplesmente porque o ladrão não morreu naquele dia e porque Jesus, tendo surpreendentemente morrido, não subiu ao Céu naquele dia.

Dizemos surpreendentemente, porque foi com surpresa que Pilatos reagiu, ao saber da Sua morte. Eis o relato: Chegou José de Arimatéia, senador honrado, que também esperava o reino de Deus, e ousadamente foi a Pilatos, e pediu o corpo de Jesus. E Pilatos se maravilhou de que já estivesse morto (S. Marcos 15:43-44). A prova de que os ladrões não morreram naquele dia está no texto seguinte: Os judeus, pois, para que no sábado não ficassem os corpos na cruz, visto como era a preparação (pois era grande o dia de sábado), rogaram a Pilatos que se lhes quebrassem as pernas, e fossem tirados. Foram, pois os soldados, e, na verdade, quebraram as pernas ao primeiro, e ao outro que com ele fora crucificado; mas, vindo a Jesus, e vendo-O já morto, não Lhe quebraram as pernas. Contudo um dos soldados lhe furou o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água (S. João 19:31-34).

Jesus não morreu pelos ferimentos físicos, mas pela angústia mental e moral, por ter sido contado com os transgressores e levado sobre Si o pecado de muitos (Isaías 53:12) e ter afastado de Si a comunhão do Pai. O peso do pecado foi tão enormemente esmagador que Ele teve o coração rompido. Sua morte foi causada pela concussão cardíaca, evidenciada pelo líquido que saiu do seu lado, ao ser trespassado pela lança romana.

Para que os condenados não permanecessem na cruz no sábado e para evitar que fugissem, tinha-se por costume quebrar-lhes as pernas. Portanto, no dia seguinte à morte de Jesus, o sábado, os ladrões foram tirados da cruz e permaneceram vivos. Mas, outra prova há, nas Escrituras, de que o ladrão não poderia estar com Jesus no paraíso, no dia em que fez o seu pedido.

Quando Jesus ressuscitou, na manhã do terceiro dia, Ele não havia subido ao Pai, ao lugar que se convencionou chamar paraíso. Morrendo no final da sexta-feira, descansou no sepulcro no sábado e ressuscitou na madrugada do primeiro dia da semana o domingo. Maria Madalena, ao ver Jesus ressuscitado, não conseguiu reprimir sua alegria, mas foi obstada, pelo Mestre. Está escrito: Disse-lhe Jesus: não Me detenhas, porque ainda não subi para Meu Pai, mas vai para Meus irmãos e dize lhes que Eu subo para Meu Pai e vosso Pai, Meu Deus e vosso Deus (S. João 20:17). Assim, acreditamos estar provado o equívoco na tradução do texto citado.

Tornando à doutrina do tormento eterno, podemos dizer que é impossível, para pessoas normais, equilibradas e racionais, conciliar a verdade bíblica de que Deus é amor (I S. João 4:8) com a idéia de um inferno eterno, um lugar de tormentos inimagináveis e de desesperança infinita.

Quanto mais terríveis eram apresentados estes tormentos, pela igreja de Roma, mais as pessoas se apressavam e se esforçavam para deles se livrar, não medindo sacrifícios para adquirir, por dinheiro, a garantia do seu livramento.

Mas, todos os textos traduzidos nas Sagradas Escrituras e que dão ensejo a uma compreensão diversa do contexto, podem ser explicados, como o do bom ladrão , que aguarda no túmulo o dia da volta de Jesus, para só então ser recebido no Seu reino. Não existe nenhuma doutrina mais ofensiva a Deus e ao Seu caráter de infinita misericórdia, do que a doutrina do tormento eterno.

Tal doutrina somente poderia ter sido engendrada pela mente maldosa de Satanás, que induziu as pessoas a imaginar que o Benevolente e Longânimo Criador pudesse ter um caráter maligno como o seu próprio. Imagine-se uma situação em que um pai ou uma mãe tivessem diversos filhos.

Suponha-se que dentre estes, alguns se tenham destacado por sua obediência e boa conduta, mas que um deles tenha se transformado na ovelha negra da família. Todos os esforços e tentativas para que ele se reformasse foram debalde e ele preferiu seguir o seu caminho de maldades. Imagine-se, ainda, que para preservar a harmonia e felicidade dos outros, este pai ou esta mãe tivessem que matar aquele filho para extirpar o câncer que poderia contaminar os outros.

Com que tristeza e dor no coração estes pais dariam cumprimento a esta tarefa! Imagine-se você, prezado leitor, no lugar deste pai, ou melhor, imagine-se no lugar de Deus. Será que teria coragem de condenar ao sofrimento eterno este filho, por causa de uma vida de desobediência e de maldade que tenha durado, digamos, 50, 70 ou 90 anos? Ou será que tiraria a sua vida para que ele não sofresse e nem fizesse seus outros irmãos sofrerem?

Talvez você já tenha sofrido algum tipo de queimadura. Por esta razão gostaria, ainda, de fazer-lhe outra pergunta: será que você teria coragem de manter as chamas de um lampião nas costas de um inimigo por, digamos, uns dez minutos? E se ao invés de um inimigo esta pessoa fosse o seu filho? Tenho a impressão de que você não seria capaz de fazer isto, como eu não seria, também, capaz. Como podemos dizer que Deus é amor e imaginar ser Ele capaz de condenar um filho Seu a incontáveis bilhões de anos de sofrimento atroz e sem esperança? E ao terminar esta inimaginável quantidade de anos, é como se a condenação apenas estivesse começando! Por isto é que reafirmamos ser esta a mais ofensiva de todas as doutrinas mentirosas contra a verdade de Deus e o Seu caráter de infinita misericórdia.

Como se sentiria um pai que ama ao seu filho com profundo amor, ao saber que ele, o objeto do Seu maior cuidado e carinho, imagina ser ele capaz de condená-lo a um destino semelhante? E um filho, ao imaginar ser este pai capaz de fazer tal atrocidade poderia, sinceramente, amá-lo de todo o seu coração, de todo o seu entendimento? Não seria mais natural amá-lo apenas por palavras, por medo, e odiá-lo no íntimo de seu coração?

Deus não criou e nem jamais criará tal lugar de eterna desdita, sofrimento e tristeza para os Seus filhos. O próprio ato de destruir o ímpio para preservar a harmonia do Universo e o bem dos outros filhos é um ato contrário ao Seu caráter benevolente e paternal. Está escrito, a este respeito: Porque o Senhor se levantará... para fazer a Sua obra, a Sua estranha obra, e para executar o Seu ato, o Seu estranho ato (Isaías 28:21). Ele fará isso porque não restará nenhuma alternativa, baldados todos os esforços, esgotados todos os recursos do céu, inclusive o oferecimento de Sua própria vida no infinito e incompreensível sacrifício da cruz

E mesmo porque o ímpio não sentiria nenhum prazer na pureza do céu, obstinado na sua impiedade. Eis o que sucederia se lhe fosse concedida a vida eterna, no reino de Deus: Ainda que se mostre favor ao perverso, nem por isso aprende a justiça; até na terra da retidão ele comete a iniqüidade, e não atenta para a majestade do Senhor (Isaías 26:10).

Por esta razão é que o ímpio, o perverso, será destruído de sobre a face da terra, será desarraigado, juntamente com o maior dos perversos, Satanás, e todos os anjos que o acompanharam em sua rebelião contra Deus. São inumeráveis os textos que falam da destruição do ímpio, no lago de fogo, quando então todas as lágrimas serão enxugadas e todos eles serão completamente esquecidos, para que não fique nenhuma lembrança que traga tristeza aos herdeiros da salvação.

É de fundamental importância a compreensão de alguns vocábulos hebraicos e gregos, do original bíblico, que esclarecem o sentido da palavra inferno. Por exemplo, a palavra hebraica seol ou sheol tem a mesma significação da palavra grega hades. Ambas querem dizer a mesma coisa: sepultura e são em inúmeros textos traduzidas por inferno. Elas se referem a um lugar subterrâneo, onde se guardam os mortos, lugar de escuridão e trevas.

Pode-se notar em todos os textos oriundos destas palavras, que as mesmas ora são traduzidas por sepultura, ora por inferno, dentre outras, além de trazerem, algumas vezes, a forma original. Por isto é que existe um conceito, não bíblico, de que há um lugar onde os mortos, conscientemente, aguardam o seu destino definitivo, lugar este chamado hades ou seol. Mas na verdade, este é o lugar realmente onde os mortos estão aguardando, mas num sono sem consciência, o dia da sua ressurreição: a sepultura, ou inferno, ou hades; todos têm, nesse sentido, o mesmo significado.

Ao serem examinados os versos seguintes pode-se ter a confirmação desta premissa. Neles o apóstolo refere -se ao cumprimento da profecia do salmista, referente a Jesus e à Sua morte e ressurreição: Ao qual Deus ressuscitou soltas as ânsias da morte, pois não era possível que fosse retido por ela; porque dEle disse Davi: Por isso se alegrou o meu coração, e a minha língua exultou; e ainda a minha carne há de repousar em esperança; não deixarás a minha alma no hades, nem permitirás que o Teu santo veja a corrupção (Atos 2:24-27). Nesta previsão, disse da ressurreição de Cristo: que a Sua alma não foi deixada no hades, nem a Sua carne viu a corrupção (verso 34).

Note-se que o sentido de sepultura, onde os corpos sofrem a ação da corrupção, foi traduzido de maneira diferente da referência invocada do salmista: Pois não deixarás a Minha alma no inferno nem permitirás que o Teu Santo veja corrupção (Salmo 16:10). Assim, também, outro texto confirma esta afirmação: Mas Deus remirá minha alma do poder da sepultura (seol), pois me receberá (Salmo 49:15).

Outro sentido da palavra traduzida por inferno, relacionada com o fogo eterno , vem da palavra geena, que quer dizer vale do filho de Hinon (Jeremias 7:31). Neste vale, nos arredores de Jerusalém, eram jogados o lixo e os detritos de uma grande cidade de centenas de milhares de habitantes. Corpos de animais mortos, cadáveres de indigentes e malfeitores, lixo e dejectos orgânicos de toda espécie eram ali jogados.

As modernas fábricas de tratamento e reciclagem de lixo existentes hoje nas grandes cidades anulam o problema sanitário que certamente existia naquela época e que eram resolvidos pelos métodos de que podiam então dispor. Estes métodos resumiam-se praticamente na utilização do fogo, que era continuamente ateado e realimentado e que não podia apagar-se. Constantemente, diariamente, eram ali atiradas toneladas de lixo e detritos orgânicos que estavam continuamente em combustão.

Este fogo foi utilizado inúmeras vezes por muitos escritores para representar o fogo do último dia, que destruirá Satanás e todos os ímpios. Certamente que aquela era uma fogueira impressionante, que nunca apagava, pois estava sempre sendo realimentada. Ela foi colocada como um tipo do fogo eterno , isto é, o fogo que queimava para sempre ou eternamente . Este é o sentido das palavras olam, do hebraico, e aión ou aiónios, do grego, de onde foram traduzidas as expressões mencionadas, dando -lhes o referido sentido de perpetuidade.

Ora, se tomarmos uma folha de papel e lhe atearmos fogo, o que lhe sucederá? Após as chamas consumirem toda a sua estrutura não terá esta folha sido queimada para sempre ou eternamente ? Assim é o sentido das palavras traduzidas por aqueles vocábulos. Queimaram para sempre, ou seja, enquanto duraram, enquanto houve combustível ou matéria para queimar. Esgotando-se este combustível, ou a matéria, deixaram de queimar, estão destruídas queimadas para sempre. Jamais poderão voltar a existir e nem continuarão a queimar indefinidamente.

Assim é que estão queimadas ou destruídas para sempre . Aquele fogo olam que queimava para sempre nos arredores de Jerusalém e que, pelo texto literal, nunca se apagaria, não existe mais há séculos. O vale do filho de Hinon, que era um terreno árido, transformou-se, adubado pelos detritos orgânicos, num vale fértil, quando a grande fogueira deixou de arder.

As cidades de Sodoma e Gomorra foram colocadas, também, como exemplo do fogo eterno, como está escrito: Assim como Sodoma e Gomorra, e as cidades circunvizinhas, que, havendo-se corrompido como aqueles, e ido após outra carne, foram postas por exemplo, sofrendo a pena do fogo eterno (Judas 7). É absolutamente certo e sabido que aquelas cidades, destruídas pelo fogo, hoje não queimam mais. O fogo que as destruiu foi apagado há milénios, após cumprir o seu propósito e objetivo de destruí-las.

Também a cidade de Jerusalém foi colocada como exemplo desse fogo eterno, como se vê da advertência que O Senhor lhe enviou, através do profeta Jeremias: Mas, se não Me derdes ouvidos, para santificardes o dia de sábado, e para não trazerdes carga alguma, quando entrardes pelas portas de Jerusalém no dia de sábado, então acenderei fogo nas suas portas o qual consumirá os palácios de Jerusalém, e não se apagará (Jeremias 17:27).

Sendo a advertência ignorada, foi a sentença então cumprida: E queimaram a casa do Senhor, e derrubaram os muros de Jerusalém, e todos os seus palácios queimaram afogo, destruindo também todos os seus preciosos vasos. Para que se cumprisse a palavra do Senhor, pela boca de Jeremias, até que a terra se agradasse dos seus sábados... (II Crónicas 36:19 e 21). O fogo eterno, que pelo texto literal não se apagaria, realmente se apagou. Entretanto ele não foi apagado enquanto não cumpriu o seu propósito, enquanto não queimou, para sempre, o objeto da sentença.

Falando sobre a Nova Terra, a herança dos salvos, no futuro, e sobre a destruição dos ímpios, o Senhor anunciou, através do profeta: Porque como os céus novos, e a Terra nova, que hei de fazer, estarão diante da Minha face, diz o Senhor, assim há de estar a vossa posteridade e o vosso nome. E será que desde uma lua nova até à outra, e desde um sábado até ao outro, virá toda a carne a adorar perante Mim, diz o Senhor (Isaías 66:22-23).

Então, fazendo uma comparação ilustrativa com o vale dos arredores de Jerusalém, Ele menciona os que serão destruídos no último dia: E sairão, e verão os corpos mortos dos homens que prevaricaram contra Mim; porque o seu bicho nunca morrerá, nem o seu fogo se apagará; e serão um horror para toda a carne (verso 24).

Ora, o bicho que nunca morre, ou os vermes, proliferavam naquele amontoado de lixo e o fogo nunca apagava porque sempre havia material para ser consumido e o fogo era constantemente reavivado. É interessante notar-se que o texto se refere a corpos mortos e não almas vivas.

Ora, os corpos sem dúvida desaparecerão depois de completamente queimados. Desta imagem impressiva e tocante serviram-se muitos escritores, repetimos, dela utilizando-se o próprio Salvador, para que aqueles para quem se dirigia Sua mensagem pudessem entender quão terrível é a consequência da impiedade e os seus resultados certos.

Eis as Palavras de Jesus, repetindo as palavras do profeta Isaías: E, se a tua mão te escandalizar, corta-a; melhor é para ti entrares na vida aleijado, do que, tendo duas mãos, ires para o inferno, para o fogo que nunca se apaga; onde o seu bicho não morre, e o fogo nunca se apaga (S.Marcos 9:43-44). A advertência de Jesus sobre o destino certo dos ímpios e sua eterna destruição foi repetida em outras ocasiões: Então dirá também aos que estiverem à Sua esquerda: apartai-vos de Mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos (Mateus 25:41).

É significativa a contraposição que Ele faz entre os que receberem o castigo e os que farão jus ao prémio. E estes irão para o tormento eterno, mas os justos para a vida eterna (verso 46). Inúmeros são os textos das Escrituras que esclarecem que o prémio é a vida, e o castigo, a morte eterna.

Não há dúvida, pela Palavra de Deus, que a conseqüência do pecado é a morte. A morte, como condenação, é personificada pela sepultura, pelo inferno. Ao resgatar os remidos do poder da morte, ou da sepultura ou, ainda, do inferno, cumprir-se-ão as palavras do Senhor através do profeta, repetidas séculos depois pelo apóstolo Paulo, ao se referir ele à ressurreição dos justos, na vinda de Jesus: Eu os remirei da violência do inferno, e os resgatarei da morte. Onde estão, ó morte, as tuas pragas? Onde está, ó inferno, a tua perdição? O arrependimento será escondido de meus olhos (Oséias 13:14). Tragada foi a morte na vitória. Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, ó inferno, a tua vitória? (I Coríntios 15:54-55).

Todos os que confiam no Senhor serão resgatados do poder da morte e do inferno sepulcral: Como ovelhas são enterrados; a morte se alimentará deles, e os retos terão domínio sobre eles na manhã; e a sua formosura na sepultura se consumirá, por não ter mais onde more. Mas Deus remirá minha alma do poder da sepultura (seol), pois me receberá (Salmo 49:14-15).