Quando informações bíblicas sobre o arcanjo Miguel são confrontadas com as de Jesus Cristo, chega-se a conclusão que ambos são o mesmo Ser. Nas Escrituras, Miguel é sempre citado desempenhando a função de um príncipe protetor do povo de Deus, e está em contínuo confronto com Satanás:
Os primeiros versos acima revelam a dificuldade do anjo Gabriel em sua disputa com o "príncipe do reino da Pérsia" (Satanás, cf. João 12:31; João 14:29-31), que persuadia os reis dessa nação a atuarem contra os interesses do povo de Deus. E após 21 dias de conflito, Gabriel recebe auxílio de Miguel e finalmente obtém vitória sobre ele. No verso de Daniel 12:1, Miguel é novamente citado atuando como defensor dos filhos de Deus enquanto o mundo passa por uma turbulência sem precedentes; e, de acordo com a Bíblia, unicamente Jesus é o salvador (defensor) de Seu povo (I João 2:1; Romanos 8:34; Atos 4:12). Nota-se ainda que Miguel, um dos príncipes supremos (Daniel 10:13), é distinguido como o grande "príncipe" (Daniel 12:1), e este nobre título é atribuído a Cristo nas seguintes palavras:
E nenhum dos anjos (criaturas de Deus, João 1:1-3 cf. Jó 38:4-7), foi ungido para ser príncipe e salvador da humanidade, nenhum deles foi designado para desvencilhar o homem da opressão de Satanás. Ou existiria algum ser angelical no Céu que é senhor e salvador de algum povo na Terra, atuando paralelamente à Cristo? (cf. Daniel 12:1).
Em Apocalipse 12:7 é dito que houve guerra no Céu e que, Miguel e Seus anjos lutaram(b) contra o dragão e sua hoste de anjos. E na narrativa bíblica esta batalha entre o "bem e o mal" é respectivamente comandada por Jesus Cristo (I João 3:8; Lucas 4:41) e Satanás (Apocalipse 12:9). Ela foi iniciada quando Lúcifer desejou se tornar igual a Deus (Isaías 14:12-14; Ezequiel 28:13-19). Então, Miguel (nome que literalmente significa: "Quem é como Deus"?), interveio desafiando-o. E na epístola de Judas há outro registro desse confronto:
"Satanás disputou veementemente pelo corpo de Moisés. Procurou entrar outra vez em controvérsia com Cristo a respeito da injustiça da lei de Deus e, com poder enganador, reiterou suas falsas declarações sobre não ter sido tratado com justiça. Suas acusações foram tais, que Cristo não o confrontou com o registro cruel da obra que havia realizado no Céu mediante enganadoras deturpações, com as falsidades que havia proferido no Éden para levar à transgressão de Adão, e por ter suscitado as piores paixões das hostes de Israel, incitando-as a murmurar e rebelar-se, até que Moisés perdesse o controle de si próprio.
(...) Cristo não fez retaliações em resposta a Satanás. Não lhe fez zangadas acusações, mas ressuscitou Moisés e o levou para o Céu. (...) Fizera-se a pergunta: "Morrendo o homem, porventura tornará a viver?" (Jó 14:14). Agora a pergunta tinha resposta. Esse ato foi uma grande vitória sobre os poderes das trevas. Essa demonstração de poder foi um testemunho incontestável da supremacia do Filho de Deus. Satanás não esperava que o corpo fosse despertado para a vida depois da morte. Havia concluído que a sentença: 'tu és pó e ao pó tornarás', lhe daria posse indiscutível dos corpos dos mortos. Agora via que seria despojado de sua presa, que os mortais viveriam outra vez após a morte."1
Ainda sobre a ressurreição, especificamente sobre aquela que ocorrerá no segundo advento de Jesus, existe também referência ao arcanjo Miguel:
Esta declaração reforça o entendimento de que Miguel é o próprio Jesus, pois, a preposição "com" e a preposição craseada "à" são traduções do grego "en", que significa: "com"; "enquanto que"; "na"; "pela". Esta análise indica que Jesus retornará e Se apresentará "na voz de arcanjo", "pela voz de arcanjo", "com a voz de arcanjo", ou seja, será este o aspecto da voz de Jesus quando Ele ressurgir nas nuvens para levar os redimidos (I Tessalonicenses 4:17 cf. João 5:27-29; Atos 1:9-11). Não será a voz de um outro ser celestial que anunciará esse retorno e ressuscitará aqueles que herdarão a vida eterna (Apocalipse 20:4-6 cf. João 5:21).
O Anjo do Senhor
Uma das dificuldades que muitos encontram para aceitar que Jesus é o arcanjo Miguel, esta na Sua manifestação em forma de arcanjo para auxiliar o Seu povo. Esse preconceito não deveria existir, pois há registros na Bíblia que demonstram Jesus assumindo, também, a forma de um anjo (categoria angelical abaixo de um arcanjo). E uma dessas ocasiões foi relatada pelo profeta Zacarias, que em visão, acompanhou o Anjo do Senhor defendendo o "sumo sacerdote Josué" das investidas de Satanás:
O Anjo do Senhor ao dizer: "Eu tirei de você o seu pecado", não estava referindo-Se meramente às roupas que Josué usava naquele momento, porque, independente dEle ter dito: "Tirem as roupas impuras dele", Josué iria obrigatoriamente fazer essa mudança de vestimentas para exercer a sua função sacerdotal (Êxodo 28:41-43; Levítico 16:23-24). E um simples anjo não possui autoridade para eliminar pecado.
O apóstolo João apresenta também uma descrição singular de um Anjo: "Então vi outro Anjo poderoso, que descia dos céus. Ele estava envolto numa nuvem, e havia um arco-íris acima de Sua cabeça. Sua face era como o Sol, e Suas pernas eram como colunas de fogo. (...) e deu um alto brado, como o rugido de um leão. (...)" (Apocalipse 10:1-3 NVI). Destes versos destacam-se as seguintes características:
1). Este Anjo foi visto descendo do Céu envolto por uma nuvem. E as aparições de Jesus são comumente descrita nela(s):
2). O rosto desse Anjo brilhava como o Sol, e sobre Sua cabeça existia um arco-íris. E estas descrições estão vinculadas a Jesus:
3). Os pés e pernas desse Anjo era como "colunas de fogo", característica atribuída a Jesus:
4). Outra peculiaridade deste Anjo é a Sua voz, que foi comparada a de um leão. E esta qualidade pertence a Jesus:
O Anjo citado em Apocalipse 10:1, seguindo um costume característico da antiguidade, levantou solenemente a mão direita para o céu e "jurou por Aquele que vive para todo o sempre".2 Este juramento é o principal ponto de objeção à interpretação de que este Anjo seja Jesus. No entretanto, Ele jurou por Si mesmo à semelhança desta ocasião: "Quando Deus fez a Sua promessa a Abraão, por não haver ninguém superior por quem jurar, jurou por Si mesmo." (Hebreus 6:13 NVI). Além disso o próprio Jesus afirmou que Ele sempre existiu e viverá para sempre (Apocalipse 1:17-18; Apocalipse 22:13 cf. João 1:1-3). Este juramento auxilia, também, a compreender a repreensão feita em Zacarias 3:2 e Judas 1:9.
Comandante do exército celestial
Outro acontecimento que demonstra não haver qualquer complicação para Jesus adotar a aparência de um ser angelical é o fato dEle ter assumido a forma de um homem (que está numa categoria inferior a de um anjo), e ter apresentado-Se como o "príncipe do exército do Senhor" (príncipe das hostes angelicais do Céu) e posteriormente ter aceitado a adoração de Josué:
A palavra "respeito"(c) (verso 14), provém do hebraico "shachah", e significa: inclinar em veneração; curvar em reverência. Essa adoração de Josué violaria diretamente a lei (Êxodo 20:3) se esse "Homem" fosse uma criatura de Deus (cf. Mateus 4:10; Hebreus 1:6; Apocalipse 22:8-9). Josué ao ser orientado a retirar as suas sandálias, porque o lugar tinha tornado-se santo, repetiu o mesmo ato de Moisés diante da "sarça ardente", na qual Deus havia Se manifestado; e essas coisas não ocorrem com nenhum outro ser celestial (Êxodo 3:2-6; Atos 7:30-33).
Considerações Finais
Após a leitura comparativa das referências bíblicas expostas neste estudo, chega-se a conclusão que o arcanjo Miguel não é um anjo que fora designado dentre as "miríades de miríades" existentes para liderar o exército celestial de Deus contra Satanás. Mas, certamente, Miguel é o próprio Jesus Cristo que, a frente dos Seus anjos luta em favor do governo de Deus e de Seu povo. A atuação de Jesus na forma de um arcanjo, não contradiz ou desmerece qualquer feito dEle como salvador e redentor da humanidade; não O desqualifica como o Cordeiro de Deus.
Jesus possui diversos títulos e nomes, tais como: Pai da Eternidade, Conselheiro, Príncipe da Paz (Isaías 9:6); Emanuel (Mateus 1:23); Filho do Homem (Marcos 14:62); Verbo (João 1:1-3); Cordeiro de Deus (João 1:29); Rabi (João 1:38); Messias (João 1:41-42); Filho de Deus (Hebreus 4:14). E na nova Terra, Ele terá um "novo nome" (Apocalipse 3:12).
a. Acesse: A Hora do Juízo
b. Não é uma luta bélica, mas uma luta ideológica. Nessa guerra os princípios de vida ensinados por Deus (Apocalipse 14:12), e aqueles contrários à eles (promovidos por Satanás, Apocalipse 12:17), estão em intenso conflito. Ambos os lados estão sob constante ataque e defesa (Efésios 6:11-18; II Coríntios 10:2-5; Apocalipse 12:7).
c. Outras traduções bíblicas utilizam o verbo "adorar", tais como: João Ferreira de Almeida Revista e Atualizada (1999); Bíblia de Jerusalém (1985); Reina Valera (1960); e, Sagradas Escrituras (1569).
1. Ellen Gould White, Manuscrito 69, 1912. In: Manuscript Releases, vol. 10, p. 159-160.
2. Gênesis 14:22-23; Deuteronômio 32:40; Ezequiel 20:15; Apocalipse 10:6.
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