O CONCEITO da Bíblia é claro. Não apenas é o Todo-poderoso
Deus, Jeová, uma personalidade à parte de Jesus, mas Ele é sempre superior.
Jesus sempre é apresentado como pessoa à parte e menor, um humilde servo de
Deus. É por isso que a Bíblia diz claramente que “a cabeça do Cristo é Deus”
assim como “a cabeça de todo homem é o Cristo”. (1 Coríntios 11:3) E é por isso
que o próprio Jesus disse: “O Pai é maior do que eu.” — João 14:28,
Em muitas ocasiões Jesus ensinou seus discípulos, seguidores
e até mesmo numerosas multidões e não era incomum que as pessoas admirassem seu
ensino. Algumas vezes no seu ministério vemos o elogio das pessoas ao que
Cristo ensina dizendo que seu ensino não é como dos escribas ou fariseus, pois
seu ensino tem autoridade.
Temos consciência de que o ensino de Jesus Cristo é
fundamental para o cristão e que suas palavras tem autoridade sobre nós. Mas,
encontramos nos ensinos de Cristo algo que demonstre sua divindade? Tenha em
mente que Jesus quando ensinava, afirmava claramente ser o Cristo prometido em
toda a Escritura.
Os judeus do período de Cristo, e muitos ainda hoje, esperam
o Messias (Cristo) prometido nas Escrituras Hebraicas. Nela, os judeus sempre
encontraram informações sobre quem o Messias seria e quais suas
caracteristicas, mas infelizmente eles não haviam percebido a profundidade de
algumas das afirmações a respeito do Messias esperado. Por exemplo, em Isaías
9.6 o Messias é chamado de Deus forte e em Salmos encontramos a declaração de
que o trono messiânico seria para sempre, e nesse verso ele é chamado de Deus
(Sl.45.6).
É verdade que em nenhuma dessas ocasiões se diz que o
Messias seria chamado pelo nome de Jeová, mas seria chamado de Elohim, que nas
escrituras hebraicas era um termo comum a ser empregado a seres humanos, como
reis, e até mesmo a seres angélicos. Contudo, o próprio Jeová afirma ser Elohim
algumas vezes, especialmente em Deuteronômio 6.4: “Escuta, ó Israel: Jeová,
nosso Deus [Elohim], é um só Jeová“.
Entretanto, isso não
é tudo o que se poderia aprender com as Escrituras Hebraicas a respeito
do Messias. Existe um texto muito interessante que afirma que o Messias seria o
próprio Jeová:
“Eis que vêm dias”, é a pronunciação de Jeová, “e eu vou
suscitar a Davi um renovo justo. E um rei há de reinar e agir com discrição, e
executar o juízo e a justiça na terra. Nos seus dias, Judá será salvo e o
próprio Israel residirá em segurança. E este é o nome pelo qual será chamado:
Jeová É Nossa Justiça” – Jeremias 23.5-6
Nesse texto, o Messias é primeiramente chamado de renovo
justo, como é comum nas escrituras hebraicas (Sl. 132.11; Is.4.2; 11.1;
Zc.6.12; ). Nesse texto também vemos que o Messias viria para executar o juízo
e a justiça, bem como proteger a Israel. Entretanto, o seu nome será Jeová é
nossa Justiça.
Dois detalhes aqui são importantes: (1) o uso do termo
“nome” (hb. shem) e (2) o uso do Tetragrama (YHWH). O uso do termo “nome” é
importante, pois ele não fala apenas da nomenclatura de um pessoa, mas o termo
hebraico é frequentemente associado ao caráter de uma pessoa, observe:
Por favor, não fixe meu senhor seu coração neste homem
imprestável, Nabal, pois ele é tal qual seu nome. Nabal é o seu nome e a
insensatez está com ele. Quanto a mim, tua escrava, não vi os moços do meu
senhor, que enviaste. – 1 Samuel 25.25
Essa relação entre nome e caráter nas escrituras hebraicas é
fato claramente observável. Considere o caso de Jacó que teve seu nome alterado
para Israel por Jeová (Gn.35.10). O significado de Jacó é “enganador” ao passo
que Israel “Deus prevalece” como expressão da fidelidade e manutenção graciosa
do Seu Soberano Plano apresentado a Abraão. Fato similar acontece com Noemi,
que por grande sofrimento pela perda do marido e dos seus filhos (Rt.1.12),
descreve sua situação com o termo “amarga” (hb. Mara; Rt.1.13; cf. Ex.15.23),
nome que adota para descrever sua situação: “Porém ela lhes dizia: Não me
chameis Noemi; chamai-me Mara, porque grande amargura me tem dado o
Todo-Poderoso” (Rt.1.20).
Entretanto, é fundamental demonstrar que esse termo (hb.
shem) é usado nas escrituras hebraicas para descrever a exclusividade de Jeová,
e eventualmente é usado em substituição do Tetragrama:
Deves fazer para mim um altar de terra, e sobre ele tens de
sacrificar as tuas ofertas queimadas e os teus sacrifícios de participação em
comum, teu rebanho e tua manada. Em todo lugar onde farei que meu nome seja
lembrado virei a ti e certamente te abençoarei. – Êxodo 20.24
Por isso vou entoar melodias ao teu nome para todo o sempre,
A fim de pagar meus votos dia após dia – Salmos 61.8
Em ambos os versos, a ideia é que Jeová Deus deveria ser
lembrado ou adorado, e as escrituras hebraicas apresentam esse tipo de situação
várias vezes. Contudo, ainda mais interessante do que isso é que o texto de
Jeremias fala que o nome, isso é, o caráter e a essência do Messias, será
Jeová. Contudo, Jeová mesmo garante que o Tetragrama é o seu nome e ele não o
dá a ninguém:
Jeová é pessoa varonil de guerra. Jeová é o seu nome – Êxodo
15.3
Deus disse então mais uma vez a Moisés: “Isto é o que deves
dizer aos filhos de Israel: ‘Jeová, o Deus de vossos antepassados, o Deus de
Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó enviou-me a vós.’ Este é o meu nome
por tempo indefinido e esta é a recordação de mim por geração após geração –
Êxodo 3.15
Eu sou Jeová. Este é meu nome; e a minha própria glória não
darei a outrem, nem o meu louvor a imagens entalhadas – Isaías 42.8
Ou seja, ao dizer que o Messias terá o nome de Jeová nossa
Justiça, Jeová está dizendo que o Messias será como Jeová. Mais importante
ainda, o Messias terá o mesmíssimo nome de Jeová, o nome que não divide com
ninguém. É importante dizer que no texto de Jeremias encontramos o Tetragrama
para descrever a pessoa do Messias. Assim, podemos dizer que as escrituras
hebraicas claramente atestam que o Messias será divino.
Tendo assegurado isso, devemos lembrar que Jesus chamou para
si a ideia de ser o Cristo, prometido pelas escrituras. João, o batizador,
quando já encarcerado teve dúvidas quanto a verdade e pediu que seus discípulos
fossem conferir se de fato Jesus era o Messias:
João, na cadeia, porém, tendo ouvido [falar] das obras do
Cristo, enviou os seus próprios discípulos e mandou dizer-lhe: “És tu Aquele
Que Vem, ou devemos esperar alguém diferente?” Jesus disse-lhes, em resposta:
“Ide e relatai a João o que ouvis e vedes: 5 Os cegos estão vendo novamente e
os coxos estão andando, os leprosos estão sendo purificados e os surdos estão
ouvindo, e os mortos estão sendo levantados, e aos pobres estão sendo
declaradas as boas novas; 6 e feliz é aquele que não achar em mim nenhuma causa
para tropeço – Mateus 11.2-6
A resposta de Jesus foi clara: Ele citou Isaías 35.5 e 61.1
que falam sobre o Messias. Jesus não teve qualquer dificuldade em assumir que
era de fato o Messias prometido. Quando Pedro declarou que Ele era o Cristo,
Jesus demonstrou que tal verdade fora revelada pelo Pai que está nos céus
(Mateus 16.16-17). Mas, uma importante evidência de sua clara consciência
messiânica foi vista já perto do fim de sua vida:
O sumo sacerdote começou novamente a interrogá-lo e
disse-lhe: “És tu o Cristo, o Filho do Bendito?” Jesus disse então: “Sou; e vós
vereis o Filho do homem sentado à destra de poder e vindo com as nuvens do céu
– Marcos 14.61-62
Nessa ocasião fica evidente que Jesus claramente assume o
título de Cristo, e devemos dizer que diante do testemunho das escrituras
hebraicas, Jesus Cristo é de fato divino, pois foi assim que as escrituras
hebraicas se referiram a Ele.
Ou seja, ao assumir ser o Cristo Prometido, Jesus claramente
confirmou sua identidade divina.