A Bíblia é um livro que nos surpreende, pela antiguidade, pela posição cimeira que continua a ocupar entre os livros mais vendidos e procurados no mundo, pela diversidade de conteúdos que nela encontramos e, finalmente, pela resistência face às perseguições e aos ataques de que sido alvo ao longo da História.
Factos Acerca da Bíblia.
• Ela contém 66 livros e 1189 capítulos, tendo o Velho Testamento 929 capítulos e o Novo Testamento 260.
• O maior capítulo da Bíblia é o Salmo 119 e o mais pequeno o Salmo 117.
• Maer-Salad-Has-Bas é o maior nome que encontramos na Bíblia e está no livro de Isaías, no capítulo 8.
• O versículo mais comprido é o de Ester 9:8 (com 415 carateres) e o mais curto o de João 11:35 (somente 11).
• No livro de Esdras, no capítulo 7 e versículo 21, temos todas as letras do alfabeto hebraico, menos uma.
A Bíblia foi escrita durante um período de mais de 1500 anos, por 44 autores, que viveram em épocas e culturas diversas, envolvidos em actividades distintas. Na sua composição, encontramos camponeses, pescadores, reis, filósofos, políticos, médicos, teólogos, ricos e pobres, pessoas dos mais rariados extractos sociais, que colaboraram na redacção de um texto que continua a interpelar pela sua honestidade, exactidão e incisão na apresentação dos diversos assuntos de que trata, assuntos que dão resposta e sentido às grandes questões da existência humana.
Desde que Moisés começou a escrever o texto sagrado, cerca de 1450 a.C., até ao último livro do Novo Testamento, escrito pelo apóstolo João por volta do ano 90 d.C., mais de quinze séculos se passaram, sem que tal diversidade tivesse afectado a corência e a unidade do texto e dos temas.
A questão de quais livros pertencem à Bíblia é chamada de questão canónica. A palavra cânon significa régua, vara de medir, regra, e, em relação à Bíblia, refere-se à coleção de livros que passaram pelo teste de autenticidade e autoridade. Significa ainda que esses livros são a nossa regra de fé e vida.
Mas, como foi formada esta coleção, adequadamente chamada de Bíblia?
• Os Testes de Canonicidade
Em primeiro lugar é importante lembrarmos que certos livros já eram canônicos antes de qualquer teste lhes ser aplicados. Isto é como dizer que alguns alunos são inteligentes antes mesmo de se aplicar neles qualquer prova? Os testes apenas provam aquilo que já existe.
Os diversos concílios eclesiásticos reconheceram certos livros como sendo a Palavra de Deus e, com o passar do tempo, aqueles assim reconhecidos e profundamente analisados quanto a sua coerência e autenticidade, foram colecionados para formar o que hoje chamamos Bíblia.
E que testes foram aplicados o longo dos séculos?
(1) Havia o teste da autoridade do escritor. Em relação ao Antigo Testamento, isto significava a autoridade do legislador, ou do profeta, ou do líder em Israel. No caso do Novo Testamento, o livro deveria ter sido escrito ou influenciado por um apóstolo para ser reconhecido. Em outras palavras, deveria ter a assinatura ou a aprovação de um apóstolo. Pedro, por exemplo, apoiou a Marcos, e Paulo a Lucas.
(2) Os próprios livros deveriam dar alguma prova intrínseca de seu caráter peculiar, inspirado e autorizado por Deus. Seu conteúdo deveria se demonstrar ao leitor como algo diferente de qualquer outro livro, por comunicar a revelação de Deus.
(3) O veredicto das igrejas quanto à natureza canónica dos livros era importante. Na verdade, houve uma surpreendente unanimidade entre as primeiras igrejas quanto aos livros que mereciam lugar entre os inspirados. Embora seja fato que alguns livros bíblicos tenham sido recusados ou questionados por uma minoria, nenhum livro da Bíblia, cuja autenticidade tenha sido questionada por um grande número de igrejas, veio a ser aceito posteriormente como parte do cânon.
• A Formação do Cânon
O cânon da Escritura estava se formando, é claro, à medida que cada livro era escrito, e completou-se quando o último livro foi terminado. Quando falamos da "formação" do cânon estamos realmente falando do reconhecimento dos livros canónicos. Esse processo levou algum tempo. Alguns estudiosos afirmam que todos os livros do Antigo Testamento já haviam sido colecionados e reconhecidos por Esdras, no quinto século a.C. As referências nos escritos do historiador Flávio Josefo (95 A.D.) indicam a extensão do cânon do Antigo Testamento como sendo os 39 livros que conhecemos e aceitamos hoje.
Quando Jesus acusou os escribas de serem culpados da morte de todos os profetas que Deus enviara a Israel, desde Abel até Zacarias (Luc.11:51), Ele, desta forma, delimitou o que considerava ser a extensão dos livros canónicos. O relato da morte de Abel está no primeiro livro, Génesis; o da morte de Zacarias se acha em II Crónicas, que é o último livro da disposição da Bíblia hebraica (em lugar do nosso Malaquias). Assim sendo, é como se Jesus tivesse dito: "A culpa de vocês está registrada em toda a Bíblia, de Gênesis a Malaquias". É interessante que Jesus nunca fez referência a nenhum dos livros chamados apócrifos, que já existiam em seu tempo, uma vez que os fatos neles relatados ocorreram no período intertestamentário, quase 200 anos antes de Seu nascimento.
Os primeiros concílios eclesiásticos a reconhecerem todos os 27 livros do Novo Testamento foi o de Hipona e o de Cartago, em 397 d.C. Alguns livros do Novo Testamento, individualmente, já haviam sido reconhecidos como canónicos muito antes disso (II Ped. 3:16; I Tim. 5:18), e a maioria deles foi aceita como canónicos no século posterior ao dos apóstolos, embora alguns como Hebreus, Tiago, II Pedro, II e III João e Judas tivessem sido debatidos durante algum tempo. A seleção do cânon sagrado foi um processo que continuou até que cada livro provasse o seu valor, passando pelos testes de canonicidade.
Os 12 livros chamados apócrifos do Antigo Testamento jamais foram aceitos pelos judeus ou por Jesus. Eles eram respeitados, mas não foram considerados como Escritura Sagrada. Eles chegaram a ser incluídos na tradução grega chamada Septuaginta, produzida cerca de 300 anos antes de Cristo. Jerónimo (século IV http://pt.wikipedia.org/wiki/Vulgata) fez uma distinção entre esses livros e os canónicos, chamando-os de eclesiásticos, e essa distinção acabou por conceder-lhes uma canonicidade secundária. Os Reformadores também os rejeitaram. Algumas versões protestantes dos séculos XVI e XVII, os apócrifos foram colocados à parte.
• O Texto Bíblico que Conhecemos é Confiável?
Os manuscritos originais do Antigo Testamento e suas primeiras cópias foram escritos em pergaminho ou papiro, desde o tempo de Moisés (1450 a.C.) e até o tempo de Malaquias (425 a.C.). Até a sensacional descoberta dos Rolos do Mar Morto, em 1947, não possuíamos cópias do Antigo Testamento anteriores a 895 d.C. A razão disto acontecer era a veneração quase supersticiosa que os judeus tinham pelo texto, e que os levava a enterrar as cópias, à medida que ficavam gastas demais para uso regular.
Na verdade os Massoretas, ou tradicionalistas, que acrescentaram os acentos e transcreveram a vocalização das palavras hebraicas, aproximadamente entre 500 e 1500 d.C., padronizando em geral o texto do Antigo Testamento, engendraram maneiras sutis de preservar a exatidão das cópias que faziam. Verificavam cada página cuidadosamente, contando a letra média de cada página, livro e divisão. Devemos muito a estes religiosos detalhistas, em relação à veracidade do que hoje conhecemos. Alguém disse que qualquer coisa numerável era numerada por eles.
Quando os Manuscritos do Mar Morto foram descobertos, trouxeram à luz um texto hebraico datado do segundo século a.C., com todos os livros do Antigo Testamento, menos o de Ester. Essa descoberta foi extremamente importante, pois forneceu um instrumento muito mais antigo para verificarmos a exatidão do Texto Massorético, que se mostrou extremamente exato.
Outros instrumentos antigos de verificação do texto hebraico incluem a Septuaginta, os targuns aramaicos (paráfrases, comentários e citações do Antigo Testamento), referência em obras de autores cristãos da antiguidade, a tradução latina de Jerónimo (a Vulgata, 404 d.C.), feita diretamente do texto hebraico corrente em sua época. Todas essas fontes nos oferecem dados que asseguram um texto extremamente exato do Antigo Testamento.
Em relação ao Novo Testamento, mais de 5.000 manuscritos dele existem ainda hoje, o que o torna o mais bem documentado dos escritos antigos. Além de existirem muitas cópias do Novo Testamento, muitas delas pertencem a uma data bem próxima à dos originais. Há aproximadamente 75 fragmentos de papiro datados desde 135 d.C., até o oitavo século, possuindo partes de 25 dos 27 livros do Novo Testamento, num total de 40% do texto total.
As muitas centenas de cópias feitas em pergaminho incluem o grande Códice Sinaítico (quarto século), o Códice Vaticano (também do quarto século) e Códice Alexandrino (quinto século). Além disso, há cerca de 2.000 lecionários (livretos de uso litúrgico que contêm porções das Escrituras), mais de 86.000 citações do Novo Testamento nos escritos dos chamados Pais da Igreja, antigas traduções como a latina ou Ítala, a siríaca e a egípcia, datadas do terceiro século, e a versão latina de Jerónimo. Todos esses dados, mais o trabalho feito pelos estudiosos da paleografia, arqueologia e crítica textual, nos asseguram possuirmos um texto exato e fidedigno do Novo Testamento.
No entanto, o que realmente nos dá a certeza de que a Bíblia contêm o pensamento inspirado por Deus a homens escolhidos para esse fim, é o poder que suas verdades possuem. É impossível ler a Bíblia com sinceridade e oração sem ser tocado pela força de suas palavras. A maneira miraculosa como essas verdades atravessaram os séculos e chegaram até nós, transformando vidas, modificando costumes, abrandando corações, trazendo conforto, felicidade e paz de espírito a quem as lê, nos dão a certeza de que Deus nos fala através de suas páginas.
Como Estudar a Bíblia
A Bíblia pode ser lida em qualquer momento, e qualquer um dos seus livros contém ensinos proveitosos. No entanto, como ela aborda as questões fundamentais que têm a ver com a existência humana e o objectivo pelo qual existimos, a própria Bíblia aconselha a um método de estudo: comparar o que os seus livros dizem acerca de determinado assunto.
O profeta Isaías determina esse método: “Porque é preceito sobre preceito, preceito e mais preceito; regra sobre regra, regra e mais regra; um pouco aqui, um pouco ali” (Isaías 28:10).
Jesus Cristo, após a Sua ressurreição, utilizou esse procedimento, quando explicou aos discípulos que se dirigiam para Emaús os sofrimentos anunciados do Messias (cf. Lucas 24:27,44).
Os pais da Igreja preferiam também utilizar este método na sua análise da Bíblia. Este método parte do princípio de que a Bíblia é a sua própria intérprete. E é a partir deste estudo harmonioso da Bíblia que se pode ficar a conhecer a vontade e o plano de Deus para a nossa vida.
José Carlos Costa, pastor