31 de dezembro de 2010

A LEI E O EVANGELHO

A Lei revela a perfeição de carácter requerida, dando assim a conhecer o pecado; é, porém, impotente quanto a conferir o carácter exigido. No Evangelho, a Lei, primeiramente escrita no coração de Cristo, vem a ser a “lei do Espírito de vida em Cristo Jesus,” e transfere-se assim para o coração do crente, no qual Cristo mora pela fé.

A palavra “evangelho” significa boas novas — boas novas da salvação do pecado (ver Mateus 1:21). E a Bíblia define pecado como qualquer violação da lei divina (ver I João 3:4). Assim, o evangelho é a boa nova do plano de Deus que anuncia ao pecador como encontrar a salvação face à lei que este transgrediu.

Portanto, em vez do evangelho ser oposto à lei, a Bíblia coloca-os ambos como complementares e em perfeita comunhão. E a própria existência do evangelho prova que a lei ainda está em vigor, pois qual seria o propósito na pregação das boas novas de salvação se a violação da lei não estivesse em vigor? O ser humano não pode transgredir o que não existe.

Leiamos, no seu contexto:: “Porque o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei e sim da graça. E daí? Havemos de pecar porque não estamos debaixo da lei e sim da graça? De modo nenhum!” (Rom. 6:14 e 15).

Descobrimos imediatamente que, não importa o que mais Paulo deseja que compreendamos desta passagem, ele não quer que pensemos que o reino da graça nos livra da obediência à lei. “E daí?”, diz ele, “havemos de pecar”, isto é, transgredir a lei, “porque não estamos debaixo da lei e sim debaixo da graça? De modo nenhum!”

O versículo seguinte esclarece a seguinte frase “debaixo da lei” com o significado de “sob sua condenação”, e “debaixo da graça” tendo o significado de “vivendo sob o plano que Deus tem oferecido para salvar da escravidão do pecado”, pois Paulo continua: “Não sabeis que daquele a quem vos ofereceis como servos para obediência, desse mesmo a quem obedeceis sois servos, seja do pecado para a morte ou da obediência para a justiça? ... e, uma vez libertados do pecado, fostes feitos servos da justiça.” Rom. 6: 16-18.

O contraste está entre servos “do pecado” e servos “da obediência para a justiça”. O que é que dá força ao pecado? É a lei, diz Paulo (ver 1ªCor. 15:56). O facto de que a lei existe e pronuncia a pena de morte para a prática do mal é o que confere ao pecado o seu poder sobre aqueles que condescendem com actos ilícitos. A lei não lança a sua forte mão contra o homem que não a viola. A sua força é sentida somente pelo transgressor.

Paulo afirma que o pecado não tem mais domínio sobre nós porque estamos vivendo debaixo, ou aceitamos, o plano divino da graça, que nos dá o poder para quebrar o controlo do pecado. Deste modo, em vez de sermos servos do pecado, nos tornamos servos da “obediência para a justiça”. E o que é a justiça? É o proceder correcto, o justo viver — uma condição do coração oposta à pecaminosidade ou ilegalidade.

Num capítulo subsequente, Paulo diz como a graça do evangelho de Jesus Cristo nos traz justiça, e como essa justiça está directamente relacionada com a lei. Lemos: “Porquanto o que fora impossível à lei, no que estava enferma pela carne, isso fez Deus enviando o seu próprio Filho em semelhança de carne pecaminosa e no tocante ao pecado; e, com efeito, condenou Deus, na carne, o pecado, a fim de que o preceito da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito” (Rom. 8:3 e 4).

Paulo lida com o mesmo problema em Gálatas 3:24 e 25: “De maneira que a lei nos serviu de aio para nos conduzir a Cristo, a fim de que fôssemos justificados pela fé. Mas, tendo vindo a fé, já não permanecemos subordinados ao aio.”

A lei pode mostrar-nos a nossa pecaminosidade e levar-nos a tal convicção do pecado que sejamos conduzidos a Cristo, que pode livrar-nos dos nossos pecados. Quando recebemos a Cristo não mais estamos sob o domínio (a condenação) da lei. Mas não estamos livres da obediência à lei de Deus, porque aceitando a Cristo recebemos o poder dado pelo Espírito Santo para obediência a essa lei, como está explicado na passagem já citada de Romanos 8. De modo que Gálatas 3:24 e 25 não dá nenhum apoio à alegação de que a lei foi abolida.

Quão claro e simples é, portanto, que quando aceitamos o Filho de Deus e a graça que Ele oferece, não viramos as costas à lei. Pelo contrário, descobrimos que a “justiça da lei se cumpre em nós”, Em vez de sermos pecadores, transgressores da lei de Deus, descobrimos que somos obedientes à mesma.

Face a esta verdade incontornável, não há nenhuma dificuldade no texto: “Porque a lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo.” João 1:17. Embora Moisés servisse a um grande propósito no plano de Deus — porque através dele Deus deu ao mundo a forma escrita do código moral — foi por meio de Cristo que veio a graça divina, sem a qual a lei não pode realmente ser guardada.

A pessoa que aceita a Cristo não entra numa luta para obter justiça pela observância da lei. Em vista da aceitação de Cristo, a justiça do Salvador é-lhe imputada. Diz Paulo: “Mas agora, sem [ou, à parte da] lei, se manifestou a justiça de Deus testemunhada pela lei e pelos profetas; justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo, para todos [e sobre todos] os que crêem” (Rom. 3:21 e 22).

A “justiça de Deus” pode ser obtida à parte da lei; por isso, Paulo pode afirmar: “Porque o fim da lei é Cristo, para justiça de todo aquele que crê” (Rom. 10:4). A todos os que nEle crêem, Cristo leva a um patamar sublime de obter a justiça de Deus e ser obediente no Seu poder. Ou, novamente, podemos compreender a palavra “fim” como significando o objectivo ou propósito [finalidade], mas não fim no sentido de ter terminado. Um estudante quando termina o curso superior alcançou uma finalidade, um propósito, um meio para poder realizar uma profissão. O crente alcança a sua profissão de fé na justiça de Cristo e por esta agrada-se em receber poder para observar a Lei de Deus, do Seu Senhor e Rei.
A Lei é do REI, não de Moisés (falamos dos Dez Mandamentos).

Cristo era o objectivo que a lei tinha em vista; porque o propósito da lei é levar os homens a perceber o seu estado pecaminoso, a sua injustiça, para que possam ir a Cristo em busca da Sua justiça, que é imputada na justificação e comunicada no viver diário, algo claramente ensinado em Gálatas 2:20. Esse uso da palavra “fim” é encontrado em Tiago 5:11 ei Timóteo 1:5. Não pode haver outro entendimento!

A lei e a graça vieram do Céu. Quão felizes somos como cristãos por não termos a obrigação de criar todo um sistema, ou sofismas para rejeitar a Lei do Senhor! Pelo poder da graça de Deus, não mais permanecemos sob a condenação da lei, mas somos nEle erguidos para o elevado plano de completa obediência a esse código divino.

Jamieson, Fausset e Brown, em seu comentário bíblico, fazem esta observação numa nota no final do comentário sobre Romanos 6:

“O princípio fundamental de obediência do evangelho é tão original quanto é divinamente racional; de que ‘somos libertos da lei a fim de guardá-la, e somos trazidos graciosamente sob a servidão da lei a fim de sermos livres’ (versos 14, 15 e 18). Eu não o diria melhor!

não se percebe a razão de uma argumentação feita por aqueles que não aceitam a Lei de Deus. De facto, estão de acordo com todos os mandamentos, menos um, qual é?
Por outro lado, quando a graça nos leva à compreensão de que em Cristo temos um Advogado, um justo Fiador, nos leva a um estado de consciente reconciliação, e amorosa entrega do coração a um Deus que salva, imediatamente sentimos a gloriosa liberdade para sermos santos, e a certeza de que ‘o pecado não terá domínio sobre nós’.

Isso é tão agradável aos nossos gostos e aspirações renovados como sentir que o seu fundamento está firme ‘porque não estamos debaixo da lei, mas debaixo da graça’. Diga: Amem.