“O AMIGO considera o amigo como um fim em si mesmo, e o que
faz pelo amigo não o faz por cálculo nem à espera de recompensa, mas de forma
completamente desinteressada. Ora, como o outro amigo, por sua vez, cultiva
atitudes semelhantes de acção desinteressada, a amizade revela-se
essencialmente recíproca, enchendo a alma
de uma suave ventura, de uma satisfação tanto mais plena quanto não
tiver sido pressuposta nem preparada … A amizade vai-se tecendo pouco a pouco,
lentamente, sem causas, mediante uma atracção constante que intensifica o
tratamento recíproco, depurando-o, limpando-o de todo o egoísmo, e acabando por
ligar estreitamente as duas vidas em clara e serena colaboração vital. Cada um
dos amigos ajuda o outro na empresa da vida … para cada um dos amigos é tarefa
cordial e profunda ajudar o outro a realizar o seu ser e a sua essência, a
viver a sua vida, mas sem tentar distorcê-la nem desviá-la através de canais
impróprios, diferentes daqueles que o outro sonha para si.”
Manuel Garcia Morente