18 de fevereiro de 2014

Reflexões sobre a Calúnia

“Estas seis coisas aborrece o Senhor, e a sétima a sua alma abomina: olhos altivos, a língua mentirosa, e mãos que derramam sangue inocente, e coração que maquina pensamentos viciosos, e pés que se apressam a correr para o mal, e testemunha falsa que profere mentiras, e o que semeia contendas entre irmãos” – Provérbios 6.16.


Deus odeia toda a maldade que gera a morte, mas detesta a maledicência. Ele execra a calúnia porque nasce no coração de lacaios, de medíocres, que só desopilam o baço quando arranham a reputação de alguém. O caluniador crava suas unhas na vida das pessoas que admira, e não nota a rejeição que provoca no coração de Deus.

O maledicente fuça a intimidade dos outros; é hiena com fome de carniça. Alimenta-se de notícias mal contadas, de frases retalhadas, de conversas insinuadas. Contenta-se em sussurrar. Aumenta, nunca inventa; sabe que inventar é arriscado e distorcer, seguro. Infame, arrasta-se em penumbras. Escorregadio, detesta a transparência dos cristais. Exangue, prefere o lusco-fusco impreciso dos crepúsculos. Sugere a dúvida com leviandade e se cala para o siso que produziria o bem. Saliva na iminente derrocada de pessoas que inveja. Satisfeito, celebra o envenenamento que matou o afeto que admira. Desdenha do Livro dos livros: “Não se alegre quando o seu inimigo cair, nem exulte o seu coração quando ele tropeçar…”.

O caluniador precisa de cúmplices; forma quadrilha para roubar nome. Amparado por asseclas de coração minguado, pinga veneno nas notícias duvidosas. Depois, desaparece. Basta-lhe esperar que as informações suspeitosas se espalhem pela boca rancorosa dos medíocres que lhe rodeiam. As maquinações da maldade não carecem de sua supervisão. Nunca falta gente baixa, gente que se deleita em ver uma biografia jogada na sarjeta.

A língua é um fogo. Muitas vezes incandescida pelo inferno, produz um mundo de iniquidade. Só precisa de uma fagulha para incendiar o curso de uma vida inteira. A língua maldosa faz perguntas capciosas. Sem intenção de ouvir, seu segredo é deixar no ar pontos de interrogação: “Será?”; “Foi assim mesmo?” O caluniador sabe oscilar, sordidamente, entre a piedade e a detração. Com a mesma língua bendiz a Deus e amaldiçoa a história de homens e mulheres, feitos à semelhança de Deus. Muitas vezes não consegue destruir os atos, que são objetivamente observados; parte então para questionar as intenções, subjetivas. Julga e sentencia sem qualquer parâmetro senão a sua imundície interior.

Quando Davi pecou, foi-lhe dado o direito de escolher a punição que sofreria. “Prefiro cair nas mãos do Senhor, pois grande é a sua misericórdia, a cair nas mãos dos homens”. Comentando essa passagem, o padre António Vieira afirmou: “O juízo dos homens é mais temeroso do que o juízo de Deus; porque Deus julga com entendimento, os homens julgam com a vontade”. Verdade! A vontade do fofoqueiro está indisposta. Duvidará sempre, seu juízo vem maculado com a peçonha que desfigura homens e mulheres em serpentes.

O despeitado que semeia contendas deve lembrar Provérbios: “As palavras do caluniador são como petiscos deliciosos; descem saborosos até o íntimo. Como uma camada de esmalte sobre um vaso de barro, os lábios amistosos podem ocultar um coração mau. Quem odeia disfarça suas intenções com lábios, mas no coração abriga a falsidade. Embora a sua conversa seja mansa, não acredite nele, pois o seu coração está cheio de maldade. Ele pode fingir e esconder o seu ódio, mas a maldade será exposta em público. Quem faz uma cova, nela cairá; se alguém rola uma pedra, esta rolará sobre ele.”


Por Ricardo Gondim