“Porque
em seis dias fez o SENHOR os céus e a terra, o mar e tudo que neles há, e ao
sétimo dia descansou; portanto abençoou o SENHOR o dia do sábado, e o
santificou.”
Êxodo
20:11
A trajectória da vida humana é assinalada
por dias, meses e anos, que ininterruptamente se sucedem em obediência a
inalteráveis fenómenos da Natureza.
O dia corresponde ao intervalo gasto
pela Terra a dar uma volta completa sobre o seu eixo; o mês, primitivamente mês
lunar, corresponde ao intervalo de tempo decorrido entre duas luas novas
sucessivas; o ano corresponde ao tempo que a Terra leva a efectuar uma
revolução completa em torno do Sol.
Mas temos ainda a semana, cuja
divisão em sete dias não corresponde a nenhum fenómeno natural actualmente em
curso. A sua origem encontra-se apenas no facto registado na Bíblia Sagrada de
que Deus criou a Terra em seis dias e no sétimo dia descansou.
É isso, precisamente, o que lemos em
Génesis 2:2-3: “E havendo Deus acabado no dia sétimo a obra que fizera,
descansou no sétimo dia de toda a sua obra, que tinha feito. E abençoou Deus o
dia sétimo, e o santificou; porque nele descansou de toda a sua obra que Deus
criara e fizera.”
A santificação do Sábado tem pois a
sua origem muito antes do aparecimento dos Israelitas e da proclamação do
Decálogo. Com efeito, a vida de Abraão, o antepassado dos judeus, e a chagada
ao monte Sinais, com a recepção do Decálogo, só ocorreram, respectivamente,
cerca 2000 a 2500 depois da instituição do Sábado.
A este propósito é digno de nota que
antes de os Israelitas chegarem ao Sinai, já Deus tinha começado a alimentar o
povo providenciando-lhes o maná durante os primeiros dias da semana, com porção
dobrada na Sexta-feira, dado que no sétimo dia nada encontrariam, pois que,
como lhe declarou Moisés: “E ele disse-lhes: Isto é o que o SENHOR tem dito:
Amanhã é repouso, o santo sábado do SENHOR; o que quiserdes cozer no forno,
cozei-o, e o que quiserdes cozer em água, cozei-o em água; e tudo o que
sobejar, guardai para vós até amanhã.” Êxodo 16:23.
Dias depois, no Monte Sinai, Deus
entregou ao povo, por meio de Moisés, as duas tábuas da Lei, com os Dez
Mandamentos. O quarto mandamento reza assim: “Lembra-te do dia do sábado, para
o santificar. Seis dias trabalharás, e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia
é o sábado do SENHOR teu Deus; não farás nenhuma obra, nem tu, nem teu filho,
nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o teu
estrangeiro, que está dentro das tuas portas. Porque em seis dias fez o SENHOR
os céus e a terra, o mar e tudo que neles há, e ao sétimo dia descansou;
portanto abençoou o SENHOR o dia do sábado, e o santificou.” Êxodo 20:8-11.
Como acabámos de ler, na própria
redacção do mandamento é dada a razão para a observância do Sábado: “Porque em
seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há, e ao
sétimo dia descansou; portanto abençoou o Senhor o dia do Sábado e o
santificou.”
A observância do Sábado devia
constituir, para todos quantos se mantivessem leais ao Senhor, um sinal, não só
de que, de acordo com o mandamento, O reconheciam como Criador, mas também como
Santificador das suas vidas.
Essa realidade encontra-se
explicitada em termos, como estes: “Tu, pois, fala aos filhos de Israel,
dizendo: Certamente guardareis meus sábados; porquanto isso é um sinal entre
mim e vós nas vossas gerações; para que saibais que eu sou o SENHOR, que vos
santifica.” Êxodo 31:13.
“E também lhes dei os meus sábados,
para que servissem de sinal entre mim e eles; para que soubessem que eu sou o
SENHOR que os santifica.” Ezequiel
20:12.
E tudo permaneceu nestes termos até à
prometida vinda do Messias. E qual foi a atitude de Jesus para com a
santificação do Sábado?
Num caso concreto, lemos: “E, chegando a Nazaré, onde fora criado, entrou num dia
de sábado, segundo o seu costume, na sinagoga, e levantou-se para ler.” Lucas 4:16.
Durante o Seu ministério, afirmou o
Mestre: “Não cuideis que vim destruir a lei ou
os profetas: não vim ab-rogar, mas cumprir.”
(gr. pleroo, completar, aperfeiçoar o sentido do seu cumprimento, como
se deduz dos versículos seguintes relativos a vários mandamentos). Mateus 5:17.
Quando os Seus inimigos O censuravam de que Ele transgredeiu o Sábado, Jesus
limitava-Se a salientar o verdadeiro espírito em que o Sábado devia ser
observado, rejeitando apenas as tradições inibitivas e por vezes absurdas com
que sobrecarregavam a santificação desse dia, o que O levou a fazer-lhes a
lancinante pergunta: “Por que transgredis vós também o mandamento de Deus pela
vossa tradição.” Mateus 15:3
Concluído o ministério público e
depois da Sua morte na cruz do Calvário, refer o evangelista Lucas que as
mulheres que tinham vindo com Ele da Galileia, “no Sábado repousaram, conforme
o mandamento”. Lucas 23:66. Este versículo revela três factos importantes:
primeiro, que Jesus não mudou para outro dia a observância do Sábado; segundo,
que as pessoas que mais de perto O seguiram continuaram a guardar o Sábado
depois da Sua morte; terceiro, que Lucas, ao escrever o seu evangelho por volta
dos anos sessenta, ainda considerava que era “conforme o mandamento” a guarda
do sétimo dia da semana.
Cerca do ano 50, quando na sua
segunda viagem missionária o apóstolo Paulo chegou a Filipos, lemos que “no dia
de Sábado saímos fora das portas, para a beira do rio, onde julgávamos ter
lugar para oração; e, assentando-nos, falámos às mulheres que ali se
ajuntaram”. Actos 16:13 (Note-se que a expressão “ a um lugar onde pensávamos
que os judeus costumavam ir orar”, introduzida em algumas versões modernas da
Bíblia, não corresponde ao original grego, onde a palavra judeus não aparece,
nem no textus receptus nem nas suas numerosas variantes gregas.)
Por outro lado, o próprio Jesus
previa que pouco antes da destruição de Jerusalém, ocorrida no ano 70, os Seus
discípulos ainda continuariam a guardar o Sábado, pois os exortou: “Orai para
que a vossa fuga não aconteça no Inverno nem no Sábado.” Mateus 24:20.
Finalmente, já no fim do século I, o
apóstolo João afirma, em Apocalipse 1:10: “Eu fui arrebatado em espírito no dia
do Senhor.” Algumas versões, ao traduzirem “dia do Senhor” por Domingo, fazem
crer que o dia do Senhor é o primeiro dia da semana, quando na própria Bíblia
se afirma que o dia do Senhor é o sétimo dia da semana. Os seguintes textos
batam para disso nos convencermos. Segundo o quarto mandamento, “o sétimo dia é
o Sábado do Senhor teu Deus” (Êxodo 20:10). Mais tarde, lemos em Isaías 58:13: “Se desviares o teu pé do sábado, de fazeres a tua
vontade no meu santo dia, e chamares ao sábado deleitoso, e o santo dia do
SENHOR, digno de honra, e o honrares não seguindo os teus caminhos, nem
pretendendo fazer a tua própria vontade, nem falares as tuas próprias palavras.” E, por fim, o próprio Jesus declarou: “O Filho do homem
até do Sábado é Senhor.” Mateus 12:8
Vimos assim, durante a dispensação
judaica, a guarda do Sábado seria um sinal de obediência ao Deus Criador e
Santificador. Será que isso se aplicava apenas aos judeus?
Respondemos que se isso se aplicava,
com muito mais razão se aplica aos cristãos, porque estes sabem algo que os
judeus ignoravam.
Com efeito, o divino agente da Criação foi o próprio
Senhor Jesus: “NO princípio era o Verbo, e o
Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio
com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito
se fez.” João 1:1-3 “N´Ele (Cristo) foram criadas todas as coisas que há nos
Céus e na Terra, visíveis e invisíveis. …Tudo foi criado por Ele e para Ele.”
“ Porque nele foram criadas todas as coisas que há nos
céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam
principados, sejam potestades. Tudo foi criado por ele e para ele.” Colossenses
1:16.
“A quem (Deus a Seu Filho) constituiu herdeiro de tudo,
por quem fez também o mundo.” Hebreus 1:2
Por outro lado, na Sua oração sacerdotal, rogou Jesus ao
Pai: “Santifica-os na tua verdade; a tua palavra é a verdade. Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei
ao mundo. E por eles me santifico a mim mesmo, para que também eles sejam
santificados na verdade.” João 17: 17-19.
“E por isso também Jesus, para santificar o povo pelo
seu próprio sangue, padeceu fora da porta.” Hebreus 13:12. Por fim, lemos também que Jesus Cristo “para nós
foi feito por Deus sabedoria, e justiça e santificação e redenção”. 1ª
Coríntios 1:30.
Vemos assim que se para os judeus o Sábado era um sinal de
lealdade ao Criador e Santificador, com mais razão o é para os cristãos, ao
terem conhecimento do papel de Cristo na Criação e na Santificação.
É lógico, pois,
concluir que a santificação do sétimo dia da semana torna esse dia, não um
simples Sábado judaico, mas, com muito mais evidência, um Sábado genuinamente
cristão.
Pr. José Carlos Costa