Um opositor aos mandamentos de Deus afirma: “O primeiro dia da semana ou domingo tomou tanta importância, pelas coisas que se deram nele, especialmente pela ressurreição de Jesus, que se tornou comum entre os apóstolos e os cristãos primitivos chamá-lo ‘dia do Senhor’. A linguagem de João ‘Eu fui arrebatado em espírito no dia do Senhor‘ (Apocalipse 1:10) revela o fato que qualquer pessoa no seu tempo, que lesse esse seu escrito saberia a que dia se referia, isto é, qual o dia que pertencia ao Senhor Jesus.”
Há nesse trecho nada menos que três afirmações destituídas de qualquer fundamento:
a) “… o domingo tomou tanta importância…”Não tomou importância nenhuma. Tanto assim que os evangelistas sinópticos, escrevendo os evangelhos depois do ano 60, mais de 30 anos após a ressurreição, referem-se ao dia meramente como “o primeiro dia da semana”, sem nenhum título de santidade, sem nenhum carácter especial. Nos escritos apostólicos não se vê esta “tanta importância” que o opositor pretende. E o mesmo João, escrevendo o seu evangelho, perto do ano 100 da nossa era, também refere o dia como sendo “o primeiro dia da semana”. Quer dizer que no fim do primeiro século, o dia não tinha a “tanta importância” que lhe atribuem.
→ E isto nos vai ser confirmado pelo pastor Albert C. Pittman: “Primitivamente reuniam-se [os cristãos] ao domingo de manhã, porque o domingo não era um dia feriado, mas sim um dia de trabalho normal como os demais… Partilhavam de uma merenda religiosa e em seguida retornavam ao seu trabalho, para os labores da semana.” – The Watchman Examiner, 25 de outubro de 1956.
b) “… se tornou comum entre os apóstolos… chamá-lo ‘dia do Senhor’.”
Aí está outra ficção. Quais apóstolos? Onde? Quando? Como se prova que tornou comum entre os apóstolos designar o domingo como o “dia do Senhor”? Apontem-se os seus escritos, por favor! Queremos provas!
c) “A linguagem de João: Eu fui arrebatado no ‘dia do Senhor’ revela o fato…”
Primeiramente o arrebatamento nada prova em favor da guarda do dia, aliás a nova versão bíblica diz “achei-me em espírito”, indicando apenas que o apóstolo teve as visões. João teve outras visões e, com relação a estas, não se menciona o dia em que ocorreram. A segunda visão deu-se em dia não especificado (Apocalipse 4:2), e o fato de um profeta ter visão em determinado dia, não significa que tal dia deva ser guardado. A santidade de um dia repousa numa base mais sólida, fundamenta-se num claro e insofismável “assim diz o Senhor”.
→ A afirmação que o “dia do Senhor” nessa passagem se refira indiscutivelmente ao primeiro dia da semana é baseada em presunção sem nenhum valor probante. O fato de em fins do segundo século da era cristã surgirem escritos aludindo ao primeiro dia da semana como sendo “dia do Senhor’, não autoriza dogmatizar que João também se referia ao domingo. Antes do ano 180 d.C., quando surgiu um falso Evangelho Segundo S. Pedro que afirmava ser o primeiro dia da semana o “dia do Senhor”, nada, absolutamente nada se pode invocar para dizer que João de referia ao domingo. O próprio Justino Mártir que alude a um costume que se implantava entre os cristãos, de se reunirem no primeiro dia da semana, ao dia, refere como “o dia do Sol” e não como o “dia do Senhor”.
A partir daqueles tempos, o título “dia do Senhor” aparece exuberantemente na literatura patrística. Mas é preciso provar que João tinha em mente o primeiro dia da semana quando escreveu “dia do Senhor”. Autoridades evangélicas afirmam que João escreveu seu evangelho depois do Apocalipse, situando-se entre 96 a 99 d.C., tais como: Albert Barnes, em suas Notas Sobre os Evangelhos, John Beatty Howell na sua tabela de datas, W. W. Rand, no Dicionário Bíblico, e comentaristas Bloomfield, Dr. Hales, Horne, Nevinse Olshausen, Williston Walker e muitos outros.
Isso é importante, pois se João, no Apocalipse, escrito antes, se refere ao domingo como o “dia do Senhor”, como então no seu evangelho, escrito posteriormente, volta a referir-se simplesmente ao “primeiro dia da semana”? (João 20:1 e 19).
→ Temos fundadas razões para crer que S. João se referia ao sábado. Porque, consoante a Bíblia, o único “dia do Senhor” que nela se menciona é o sábado. Leia-se cuidadosamente Isaías 58:13: “santo dia do Senhor“. O quarto mandamento em Êxodo 20:10 diz: “o sétimo dia é o sábado do Senhor.” Em Marcos 2:28 lemos: “O Filho do homem é Senhor até do sábado.”
E a Revista de Jovens e Adultos para Escola Dominical, editada pela Convenção Batista Brasileira, relativa ao 4.º trimestre de 1938, pág. 15, assim comenta este versículo: “… o ‘Filho do homem é Senhor do sábado (Marcos 2:28)’; isto é… o sábado é o ‘dia do Senhor’, o dia em que Ele é Senhor e pelo Seu senhorio Ele restaura o Seu dia ao seu verdadeiro desígnio.”
O discípulo amado conhecida muito bem as palavras do Decálogo (Êxodo 20:10) bem como as de Isaías (Isaías 58:13). À vista disso, não precisamos ter duvidas quanto ao dia a que ele quis referir-se quando no Apocalipse escreveu: “fui arrebatado em espírito no dia do Senhor”. Só posteriormente, com a fermentação da apostasia na igreja primitiva, é que o domingo foi tomando corpo, e a designação “dia do Senhor” lhe foi dada deliberadamente.
→ Heylin, erudito de projeção intelectual, da Igreja da Inglaterra, escritor bem informado, dá o seguinte testemunho:
“Tomai o que quiserdes, ou os pais [da igreja] ou os modernos: e não encontraremos nenhum dia do Senhor instituído por mandamento apostólico: nenhum ‘sabbath’ [dia de repouso] por eles firmados sobre o primeiro dia da semana. Vemos assim sobre que bases se assenta o dia do Senhor: primeiro sobre o costume e a consagração voluntária desse dia para reuniões religiosas; tal costume continuou favorecido pela autoridade da igreja de Deus, que tacitamente o aprovava; e finalmente foi confirmado e ratificado pelos príncipes cristãos em todos os seus impérios. E como dia de descanso dos trabalhos e abstenção dos negócios, recebeu sua maior força dos magistrados civis enquanto detinham o poder, e a seguir dos cânones, decretos de concílios, decretais dos papas, ordens de prelados de categoria quando a direção dos negócios eclesiásticos lhes era exclusivamente confiada. Estou certo de que assim não foi com o antigo sábado, o qual nem teve origem no costume – e o povo não se adiantara a ponto de dar um dia a Deus – nem exigiu qualquer favorecimento ou autoridade dos reis de Israel para ser confirmado ou ratificado. O Senhor falou que Ele queria ter um dia em sete, exactamente o sétimo dia da criação do mundo, para ser dia de repouso para todo Seu povo, e este nada mais tinha a fazer senão de boa vontade submeter-se à Sua vontade e obedecer-lhe… Assim, porém, não ocorreu no caso em tela. O dia do Senhor [domingo] não tem nenhuma ordem para que deva ser santificado; mas foi evidentemente deixado ao povo de Deus determinar este ou outro dia qualquer, para uso notório. E assim foi adoptado por eles, e tornado um dia de reunião da congregação para práticas religiosas; contudo, por trezentos anos não houve lei alguma que o impusesse aos crentes e tampouco se exigia a cessação do trabalho ou de negócios seculares nesse dia.” – Dr. Peter Heylin, em History of the Sabbath, 2.ª parte, capítulos I e III, seção 12.
→ “Quando os antigos pais da Igreja falam do dia do Senhor, eles, às vezes, talvez por comparação, o liguem ao dia de repouso; porém jamais encontramos, anterior à conversação de Constantino, uma citação proibitória de qualquer trabalho ou ocupação no mencionado dia; e se houve alguma, em grande medida se trata de coisas sem importância, pelas razões que apresentavam.” – Smith’s Dictionary of the Bible, pág. 593.
→ Depois de tudo isto, ainda que se pudesse provar (o que é absolutamente impossível) que João tivera a visão num primeiro dia da semana, isto em nada altera a observância do sétimo dia da semana, pois não tem relação alguma com o dia do repouso do cristão, e muito menos se destina a abolir o sábado do Decálogo.
A. B. Christianini, Subtilezas do Erro, 2.ª ed., 1981, pág. 201.