2 de outubro de 2012

O Sábado Cristão



“Porque em seis dias fez o SENHOR os céus e a terra, o mar e tudo que neles há, e ao sétimo dia descansou; portanto abençoou o SENHOR o dia do sábado, e o santificou.”
Êxodo 20:11
A trajectória da vida humana é assinalada por dias, meses e anos, que ininterruptamente se sucedem em obediência a inalteráveis fenómenos da Natureza.
O dia corresponde ao intervalo gasto pela Terra a dar uma volta completa sobre o seu eixo; o mês, primitivamente mês lunar, corresponde ao intervalo de tempo decorrido entre duas luas novas sucessivas; o ano corresponde ao tempo que a Terra leva a efectuar uma revolução completa em torno do Sol.
Mas temos ainda a semana, cuja divisão em sete dias não corresponde a nenhum fenómeno natural actualmente em curso. A sua origem encontra-se apenas no facto registado na Bíblia Sagrada de que Deus criou a Terra em seis dias e no sétimo dia descansou.
É isso, precisamente, o que lemos em Génesis 2:2-3: “E havendo Deus acabado no dia sétimo a obra que fizera, descansou no sétimo dia de toda a sua obra, que tinha feito. E abençoou Deus o dia sétimo, e o santificou; porque nele descansou de toda a sua obra que Deus criara e fizera.”
A santificação do Sábado tem pois a sua origem muito antes do aparecimento dos Israelitas e da proclamação do Decálogo. Com efeito, a vida de Abraão, o antepassado dos judeus, e a chagada ao monte Sinais, com a recepção do Decálogo, só ocorreram, respectivamente, cerca 2000 a 2500 depois da instituição do Sábado.
A este propósito é digno de nota que antes de os Israelitas chegarem ao Sinai, já Deus tinha começado a alimentar o povo providenciando-lhes o maná durante os primeiros dias da semana, com porção dobrada na Sexta-feira, dado que no sétimo dia nada encontrariam, pois que, como lhe declarou Moisés: “E ele disse-lhes: Isto é o que o SENHOR tem dito: Amanhã é repouso, o santo sábado do SENHOR; o que quiserdes cozer no forno, cozei-o, e o que quiserdes cozer em água, cozei-o em água; e tudo o que sobejar, guardai para vós até amanhã.” Êxodo 16:23.
Dias depois, no Monte Sinai, Deus entregou ao povo, por meio de Moisés, as duas tábuas da Lei, com os Dez Mandamentos. O quarto mandamento reza assim: “Lembra-te do dia do sábado, para o santificar. Seis dias trabalharás, e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do SENHOR teu Deus; não farás nenhuma obra, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o teu estrangeiro, que está dentro das tuas portas. Porque em seis dias fez o SENHOR os céus e a terra, o mar e tudo que neles há, e ao sétimo dia descansou; portanto abençoou o SENHOR o dia do sábado, e o santificou.” Êxodo 20:8-11.
Como acabámos de ler, na própria redacção do mandamento é dada a razão para a observância do Sábado: “Porque em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há, e ao sétimo dia descansou; portanto abençoou o Senhor o dia do Sábado e o santificou.”
A observância do Sábado devia constituir, para todos quantos se mantivessem leais ao Senhor, um sinal, não só de que, de acordo com o mandamento, O reconheciam como Criador, mas também como Santificador das suas vidas.
Essa realidade encontra-se explicitada em termos, como estes: “Tu, pois, fala aos filhos de Israel, dizendo: Certamente guardareis meus sábados; porquanto isso é um sinal entre mim e vós nas vossas gerações; para que saibais que eu sou o SENHOR, que vos santifica.” Êxodo 31:13.
“E também lhes dei os meus sábados, para que servissem de sinal entre mim e eles; para que soubessem que eu sou o SENHOR que os santifica.” Ezequiel 20:12.
E tudo permaneceu nestes termos até à prometida vinda do Messias. E qual foi a atitude de Jesus para com a santificação do Sábado?
Num caso concreto, lemos: “E, chegando a Nazaré, onde fora criado, entrou num dia de sábado, segundo o seu costume, na sinagoga, e levantou-se para ler.” Lucas 4:16.
Durante o Seu ministério, afirmou o Mestre:Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas: não vim ab-rogar, mas cumprir.”  (gr. pleroo, completar, aperfeiçoar o sentido do seu cumprimento, como se deduz dos versículos seguintes relativos a vários mandamentos). Mateus 5:17. Quando os Seus inimigos O censuravam de que Ele transgredeiu o Sábado, Jesus limitava-Se a salientar o verdadeiro espírito em que o Sábado devia ser observado, rejeitando apenas as tradições inibitivas e por vezes absurdas com que sobrecarregavam a santificação desse dia, o que O levou a fazer-lhes a lancinante pergunta: “Por que transgredis vós também o mandamento de Deus pela vossa tradição.” Mateus 15:3
Concluído o ministério público e depois da Sua morte na cruz do Calvário, refer o evangelista Lucas que as mulheres que tinham vindo com Ele da Galileia, “no Sábado repousaram, conforme o mandamento”. Lucas 23:66. Este versículo revela três factos importantes: primeiro, que Jesus não mudou para outro dia a observância do Sábado; segundo, que as pessoas que mais de perto O seguiram continuaram a guardar o Sábado depois da Sua morte; terceiro, que Lucas, ao escrever o seu evangelho por volta dos anos sessenta, ainda considerava que era “conforme o mandamento” a guarda do sétimo dia da semana.
Cerca do ano 50, quando na sua segunda viagem missionária o apóstolo Paulo chegou a Filipos, lemos que “no dia de Sábado saímos fora das portas, para a beira do rio, onde julgávamos ter lugar para oração; e, assentando-nos, falámos às mulheres que ali se ajuntaram”. Actos 16:13 (Note-se que a expressão “ a um lugar onde pensávamos que os judeus costumavam ir orar”, introduzida em algumas versões modernas da Bíblia, não corresponde ao original grego, onde a palavra judeus não aparece, nem no textus receptus nem nas suas numerosas variantes gregas.)
Por outro lado, o próprio Jesus previa que pouco antes da destruição de Jerusalém, ocorrida no ano 70, os Seus discípulos ainda continuariam a guardar o Sábado, pois os exortou: “Orai para que a vossa fuga não aconteça no Inverno nem no Sábado.” Mateus 24:20.
Finalmente, já no fim do século I, o apóstolo João afirma, em Apocalipse 1:10: “Eu fui arrebatado em espírito no dia do Senhor.” Algumas versões, ao traduzirem “dia do Senhor” por Domingo, fazem crer que o dia do Senhor é o primeiro dia da semana, quando na própria Bíblia se afirma que o dia do Senhor é o sétimo dia da semana. Os seguintes textos batam para disso nos convencermos. Segundo o quarto mandamento, “o sétimo dia é o Sábado do Senhor teu Deus” (Êxodo 20:10). Mais tarde, lemos em Isaías 58:13: “Se desviares o teu pé do sábado, de fazeres a tua vontade no meu santo dia, e chamares ao sábado deleitoso, e o santo dia do SENHOR, digno de honra, e o honrares não seguindo os teus caminhos, nem pretendendo fazer a tua própria vontade, nem falares as tuas próprias palavras.” E, por fim, o próprio Jesus declarou: “O Filho do homem até do Sábado é Senhor.” Mateus 12:8
Vimos assim, durante a dispensação judaica, a guarda do Sábado seria um sinal de obediência ao Deus Criador e Santificador. Será que isso se aplicava apenas aos judeus?
Respondemos que se isso se aplicava, com muito mais razão se aplica aos cristãos, porque estes sabem algo que os judeus ignoravam.
Com efeito, o divino agente da Criação foi o próprio Senhor Jesus: “NO princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.  Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez.” João 1:1-3 “N´Ele (Cristo) foram criadas todas as coisas que há nos Céus e na Terra, visíveis e invisíveis. …Tudo foi criado por Ele e para Ele.”
“ Porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades. Tudo foi criado por ele e para ele.” Colossenses 1:16.
“A quem (Deus a Seu Filho) constituiu herdeiro de tudo, por quem fez também o mundo.” Hebreus 1:2
Por outro lado, na Sua oração sacerdotal, rogou Jesus ao Pai: “Santifica-os na tua verdade; a tua palavra é a verdade. Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo. E por eles me santifico a mim mesmo, para que também eles sejam santificados na verdade.” João 17: 17-19.
“E por isso também Jesus, para santificar o povo pelo seu próprio sangue, padeceu fora da porta.” Hebreus 13:12. Por fim, lemos também que Jesus Cristo “para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça e santificação e redenção”. 1ª Coríntios 1:30.
Vemos assim que se para os judeus o Sábado era um sinal de lealdade ao Criador e Santificador, com mais razão o é para os cristãos, ao terem conhecimento do papel de Cristo na Criação e na Santificação.
 É lógico, pois, concluir que a santificação do sétimo dia da semana torna esse dia, não um simples Sábado judaico, mas, com muito mais evidência, um Sábado genuinamente cristão.
 Pr. José Carlos Costa