4 de outubro de 2011

LIVRE PARA ESCOLHER

Perguntas:
Fomos totalmente corrompidos pelo pecado?
Como ficou o nosso livre arbítrio?
Temos, ainda, capacidade para escolher entre o bem e o mal?

Na verdade, o tema sobre o efeito do pecado sobre nós, e sobre a natureza do livre arbítrio tem sido estudado e discutido há séculos, sem uma conclusão unânime. Vou partilhar alguns conceitos para estimular o vosso pensamento. Quero iniciar com um paradoxo: A Bíblia afirma que temos livre arbítrio, mas ensina que somos escravos do pecado. Considerem este paradoxo e pense sobre ele.

1. Escravizados pelo pecado – A queda de Adão e Eva alterou radicalmente a natureza humana. O coração, centro racional e volitivo do ser humano, foi corrompido: “O coração é mais enganoso que qualquer outra coisa e a sua doença é incurável.

Quem é capaz de o compreender? (Jer. 17:9). O dano foi irreparável; os seres humanos não são apenas incapazes de se compreenderem, também se enganam uns aos outros. Nenhuma dimensão da natureza humana ficou livre do toque do pecado; assim, ninguém é justo (Rom. 3:10) ou naturalmente busca a Deus (Sal. 53:2,3; Ef. 2:1-3).

O pecado é uma realidade humana. Isaías escreveu: “Somos como o impuro – todos nós! Todos os nossos
actos de justiça são como trapo imundo. Murchamos como folhas, e como o vento as nossas iniquidades nos levam para longe.” (Is. 64:6); até os melhores seres humanos estão contaminados com o nosso estado pecaminoso.

Há uma inimizade natural contra Deus no coração humano que nos incapacita de procurar e de fazer o bem, ou de nos submetermos à Sua vontade (Rom. 8:7).

Somos controlados pelos desejos pecaminosos e egoístas da nossa natureza caída (Rom. 8:6-8). A situação é desesperadora porque não há nada que possamos fazer para mudar essa realidade (Jer. 13:23). Os seres humanos vivem sob o domínio do pecado, governados por um déspota e incapazes de fazer o que, talvez, gostaríamos de fazer (Rom. 6:16; cf. 7:18-23). E o livre arbítrio?

2. A situação do Livre Arbítrio – Permitam-me dar uma definição de livre arbítrio: é o poder de escolha, independente de condições e forças internas ou externas as quais não podemos controlar.

Se, é verdade que somos escravizados pelo pecado, então, é difícil falar sobre liberdade de escolha. Mas, se este é realmente o caso, é impossível falar da nossa responsabilidade sobre os nossos actos. No entanto, a doutrina bíblica de julgamento e castigo admite que tmos livre arbítrio.

Podemos argumentar que o pecado não obliterou a imagem de Deus em nós e, portanto, temos livre arbítrio (Rom. 3:23). Se ele faz parte da imagem de Deus e da nossa humanidade, então ainda o temos. Isto, porém, deve ser bem compreendido.

O livre arbítrio que temos, está deteriorado e corrompido. A pergunta agora é: quão deteriorado está ele?
Deixem-me sugerir algo: O pecado mudou a ênfase da função do livre arbítrio, das decisões altruístas que beneficiavam os outros, para a autopreservação. A situação é tal que não há nada que possamos fazer a respeito. O livre arbítrio ainda está sob o poder do pecado!

3. Deus Connosco – Se o livre arbítrio é a ferramenta para actualizar o meu egoísmo e a minha corrupção, então não é livre coisa nenhuma, e a questão de sermos responsáveis pelos nossos actos não foi resolvida. Como saímos desse dilema? “Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor!” (Rom. 7:25; cf. 7:23).

Após a queda, o Filho de Deus não nos abandonou (Apoc. 13:8). Desde aquele momento Deus está a trabalhar no coração humano, convida cada indivíduo para a verdadeira liberdade do poder do pecado.

Por meio do trabalho do Espírito, Deus tem criado nos corações humanos o desejo e a disposição de escolher o bem. Essa graça divina invade o planeta, toma a iniciativa, alcança cada indivíduo (João 1:9), e desperta o livre arbítrio, capacitando os seres humanos a escolher a Cristo ou a continuarem a ser escravos do pecado, que é a nossa tendência natural.

Citações de E.G.White:"Falta-te uma coisa", disse Jesus. "Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no Céu; e vem, e segue-Me." Mar. 10:21. Cristo leu no coração do príncipe. Uma só coisa lhe faltava, mas essa era um princípio vital. Carecia do amor de Deus na alma. Essa falta, a menos que fosse suprida, demonstrar-se-ia fatal para ele; toda a sua natureza se corromperia. Com a condescendência, fortalecer-se-ia o egoísmo. Para que recebesse o amor de Deus, deveria ser subjugado seu supremo amor do próprio eu.
Cristo submeteu esse homem a uma prova. Chamou-o a escolher entre o tesouro celestial e a mundana grandeza. Era-lhe assegurado o tesouro celeste, caso seguisse a Cristo. Devia, porém, render o próprio eu; entregar a vontade à direção de Cristo.
As palavras de Jesus ao príncipe representavam em verdade o convite: "Escolhei hoje a quem sirvais." Jos. 24:15. A escolha foi deixada ao seu arbítrio. Jesus estava sequioso de sua conversão. Mostrara-lhe o foco infeccioso no caráter, e com que profundo interesse observava o resultado, ao pesar o jovem a proposta! Se decidisse seguir a Cristo, deveria em tudo obedecer-Lhe as palavras. Deveria dar as costas a seus ambiciosos projetos. Com que vivo, ansioso anelo, com que sede da alma, contemplava o Salvador o moço, esperando que cedesse ao convite do Espírito Santo!”
Desejado de Todas as Nações, p. Pág. 520

“Paulo declara: "Estou crucificado com Cristo". Gál. 2:20. Nada há mais difícil que a crucifixão da vontade. Cristo foi tentado em todos os pontos como nós; mas Sua vontade foi sempre conservada ao lado da vontade de Deus. Na Sua humanidade, Ele tinha o mesmo livre-arbítrio que tinha Adão no Éden. Poderia ter cedido à tentação como Adão o fez. E Adão, crendo em Deus e sendo praticante de Sua palavra, poderia haver resistido à tentação como Cristo resistiu. Houvesse Cristo querido, e haveria ordenado às pedras que se transformassem em pão. Poderia haver-Se atirado do pináculo do templo. Poderia haver cedido à tentação de Satanás de cair a seus pés e adorá-lo, ao usurpador do mundo. Mas em cada ponto Ele enfrentou o tentador com um "Está escrito". Sua vontade estava em perfeita obediência à vontade de Deus, e a vontade de Deus foi revelada em toda a Sua vida. Fazia parte de Seu ser.”
A NOSSA ALTA VOCAÇÃO, Meditações de 1962, 11 de Abril, p. 105.

Esse silencioso trabalho do Espírito torna-nos responsáveis pelas nossas decisões.Verdadeira liberdade há somente em Cristo.