Gálatas 2:16 - "Sabendo, contudo, que o homem não é justificado por obras da lei e sim mediante a fé em Jesus Cristo, também temos crido em Jesus Cristo, para que fôssemos justificados pela fé em Cristo, e não por obras da lei, pois, por obras da lei, ninguém será justificado."
Paulo como que franze o cenho, olhando para Pedro e os demais apóstolos e discípulos, usando de sua fina dialéctica, mostra-lhes o poder do evangelho.
Circuncisão era uma exigência da Lei Cerimonial, necessária antes de Cristo. Mas após a morte do Senhor, cumprir esse ritual era buscar justificação pelas obras; por isso Paulo rebateu essa posição, pois o necessário agora era demonstrar e exercer fé no sacrifício de Jesus, e nada mais. Querer, portanto, praticar esse ritual depois que foi cancelado, era tentar justificar a si próprio, o que contraditava o Evangelho de Jesus.
Por isso Paulo enfatizava: "Por obras da lei ninguém será justificado." Corretíssimo. A Lei Cerimonial não se compunha somente do dogma da circuncisão, mas de uma infinidade de cerimónias; porém, o problema na ordem do dia é ela. O foco principal discorrido entre Paulo e os demais, é a circuncisão comentada na epístola.
Gálatas 2:21 - "Não anulo a graça de Deus, porque, se a justiça provém da lei, segue-se que Cristo morreu inutilmente."
Antes do advento do Messias, Deus dera aos judeus, em especial, um ritual maravilhoso. Um conjunto de cerimónias, acompanhado de variadas ordenanças. Sua obrigação era exigível, pois todo o cerimonial apontava para Jesus. Era portanto necessário até que Ele viesse. Vindo porém o Filho de Deus, todo aquele cerimonial, embora belo e requerido, tornara-se inútil, pois era sombra de Jesus (Hebreus 10:1). Paulo por sua vez, compreendeu assim, aceitou o fato e colocou-o em prática. Por isso, indignou-se, ao ver, agora, novamente os discípulos voltarem a circuncidar-se.
Mais irritado ficou, ao notar os próprios apóstolos presenciarem essa disposição de suas ovelhas e nada fazerem. Permaneciam inertes. Daí causar, em Paulo, repulsa tal que levou a repreender não somente os discípulos mas também a Pedro. Paulo não concordava de modo algum, com a atitude daqueles homens que tiveram repetidas vezes o esclarecimento do plano de salvação. Um plano tão detalhado, com o seu cumprimento na morte vicária de Jesus, voltar agora aos rituais abolidos. E se essas práticas pudessem justificar o ofertante, então Jesus teria morrido em vão, asseverava Paulo.
Ressaltando que a "lei" focada é sem dúvida nenhuma a Lei Cerimonial, pois tudo está exatamente dentro do mesmo fim explicativo de Paulo, da sequência do pensamento discorrido por ele no capítulo 2. Por isso não há por que isolá-lo. Isolando-o, perderá seu sentido real. Destruirá o pensamento proposto e ardorosamente defendido por Paulo.
Gálatas 3:10 - "Todos aqueles, pois, que são das obras da lei estão debaixo da maldição; porque está escrito: Maldito todo aquele que não permanece em todas as cousas escritas no livro da lei, para praticá-las."
Se tivéssemos aberto a Bíblia agora, tomando este versículo separado, lendo-o, e em seguida fechando-a, certamente iríamos interpreta-la de maneira errônea. Mas infelizmente é dessa forma que a mensagem do apóstolo Paulo é estudada por muitos. Servindo-se deste versículo, muitos pregam inverdades e escrevem grosseiras falsidades, enganando muita gente sincera.
1.º - Quem pratica ou permanece em "todas cousas escritas no livro da lei" está sob maldição. Logicamente não poderá ser a Lei Moral ou os Dez Mandamentos, que a Bíblia nos mostra sem deixar qualquer dúvida. As Escrituras deixam bem claro que os Dez Mandamentos são eternos e não mudam. E estes mesmos Dez Mandamentos entregues a Moisés no monte Sinai foram divididos sabiamente em duas partes pelo Seu Criador.
Os quatro primeiros dizem respeito à nossa obrigação para com Deus, e os seis restantes, para com o nosso próximo. Assim que, amar a Deus de todo coração, de toda a alma e entendimento, é cumprir os primeiros Quatro Mandamentos da primeira tábua de pedra. E amar nossos semelhantes como a nós mesmos é cumprir os Seis Mandamentos restantes na segunda tábua de pedra. Portanto se isso é maldição, pedimos-lhe para afirmar: é irracional, incabível, insuportável e inverosímil.
2.º - Essa lei que Paulo menciona foi escrita em um livro. Portanto, só isso bastaria para os sinceros crentes compreenderem que essa lei focada pelo apóstolo é a Lei Cerimonial, haja vista que os Dez Mandamentos foram escritos pelo próprio Deus e em pedras (Êxodo 31:18). Ora, pedra é granito, livro é pergaminho, pele de animal e casca de madeira. Por isso mesmo é bastante diferente. Ademais, quem escreveu essa lei insistentemente abordada em Gálatas, não foi Deus, e sim Moisés, é o que descobrimos na leitura de Deuteronómio 31:24, que diz: "Tendo Moisés acabado de escrever, integralmente, as palavras desta lei num livro..."
Gálatas 4:5 - "Para remir os que estavam debaixo da lei, a fim de recebermos a adopção de filhos."
A Lei Cerimonial apontava para Cristo como afirma Paulo, e Cristo veio exatamente para tomar o lugar da oferta que era morta no ritual da manhã e da tarde, pelo pecado. (Êxodo 29:38 a 41; Isaías 1:13; Malaquias 2:8 e 9). Ele acabou com todos os símbolos que apontavam para Sua obra redentora. Por isso recebemos a "adopção de filhos". Fomos precipitados pelo pecado, perdemos a condição de filhos; entretanto agora, arrancados das garras de Satanás, fomos "adoptados" por Cristo, pelo Seu sangue e sacrifício na cruz do Calvário. Paulo procurava insistentemente mostrar aos gálatas que, com a vinda do Messias Jesus, o homem não podia ser salvo sob o judaísmo, escorado na Lei Cerimonial.
Gálatas 4:9 e 10 - "Mas agora, conhecemos a Deus, ou antes, sendo conhecidos de Deus, como estais voltando outra vez, a esses rudimentos fracos e pobres, aos quais de novo quereis servir? Guardais dias, e meses e tempos, e anos."
Após um logo estudo sobre as diferenças entre as Lei Moral e Cerimonial, temos certeza absoluta onde encaixar e enquadrar "esses rudimentos fracos e pobres." Entretanto deixaremos bem gravado que a "lei" enfocada novamente por Paulo, é aquela que a Bíblia nos diz ser: Lei Cerimonial, porque:
1.º - Na sequência do pensamento de Paulo está se mostrando a inutilidade daquelas cerimónias introduzidas pelos judaizantes em sua ausência. Diz que é maldito (Gálatas 3:10) todo aquele que praticar aquelas obras, depois que se tornaram obsoletas. Por outro lado, na Lei Moral, não existem cerimónias. Pelo contrário Ela enobrece o homem, moralizando-o, daí não conter maldição.
2.º - Menciona Paulo que a Lei Cerimonial foi escrita em um livro (Gálatas 3:10), ao passo que a Lei Moral foi escrita em blocos de pedra (Êxodo 31:18).
3.º - Diz Paulo que a Lei Cerimonial tinha um propósito: mostrar a obra redentora de Cristo. E isso não pode ser requerido da Lei Moral. Nos Dez Mandamentos não há ordem para circuncidar, nem matar animais, ou outro ritual qualquer, os quais simbolizavam e apontavam a obra de expiação de Jesus.
4.º - Ninguém será maldito por guardar a Lei Moral; pelo contrário, ela ajuda o homem a tornar-se elevado, nobre e a ter bons princípios. A Lei do Senhor (Dez Mandamentos) é perfeita (Salmo 19:7).
5.º - A Lei Moral não tem "rudimentos", e sim "Mandamentos" (Salmo 119:34 a 36). Em Romanos 7:12: "Por conseguinte, a Lei é santa; e o Mandamento santo, e justo, e bom."
Fica por conseguinte, claríssimo que a "lei" de "rudimentos fracos e pobres" jamais pode ser a Lei Moral, que é enaltecida por Paulo, e que mesmo a fé não pode anular (Romanos 3:31). "Pelo contrário, a Bíblia diz que os Dez Mandamentos e o testemunho de Jesus são requisitos, características, para distinguir os filhos de Deus, nos momentos finais deste mundo. (Apocalipse 12:17 e Apocalipse 14:12)."
6.º - Portanto a Lei Cerimonial é que se enquadra no texto, pois ela, sim tem "rudimentos", e estes são comprovadamente, "fracos e pobres", foram e são impotentes para justificar. Cumpriram sua missão e pronto. Acabou. E note o paradoxo, foram anulados pela fé em Cristo.
7.º - A Lei Moral não exige a guarda de "dias" e sim de "um" dia, ordenado por Deus - o Sábado - memorial eterno do Seu poder Criador.
8.º - Na lei Cerimonial havia sim "dias", "meses" e "anos". Eram sete festas anuais, consideradas feriados altamente solenes, são elas:
Estas festas se davam no decorrer do ano judaico. Eram datas fixas em dias móveis. Por exemplo, data fixa quer dizer: um dia de determinado mês. Dia móvel indica que esse dia podia cair em uma segunda, quarta, quinta, sábado, etc. (Assim como o nosso sete de setembro, que é feriado nacional, não cai continuamente no mesmo dia da semana, porém é uma data fixa - sete de setembro). Eram "dias" guardados com tanta solenidade pelos judeus que se assemelhavam ao sábado do sétimo dia da semana, porque, naqueles "dias" em que caíam tais festas, toda a nação parava. [Veja também em Guiados Para Vencer I: Comparando a Lei Moral e a Lei Cerimonial]
Os afazeres quotidianos e seculares findavam, semelhante ao que faziam durante o Sábado do Senhor. Aliás esses "dias" eram também chamados de sábados (Isaías 1:13 e 14; Oseias 2:11). A páscoa ocorrida na semana em que Cristo foi crucificado, coincidiu com o começo do dia de Sábado do Sétimo dia da semana; por isso foi "grande aquele Sábado" (João 19:31). Era o sábado cerimonial, dentro do Sábado Moral dos Dez Mandamentos.
Assim que, os gálatas guardavam "dias" (eram esses feriados), "meses" (porque eram meses fixos), e "anos" (durante todos os anos, até a morte de Jesus - Hebreus 10:1). Exatamente como enfatizou Paulo aos gálatas, que retornavam ao judaísmo, empurrados pelos professores judaizantes.
Portanto nada mais claro e lógico que a "lei" insistentemente abordada por Paulo aos gálatas não é outra senão a Lei Cerimonial. É o que diz a Bíblia. Resta de sua parte a decisão para aceitar.
Lourenço Silva Gonzalez, Assim Diz o Senhor, 3.ª ed., 1986.