“Estas seis coisas aborrece o Senhor, e a sétima a sua alma
abomina: olhos altivos, a língua mentirosa, e mãos que derramam sangue
inocente, e coração que maquina pensamentos viciosos, e pés que se apressam a
correr para o mal, e testemunha falsa que profere mentiras, e o que semeia
contendas entre irmãos” – Provérbios 6.16.
Deus odeia toda a maldade que gera a morte, mas detesta a
maledicência. Ele execra a calúnia porque nasce no coração de lacaios, de
medíocres, que só desopilam o baço quando arranham a reputação de alguém. O
caluniador crava suas unhas na vida das pessoas que admira, e não nota a
rejeição que provoca no coração de Deus.
O maledicente fuça a intimidade dos outros; é hiena com fome
de carniça. Alimenta-se de notícias mal contadas, de frases retalhadas, de
conversas insinuadas. Contenta-se em sussurrar. Aumenta, nunca inventa; sabe
que inventar é arriscado e distorcer, seguro. Infame, arrasta-se em penumbras.
Escorregadio, detesta a transparência dos cristais. Exangue, prefere o lusco-fusco
impreciso dos crepúsculos. Sugere a dúvida com leviandade e se cala para o siso
que produziria o bem. Saliva na iminente derrocada de pessoas que inveja.
Satisfeito, celebra o envenenamento que matou o afeto que admira. Desdenha do
Livro dos livros: “Não se alegre quando o seu inimigo cair, nem exulte o seu
coração quando ele tropeçar…”.
O caluniador precisa de cúmplices; forma quadrilha para
roubar nome. Amparado por asseclas de coração minguado, pinga veneno nas
notícias duvidosas. Depois, desaparece. Basta-lhe esperar que as informações
suspeitosas se espalhem pela boca rancorosa dos medíocres que lhe rodeiam. As
maquinações da maldade não carecem de sua supervisão. Nunca falta gente baixa,
gente que se deleita em ver uma biografia jogada na sarjeta.
A língua é um fogo. Muitas vezes incandescida pelo inferno,
produz um mundo de iniquidade. Só precisa de uma fagulha para incendiar o curso
de uma vida inteira. A língua maldosa faz perguntas capciosas. Sem intenção de
ouvir, seu segredo é deixar no ar pontos de interrogação: “Será?”; “Foi assim
mesmo?” O caluniador sabe oscilar, sordidamente, entre a piedade e a detração.
Com a mesma língua bendiz a Deus e amaldiçoa a história de homens e mulheres,
feitos à semelhança de Deus. Muitas vezes não consegue destruir os atos, que
são objetivamente observados; parte então para questionar as intenções,
subjetivas. Julga e sentencia sem qualquer parâmetro senão a sua imundície
interior.
Quando Davi pecou, foi-lhe dado o direito de escolher a
punição que sofreria. “Prefiro cair nas mãos do Senhor, pois grande é a sua
misericórdia, a cair nas mãos dos homens”. Comentando essa passagem, o padre António
Vieira afirmou: “O juízo dos homens é mais temeroso do que o juízo de Deus;
porque Deus julga com entendimento, os homens julgam com a vontade”. Verdade! A
vontade do fofoqueiro está indisposta. Duvidará sempre, seu juízo vem maculado
com a peçonha que desfigura homens e mulheres em serpentes.
O despeitado que semeia contendas deve lembrar Provérbios: “As
palavras do caluniador são como petiscos deliciosos; descem saborosos até o
íntimo. Como uma camada de esmalte sobre um vaso de barro, os lábios amistosos
podem ocultar um coração mau. Quem odeia disfarça suas intenções com lábios,
mas no coração abriga a falsidade. Embora a sua conversa seja mansa, não
acredite nele, pois o seu coração está cheio de maldade. Ele pode fingir e
esconder o seu ódio, mas a maldade será exposta em público. Quem faz uma cova,
nela cairá; se alguém rola uma pedra, esta rolará sobre ele.”
Por Ricardo Gondim